A Dispensação do Pacto - Moisés Bezerril

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    PACTOA Dispensao do

  • Projeto Os Puritanos apresenta:Srie Artigos Digitais

    A Dispensao do PactoPor Moiss Bezerril

    Primeira Edio Abril, 2013

    Editor Responsvel:Manoel Canuto

    Projeto Grfico e Editorao Eletrnica:Heraldo Almeida | [email protected]

    Projeto Os Puritanos/ClireRua So Joo, 473 So Jos Recife-PE Brasil

    CEP 50.020-150 Fone 81 3223.3642web: ospuritanos.org

  • Sumrio

    A DISPENSAO DO PACTO ...................................4

    O PACTO COM ADO .............................................7

    O PACTO COM NO ..............................................30

    O PACTO COM ABRAO .......................................32

    O PACTO DO SINAI ..............................................36

    A NOVA ALIANA ................................................47

    BIBLIOGRAFIA ......................................................54

  • A Dispensao do Pacto

    As igrejas reformadas so caracteristicamente conhe-cidas pela sua Teologia dos Pactos. Mas, que pactos so esses? Quantos pactos fez Deus para a vida eterna do ho-mem? Qual a diferena essencial entre tais pactos? Quais as consequncias sobre a viso do organismo das Escri-turas Sagradas se eu no tiver um correto conhecimento de tais pactos? So essas perguntas que nos dispomos a responder nesse pequeno tratado de teologia, tendo em vista que em sua maioria os crentes esto confusos quanto a este tema.

    Antes de iniciarmos nossa reflexo sobre os pactos pre-cisamos entender o que pretendo dizer com as palavras DISPENSAO e PACTO.

    A palavra dispensao neste trabalho tem um signi-ficado puramente bblico, o qual podemos encontrar nos textos de Ef 1:10; I Tm 1:4; Lc 16:2-4. A ideia princi-pal desta palavra de uma administrao. Este termo tambm muito usado para descrever uma ideia de mordomia, e este o sentido que empregaremos du-rante toda a exposio do nosso tema. Portanto, quan-

  • 5A Dispensao do Pacto

    do falamos em Dispensao do Pacto, estamos falan-do sobre a maneira como Deus distribuiu os seus dons e suas bnos de salvao durante toda a histria da humanidade, desde os dias de Ado at os nossos dias. O desenvolvimento do nosso tema parte de uma ideia bblica de que toda a histria da salvao do homem nasce a partir de um pacto que Deus fez com Ado, e a partir da essa histria contada como uma adminis-trao das bnos deste pacto durante todas as pocas de existncia do homem sobre a terra.

    Mas, o que seria na verdade um pacto? Um pacto um contrato firmado entre duas pessoas que podem es-tar num mesmo p de igualdade ou no. Nesse contrato as duas pessoas esto obrigadas por uma lei a cumprir suas partes no contrato. O contrato possui recompensa aos cumpridores e ao mesmo tempo punio para os infratores da lei do contrato. Se h uma lei neste con-trato, ento h tambm uma condio a ser cumprida dentro do mesmo. O que devemos esclarecer antes de qualquer explanao do assunto que h uma gran-de diferena entre um pacto feito entre dois homens e um pacto feito entre Deus e o homem. Os homens es-to num mesmo p de igualdade, mas nunca estaro numa igualdade com Deus (BERKHOF). Isto influencia diretamente na natureza do pacto feito entre Deus e o homem. Deus e o homem nunca so apresentados na Bblia como partes iguais num contrato, mas sempre todos os pactos entre estas duas partes, dos quais to-mamos conhecimento na Palavra de Deus, so sempre de iniciativa divina e so sempre impostos por Deus ao homem, pois Ele soberano sobre toda vida humana e sempre tem o direito de impor Suas condies ao ho-mem (a Parbola da Vinha), a fim de que, atravs do cumprimento de tais condies o homem obtenha Seu favor e tudo seja convergido para Sua glria. Isso nos

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    leva concluso que num pacto firmado entre Deus e o homem, sempre Deus quem estabelece os termos do contrato, e ao homem compete apenas o cumprimento de tais termos. Portanto, um pacto entre Deus e o ho-mem sempre diferente de um pacto feito entre dois homens.

    Um pacto proveniente da parte de Deus para com suas criaturas sempre fruto da Sua graa (Agostinho), pois essa ideia de pacto sempre implica em Deus se rebaixar ao nvel do homem como seu amigo para oferecer-lhe sempre um caminho de felicidade eterna, sendo nisso glorificado. A deciso de uma relao pactual com o ho-mem nasce nos decretos da Divindade, portanto pura graa. Essa relao pactual entre Deus e o homem para garantir-lhe a vida eterna se faz necessria por causa da grande distncia entre os dois. O homem nunca po-deria ter um relacionamento mais profundo com Deus se no fosse por meio de um pacto, pois ele no Deus, nem faz parte da Divindade. Assim sendo, o homem ja-mais tem relao com Deus de forma direta como Jesus e o Esprito Santo tm, pois o homem homem e Deus Deus. Entre a criatura e o Criador existem diferen-as que somente podem ser superadas, num relaciona-mento, atravs de um pacto.

  • O PACTO COM ADO

    Entendemos pelo estudo da revelao bblica que Deus somente fez dois pactos de vida eterna para a huma-nidade (o que concluiremos mais tarde que trata-se apenas de um). O primeiro pacto chamado pela teo-logia de Pacto das Obras, pois nele o homem teria que fazer algo para conquistar a vida eterna. Esse pacto nitidamente percebido nas palavras de Gnesis 2:17. A obra que Ado teria que realizar era apenas obede-cer ordem do Senhor. A palavra MORTE neste texto se refere ao seu sentido mais amplo, por outro lado, pela obedincia de Ado, a VIDA seria em seu sentido mais profundo: vida eterna. A vida eterna, bem como a morte eterna estavam condicionalmente no poder de Ado. Ado era sem pecado e tinha certa comunho com Deus. Sua relao pessoal com Deus era mais di-reta do que depois da sua queda. No havia necessida-de de mediador. Ado era seu prprio mediador, pois ele, sem pecado, tinha aptido exigida pela Lei divina para entrar num relacionamento pactual com Deus. A pergunta que s vezes surge : Por que Deus, ao criar o homem, no lhe deu logo a garantia de vida eterna sem

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    que houvesse a necessidade de um pacto? H razes que somente Deus conhece. Muitas respostas tm sido discutidas e apresentadas a esse problema. A primeira concluso que podemos tirar em nossa nfima razo que aprouve a Deus, em sua soberania decidir garantir a vida eterna ao homem por meio de um pacto.

    A segunda razo pela qual Deus firmou o direito da vida eterna ao homem na base de um pacto foi a garantia de ter criado um ser livre (no no sentido da livre vontade de Deus, ou seja, Ado gozava de uma liberdade, mas nunca era to livre o quanto Deus em sua santa von-tade). Criando o homem como um ser livre, e tendo este o poder de escolher o contrrio da ordem de Deus, Ele estaria tambm criando a possibilidade de uma queda, logo, o prprio Deus assegurou o direito da vida eter-na na base de um pacto. Terceiro, como diz Lee Irons Imagine o que aconteceria se Deus no tivesse entrado em acordo com Ado, mas simplesmente tivesse exigido obedincia perptua sem uma promessa de vida eterna. S haveria duas opes para ele. Ou ele poderia deso-bedecer a Deus e entrar em juzo (morte) ou continuar simplesmente obedecendo. Mas a qualquer momento ele poderia ser capaz de cair. Ele poderia permanecer nesse estado de integridade indefinidamente. Mas isso seria tudo. Mesmo depois de milhes de anos, ele ainda estaria sob teste. Ele jamais poderia ter um relaciona-mento confirmado com uma vida qual ele jamais per-deria o direito. No haveria perspectivas seguras para Ado! Somente o infinito potencial para cair. Pergunto: Que livre arbtrio teria Ado se ao ser criado lhe fos-se imposta uma condio de vida eterna podando-lhe toda possibilidade de escolha? E que Pacto seria esse se no h condies de escolha? Ado seria apenas uma mquina incapaz de se relacionar com Deus, pois toda relao pessoal implica em uso da livre volio.

  • 9O Pacto com Ado

    Algo muito importante ainda precisa ser comentado. Devemos comear perguntando: Como entender que Ado era livre em sua escolha no Pacto das Obras e ao mesmo tempo Deus continuar sendo o Soberano Senhor do Universo que tudo decreta como lhe apraz e ainda assim no violentar a livre escolha do homem, quando as Escrituras nos ensinam que at mesmo os nossos atos fazem parte dos decretos de Deus? A verdade que esse assunto tem sido discutido durante um bom tempo na histria da Igreja Crist. Ao que parece, a soluo para este problema tem sido de uma dificuldade to extre-ma que os maiores estudiosos dessa questo tm dado um carter de mistrio a esse problema. O problema gira em torno do ensino bblico de que Deus decreta to-das as coisas e que at as nossas aes so provenientes da Sua vontade e que, mesmo cumprindo tudo o que Deus decretou, ns somos responsveis pelas nossas aes. Parece formar em nossa mente uma tremenda confuso, pois racionalmente o homem seria uma sim-ples mquina que apenas cumpre o comando que lhe imposto. De fato, essas verdades ensinadas na Pala-vra de Deus no so de uma dimenso racional, por isso no conseguimos alcanar o pleno entendimento dessas coisas porque elas pertencem s profundezas do conhecimento de Deus, e no do conhecimento do ho-mem. O que tem sido revelado ao homem sobre essas verdades apenas que Deus decreta todas as coisas no universo e ainda assim ns somos responsveis pelos nossos atos. No podemos resistir, nem tampouco fugir desse ensino revelado.

    Mas como entender a liberdade de Ado? Podemos dizer que a maior prova da liberdade de Ado no Pacto das Obras fora a sua culpa pela desobedincia. A culpa condenatria s se estabelece se admitirmos certo grau de liberdade existente no infrator. Que Deus seria esse

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    que condenasse o homem sem que este no tivesse um mnimo de liberdade que justificasse a sua culpa? A ira de Deus que recai sobre o pecador no conta apenas o pecado de Ado, mas tambm os pecados atuais do pecador. Essa ira somente cabvel se for entendida luz de uma soberba obstinada, com liberdade para praticar a vontade da carne. Do contrrio, Deus esta-ria condenando no um ser livre para pecar, mas sim, uma mquina programada para o pecado. Certamente esse no o Deus da revelao bblica, pois o prprio Jesus contou muitas parbolas que ensinam claramen-te a responsabilidade humana, bem como a soberania de Deus ordenando todas as coisas sobre a vida do ho-mem.

    Mas a questo mais difcil no saber se o homem pos-sui liberdade, porque isso claramente ensinado na Palavra de Deus, e sim saber que tipo de liberdade o homem possui. A isso respondo que essa liberdade to distinta do nosso conceito comum de liberdade que jamais poderamos dissec-la racionalmente. Alm do mais, o fato de no conseguirmos entend-la no significa que ela no exista, pois o ensino est claro na Palavra de Deus. Mas o que ainda falta ser dito sobre essa liberdade que ela se refere a uma relao judicial entre o homem e Deus e por este motivo se torna to di-fcil de alcanarmos um pleno entendimento dessa ver-dade. Nunca sabemos perfeitamente o que Deus pensa de nosso pecado, apenas o que diz a Sua Palavra, mas devemos nos lembrar que Deus um Ser pessoal e que ns estamos nos relacionando com Ele durante todos os momentos de nossa vida, e que essa relao pessoal nunca igual um relacionamento entre dois seres hu-manos, portanto o conceito de liberdade numa relao entre o homem e Deus nunca poder ser reduzido ao conceito de liberdade entre dois seres humanos, por-

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    O Pacto com Ado

    que so duas dimenses extremamente difceis de se-rem conciliadas racionalmente. Todos concordam que algumas coisas nesse mundo fsico, que pertencem s relaes humanas, so por natureza muito difceis de serem compreendidas, como, por exemplo, a questo do sofrimento humano, mas ningum fala em negar--lhes sua realidade. Tanto mais difcil ainda seria com-preender algo das relaes divinas. Lembremo-nos, pois, que a relao judicial entre o homem e Deus e no pode ser entendida enquanto s pudermos com-preender as relaes entre os homens. De algo temos certeza: h um certo tipo de liberdade no homem, tipo esse que somente Deus conhece; liberdade essa que nem fere a soberania de Deus e nem tampouco torna Deus culpado de nossos atos, mas que nos torna com-pletamente responsveis por nossas aes. Essa dificul-dade se estabelece tambm por causa da nossa fraca concepo da Justia Divina.

    Jamais poderemos entender perfeitamente nesta vida a ideia de justia de Deus, por ser algo de uma dimen-so muito distante do nosso pequeno mundo racional, pois o que temos em mente mais concretamente ape-nas o conceito de justia humana e por conta disso, ja-mais atingiremos a plena compreenso das relaes judiciais entre Deus e o homem. Pode ser que at com-preendamos as coisas do mundo dos homens, mas as coisas de Deus pertencem a um mundo misterioso que s prescrutado pelo Seu Esprito(I Co 2:10-11), e que a pequena compreenso que temos dessas coisas s po-demos alcanar pela f, e no pela razo, e ainda nos falta o verdadeiro conhecimento que teremos somen-te quando estivermos com o Senhor na glria. Se no admitirmos, ainda fraca que seja nossa compreenso, que h uma certa liberdade de natureza transcenden-tal dada ao homem no Pacto das obras, nunca pode-

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    remos aceitar o ensino de um pacto, pois julgaramos assim que Deus estaria fazendo uma brincadeira com Ado. No pode haver um pacto se no h possibilidade de escolha. Explicaremos melhor essa questo quando estivermos tratando do Pacto da Redeno.

    Algo muito importante que precisa ser mencionado aqui a presena da Lei de Deus que estava presente no Pacto das Obras. Essa Lei era, na verdade, os princ-pios da vontade divina para uma relao pactual e vital que Deus sempre impe para o relacionamento entre Ele e o homem pecador. Ningum pode viver em comu-nho com Deus ignorando essa Lei. A diferena da Lei no pacto com Ado era que essa Lei resumia todas as exigncias divinas em um s mandamento: a obedin-cia a uma ordem. Devemos perguntar: Por que a Lei j se faz presente no Pacto das Obras se o homem ainda no havia sido encerrado debaixo da condio miser-vel de pecado? Essa pergunta comumente feita por aqueles que entendem erroneamente que a histria da salvao comea com a presena do pecado. Mas a his-tria da salvao no comea com o pecado, e sim com a Lei de Deus. Creio haver duas razes pelas quais Deus imps Sua Lei como condio no Pacto. A primeira a presena do mal no den e o poder de livre escolha que foi dado ao homem no Pacto.

    A segunda, que Deus s pode se relacionar com Suas criaturas, mesmo sem pecado, atravs de uma lei que regule o relacionamento entre duas partes to distintas como so Deus e o homem. Estes dois fatores indicam, logicamente, a possibilidade de uma queda, ou seja, de uma m escolha por parte do homem, que resultaria na corrupo da natureza humana. Mas, me parece que at agora ainda no respondemos a pergunta: Para que ento Deus imps Sua Lei no Pacto das Obras? A

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    resposta esta pergunta certamente dever ser encon-trada na doutrina dos Decretos de Deus, mas se fsse-mos tentar dar uma resposta, por mais difcil que fosse a tentativa, chegaramos concluso de que Deus, por ter criado um ser livre, diante da possibilidade de uma queda, estabeleceu a Sua Lei no Pacto para testar e ex-por os desgnios do corao do homem (como uma pro-va de amor por parte do homem ) como um ser livre e para garantir a relao de vida entre um Deus santssi-mo e justo e um ser criado livre com uma possibilidade de cair em pecado. Ora, como seria estabelecida uma relao de vida entre o Deus que toda santidade e jus-tia, de natureza infinitamente superior ao homem, e o homem, uma criatura, com a possibilidade de queda e infinitamente inferior ao seu Criador, se no fossem dadas as condies de serem satisfeitas as exigncias divinas para essa relao? Essas condies resumem--se exatamente nas exigncias que Deus faz em Sua Lei, para o relacionamento entre Ele e Suas criaturas, o que nada mais nada menos do que a dispensao do Seu carter e dos Seus atributos. Isto significa que para en-trar numa relao com Deus, Ele mesmo exige condi-es de carter igual ao Seu, o que est revelado em sua Lei. Sem essas condies ningum pode se relacionar com Deus. Se no forem cumpridas, o homem entra-r numa relao penal com Deus por no ter atingido Suas exigncias legais.

    Devemos acrescentar que no era o mero cumprimen-to de uma lei que fora dado como garantia de vida eter-na ao homem. Lembremo-nos que mesmo antes dessa relao pactual entre Deus e Ado, a Lei de Deus esta-va escrita no corao de Ado, de tal maneira que ele sabia muito bem como agradar seu Criador. Antes do pacto, a desobedincia dessa Lei lhe traria punies, mas o cumprimento da mesma no lhe assegurava ne-

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    nhuma recompensa (BERKHOF). Ento, quando foi que a Lei se tornou condio para se obter a vida eterna? Nossa resposta a esta indagao que antes do pacto firmado com Ado nenhuma lei houvera sido dada ao homem como condio de se obter a vida eterna. A Lei tornou-se condio de vida eterna apenas quando Deus decidiu soberanamente estabelecer um pacto entre Ele e o homem. Eis a o incio da Graa. Isso quer dizer que mesmo havendo uma lei interior no corao de Ado em sua relao natural com Deus antes do pacto, a obe-dincia a essa lei no conduzia o homem condio de vida eterna at que fosse firmada a relao pactual en-tre Deus e o homem. A vida eterna s foi possvel quan-do Deus quis torn-la efetiva por meio de um pacto. A partir da j podemos perceber que a Lei, em si mesma, no foi dada como a fonte da vida eterna, pois ela apenas um meio no pacto para viabilizar as relaes do pacto, a dispensao da Graa de Deus. Deus em Sua graa que torna efetiva a possibilidade de vida eterna. Como podemos entender, esse o nico momento na histria da salvao do homem em que a obedincia Lei imposta ao homem como condio para se obter a vida eterna, pois Deus tinha como objetivo atravs do cumprimento da Lei assegurar a vida eterna ao cum-pridor, mas aps a queda essa mesma Lei s pode ga-rantir ao homem uma coisa: sua condenao, (Gl 3:13). Devemos reconhecer, afinal, que era a satisfao da Lei de Deus que garantiria o direito vida eterna a Ado, mas no significa que aps a queda essa mesma rela-o pactual do homem com a Lei de Deus lhe assegura-r esse direito, pois a continuidade dessa relao legal de pacto de obras no existe mais na esfera humana, e sim na esfera divina. Essa relao legal que conduz vida eterna, por causa da queda, foi transferida para um outro pacto, no mais com o homem no sentido de

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    que ele cumpra no pacto sua parte numa relao legal com Deus, mas agora essa mesma relao legal esta-belecida com Jesus, o Fiador daquele antigo pacto de obras.

    Uma pergunta que devemos fazer antes de prosseguir-mos : Quais as vantagens ou promessas daquele anti-go pacto feito com Ado? Com certeza no seria apenas aquela relao natural de comunho direta que havia entre Ado e Deus, pois Deus no entraria num pacto com Ado para lhe oferecer o que ele j possua. Paulo chama a Jesus de Segundo Ado, dando-nos a enten-der que o que Jesus conquistou por Sua obedincia foi aquilo que Ado havia perdido: o direito vida eterna (Rm 5:12-21). A condio de vida natural de Ado no poderia ser a recompensa do pacto, nem tampouco a bno conquistada por Jesus ao cumprir as exigncias da Lei. Aquela condio de vida natural de Ado ainda no era o gozo de uma vida eterna plena, pois Ado ainda era passivo de cometer pecado e consequente-mente morrer; sua vida natural ainda estava limitada pela possibilidade de pecar e se tornar sujeito morte; ele tambm ainda no desfrutava da santidade em sua plenitude, nem tampouco de vida eterna plena, eis por-que a presena da Lei. Assim conclumos que a vida de Ado antes da queda ainda no era a vida eterna prometida no pacto, pois nesta no h nenhuma dessas limitaes da vida natural de Ado.

    Perguntaramos: No cu ainda haver necessidade da Lei no relacionamento entre Deus e Suas criaturas glo-rificadas? A resposta sim. Em nenhum momento a criatura pode se relacionar com o Seu Criador sem ser por meio de uma Lei, pois doutra forma a criatura esta-ria em p de igualdade com o seu Criador. Somente as pessoas da Trindade se relacionam sem uma Lei, pois

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    elas so iguais em natureza, atributos e propsitos. A Trindade a essncia da prpria Lei. Certamente que a natureza da Lei no cu a mesma, mas sem dvida suas exigncias sobre as criaturas glorificadas sero di-ferentes das exigncias sobre as criaturas pecadoras. A concluso inevitvel : a Lei eterna.

    Duas verdades ainda precisam ser entendidas sobre o Pacto das Obras: primeiro que esse pacto era condi-cional, pois Ado ainda possua o poder de livre esco-lha, podendo decidir entre obedecer e desobedecer. As condies do pacto estavam ao seu alcance. Para Ado e toda a sua posteridade o resultado do pacto era incer-to, podendo ele cumprir ou no sua parte no pacto; se-gundo, que Ado era o representante de toda a raa humana. Sua escolha seria a nossa escolha, seu desti-no nosso destino, sua vida nossa vida, sua morte nos-sa morte. Alguns perguntam: Se Ado tivesse cumprido sua parte no Pacto das Obras isso significa que toda a descendncia humana teria vida eterna? Esta pergunta exige uma difcil resposta porque trata-se de uma per-gunta condicional e refere-se aos mais profundos de-sgnios de Deus. Certamente que nos apressaramos em dar uma resposta lgica a esta questo afirmando que logicamente todo gnero humano teria vida eterna, mas isso criaria um problema maior, pois implicaria numa mudana nos planos de Deus que fora condicio-nada pela escolha de Ado, o que resultaria numa ame-aa integridade de Sua soberania. Mas, o que dificul-ta-nos a responder que sabemos que Deus houvera escolhido alguns para a vida eterna antes da fundao do mundo(Ef 1:4), mas nada nos foi revelado sobre um possvel plano de redeno de toda humanidade base-ado numa escolha melhor que Ado fizesse. Por outro lado, no podemos inferir que Ado no pudesse fazer outra escolha pois isso redundaria numa perda de li-

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    berdade do homem no pacto, o que tornaria a ideia de um pacto sem sentido e a sua condenao sem culpa e sem razo. praticamente impossvel transpor esse se e dar uma resposta a esta indagao. O motivo principal de no podermos responder a tais questes porque nosso raciocnio no trabalha sem as razes. Aprouve a Deus no revel-las, por isso no podemos dar respostas racionais. Precisamos ainda entender como nos tornamos por natureza filhos da ira (Ef 2:3) por causa do pecado de Ado.

    O texto de Rm 5:12-19 afirma que a morte fruto do primeiro pecado que entrou no mundo e essa morte passou a todos os homens porque todos pecaram. A pergunta que geralmente se faz : Como eu posso ser responsvel e ser punido pelo pecado que no foi o meu? Na verdade, eu no sou punido pelo pecado de Ado, mas sim pelo meu pecado em Ado, pois estvamos em Ado no Pacto, na queda e na sua morte ( I Co 15:22). Logo, seu pecado nosso pecado, sua transgresso nossa transgresso. Esse pecado ao qual Paulo se refere a nossa transgresso em Ado, e no nossos pecados dirios, nem tampouco se refere morte como casti-go pelos nossos pecados cometidos por termos seguido o exemplo de Ado. Em Rm 5:14, Paulo afirma que a morte sobreveio at mesmo sobre aqueles que no pecaram semelhana de Ado. Isso quer dizer que a morte foi imposta como castigo sobre aqueles que no pecaram como Ado (as crianas). Mas, ento como que se tornaram sujeitas morte se isto era um castigo imposto Ado? Em Rm 5:16 Paulo afirma que porque o julgamento derivou de uma s ofensa para a condena-o, e ainda no verso 18 diz por uma s ofensa veio o juzo sobre todos os homens para a condenao. Se o homem no trouxesse j em si mesmo a culpa da transgresso de Ado ele s morreria a partir da idade

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    em que comeasse a pecar, pois Rm 5:12 afirma clara-mente que a morte fruto do pecado. Isto nos levaria concluso que no haveria mortalidade infantil, pois as crianas de peito no cometem pecado, no entanto a prpria experincia nos mostra que a morte sobreveio a elas tambm. Mas se no pecam, por qual pecado morrem? Pelo pecado de Ado, (I Co 15:22). O chama-do Pecado Original a culpa de Ado que contada como nossa culpa. essa culpa que torna o homem fi-lho da ira, e o leva a condenao. Mas o que Paulo real-mente quer dizer com a expresso por natureza filhos da ira? Calvino ensina que a verdadeira interpretao deste texto que todos os homens so culpados desde o nascimento, at que sejam redimidos por Cristo. Assim foram todos os homens excelentes, que hoje esto na Igreja. O que certamente natural ao homem, isso lhe original. Ento aqui, Paulo est dizendo que a ira de Deus est sobre o homem desde seu nascimento. Onde h a ira de Deus h o pecado, pois Deus no condena inocentes. Nascemos com o pecado como a serpente nasce com o seu veneno, diz Calvino, em seu coment-rio aos Efsios. Algum poderia muito bem perguntar: Ento isso quer dizer que at os eleitos nascem debaixo da ira de Deus? Se sim, quando ento um eleito liber-to dessa culpa? A isto podemos responder com as pala-vras do prprio Joo Calvino quando nos mostra que Paulo est falando no somente dos gentios debaixo da ira, mas tambm dos judeus, que eram considerados a semente bendita: Judeus e gentios tm a mesma natu-reza, em nada diferem, a no ser que, atravs da graa da promessa Deus os livrou da destruio (judeus), mas isso um remdio que veio depois da enfermidade. (COMENTRIO DE CALVINO SOBRE EFSIOS).

    Na verdade, os eleitos so predestinados para o chama-do e para a justificao. Esse o caminho de todos os

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    eleitos de Deus, (Rm 8:29-30). Mesmo eleito para a salva-o, o homem nasce debaixo da ira at que a sua culpa seja retirada quando da sua justificao pela f em Cris-to Jesus, (Ef. 2:11-13). Paulo era eleito (Gl 1:15,16), mas ele tambm se incluiu entre os que nasceram sob a ira de Deus. Poderamos ento dizer que as crianas elei-tas tambm nascem condenadas? E se vierem a mor-rer? A isto respondemos que os infantes eleitos no so salvos pela justificao pela f, pois as mesmas no po-dem exercer f como um adulto, mas se Deus as elegeu, certamente que Ele providenciou um meio de salvao pela justia de Cristo para os que no podem respon-der vocao externa. Devemos nos lembrar que a cul-pa no um processo herdado por gerao natural, de pai para filho, mas consiste em uma relao judicial na qual Deus v no homem essa culpa que o torna merece-dor de condenao, pois Ado era o nosso representan-te no Pacto. Isto diferente quando falamos da segunda consequncia do pecado que a corrupo da natureza humana, ou seja, a perda da justia original. Enquanto a culpa pela transgresso de Ado -nos imputada judi-cialmente, a corrupo da nossa natureza -nos trans-mitida naturalmente, pois a natureza de Ado tornou--se corrompida e consequentemente essa natureza foi passada por gerao natural a toda sua descendncia. Quando digo gerao natural no quero dizer o mes-mo que transmisso biolgica, pois o que deve ser leva-do em conta sobre essa gerao natural da corrupo humana que a transmisso da pecaminosidade de um homem para outro permanece um mistrio. Ningum sabe como o poder do pecado passa para os nossos cor-pos tornando-os corruptveis. O que sabemos que esse poder de corrupo espiritual e terrivelmente malig-no, e que est impregnado em toda a raa humana, sen-do transmitida de pais para filhos, (Gn 5:3). O fato de

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    homem ser originalmente (a partir do seu nascimento) e naturalmente pecador no deve nos levar concluso que esta origem pecaminosa tenha sido obra de Deus, pois essa natureza de culpa e corrupo no consiste da criao original de Deus, mas foi pervertida pelo mal. Portanto, Deus no tem nenhuma participao na natu-reza pecaminosa do homem.

    O Pacto das Obras firmado com o homem termina com a trgica desobedincia de Ado Lei de Deus. Por con-sequncia, essa mesma Lei o encerra debaixo da morte e da condenao, e com ele toda a sua posteridade, (Gl 3:22). Mas o que nos consola que a humanidade em sua totalidade no foi abandonada merc desta terr-vel condio de pecado e morte.

    As consequncias imediatas da queda, no pacto das obras, foram: 1) a perda das promessas de vida eterna; 2) o ganho da morte eterna como punio, e 3) a perda da justia original. Tudo isto redundando num estado de pecado e misria sobre a natureza humana que im-possibilita o homem de entrar num segundo pacto de obras com Deus, pois Ele no suporta o pecado e no faz aliana com pecador. A natureza de Ado e toda a sua posteridade foi mudada, tornando-se corrupta, caindo no desagrado de Deus, e neste estado, com sua natureza cada, Ado se tornou totalmente impossibili-tado de cumprir uma segunda vez a Lei de Deus. Se no estado de justia original havia a incerteza da escolha de Ado, depois da queda s h uma certeza em relao ao homem cado: sua queda constante. Se Deus fizesse um segundo pacto de obras com o homem cado, sa-beramos com toda certeza o resultado iminente des-se pacto: outra queda. Assim, estaramos condenados para sempre, sem nenhuma perspectiva de salvao. Pergunto: Quem voc escolheria para lhe representar

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    num segundo pacto que determinasse o seu destino eterno: Um pecador ou algum sem pecado? Algum que por natureza peca ou algum que no pode pecar? Algum que inspira incerteza de escolha e desconfian-a ou algum que com toda certeza cumprir as exign-cias do pacto? Algum que j falhou a primeira vez ou algum em quem no h a possibilidade de falha? Cer-tamente que Deus em Seu amor, misericrdia e sabedo-ria no deixou a humanidade completamente merc de seus pecados, nem tampouco fez um segundo pacto de obras com Ado, nem com sua posteridade cada.

    Eis a terrvel pergunta: Quem representar novamente o homem, desta vez cado, num segundo pacto para a sua prpria salvao? Agora, alm de ter de cumprir a exigncia da Lei divina que no foi cumprida (aquela obedincia exigida de Ado), o homem ter que ser pe-nalizado para que haja plena satisfao ou quitao da falta cometida. Quem dentre os homens poder cum-prir tais exigncias do pacto? A resposta que entre os homens ningum foi achado, pois agora todos so rus, no h inocentes, ningum capaz de cumprir as exigncias da Lei de Deus. Ningum pode se apresen-tar perante a Lei para representar e contrair a culpa dos demais porque todos so culpados e esto debaixo dessa Lei como condenados. No h quem possa esca-par, (Rm 3:9-18). Para satisfazer a essa Lei precisamos de algum que no deve nada Lei, pois do contrrio a Lei tambm o aprisiona. Precisamos de algum sem culpa, inocente e capaz de cumprir todas as exigncias dessa Lei. A soluo para este problema foi encontrado somente na prpria Divindade. A verdade que Deus no pode encontrar ningum dentre os homens para um segundo pacto, em vez disso, aquele mesmo pacto no qual Ado falhou, Deus fez com Seu Filho Jesus Cris-to (Gn 3:15; Lc 22:29; Hb 10:5-7; Jo 17:6,9,24).

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    Uma das maiores provas do pacto, que podemos en-contrar nas pginas do Antigo Testamento, logo aps a queda do homem, a presena do sangue no culto dos santos do Antigo Testamento. Todo derramamento de sangue no culto dos crentes do Velho Testamento nos indica que a salvao no est mais ao alcance do ho-mem atravs de um pacto de obras, mas que o homem deve olhar para Deus e para o sangue do Cordeiro que foi morto antes da fundao do mundo. Sangue exa-tamente o oposto de obras. Sangue indica f em algo que est fora de ns, pois em pecado, o homem no tem mais justia em si mesmo. Sangue significa uma 1 co-bertura para o nosso pecado, mas uma cobertura que no est em ns. Essa cobertura providenciada pelo prprio Deus, na justia de Seu Filho amado. Derrama-mento de sangue significa derramamento de uma vida em prol de outra vida, o que contrasta fortemente com o pacto das obras. Sangue significa que Deus providen-ciou a vida de Seu Filho Jesus para ser dada em favor do pecador que j no pode fazer mais nada em prol de si mesmo, ( Jo 10:11,15,17,18 Esse pacto chamado pela teologia de Pacto da Redeno, pois consiste ainda na-quele antigo pacto admico, agora feito com Jesus para a redeno dos eleitos. Nesse pacto, Jesus considera-do o Segundo Ado, pois Deus ainda continua exigindo os mesmos requisitos da Lei, os quais foram exigidos de Ado, mas com um acrscimo: o castigo pela deso-bedincia de Ado. A dvida contrada pelo pecado de Ado s poderia ser quitada pela condenao eterna do gnero humano. Se isso fosse cumprido, ainda ficava faltando o cumprimento da Lei, pois s o pagamento da dvida no garante o direito vida eterna, pois a quita-o do dbito de Ado somente representa o reparo de um dano, e no a conquista de uma recompensa. Para isto, a Lei que recompensa ainda precisa ser cumprida,

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    O Pacto com Ado

    e no somente satisfeita numa relao penal. Jesus no somente satisfez a Lei no que ela exigia para a quitao da dvida de Ado, mas tambm cumpriu toda a Lei de Deus por ser ele perfeito. Certamente, se ele apenas so-fresse o castigo que estava reservado para ns, conse-quentemente, seramos colocados de volta na condio natural de Ado antes da queda, para que, ainda num pacto de obras, cumprssemos a Lei para obtermos a vida eterna.

    Para Jesus certamente esse era um pacto de obras, pois eram necessrias duas obedincias por parte dele: uma obedincia perfeita Lei de Deus, cumprindo todas as Suas exigncias que foram feitas a Ado, a qual era a garantia da recompensa da vida eterna, e a outra obe-dincia foi aquela que ele, passivamente, se submeteu morte como o castigo pela desobedincia de Ado. Assim, somente Deus pode resolver o problema do ho-mem. O Pacto da Redeno a maior prova do amor e da misericrdia de Deus pelo homem. Foi Deus, a parte ofendida no pacto, quem proveu o meio para a recon-ciliao dEle com o ofensor. Isto, humanamente falan-do, invivel no mundo dos homens, pois compete ao ofensor expiar a sua ofensa, e no o ofendido expiar a ofensa do ofensor. necessrio lembrar que o sacrif-cio de Jesus s aceito por Deus porque antes dele pa-gar a dvida do homem, ele estava em perfeita condio de obedincia Lei de Deus, pois do contrrio, Jesus no poderia pagar a nossa dvida. Depois da queda, so-mente Jesus poderia representar o homem num pac-to com Deus, pois s ele preenche os requisitos de um Deus santssimo que exige da outra parte contratante uma justia e santidade acima da possibilidade de que-da, qualidade esta encontrada somente na Divindade. certo que sendo assim, o Pacto da Redeno (entre o Pai e o Filho) no um pacto condicional, como fora

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    com Ado, quando dependia de sua obedincia sendo ele capaz de cair. Jesus sendo aquele que est acima da possibilidade da queda, pois ele o prprio Deus, garante o cumprimento de sua parte no pacto. No h outra condio, apenas a certeza da eficcia de Jesus nesse pacto de obras, levando-nos concluso de que o pacto entre o Pai e o Filho incondicional.

    Mas surge uma pergunta: Como pode haver um pacto sem direito de escolha, ou seja, como pode ser estabele-cido um pacto quando j se tem muito antes do pacto a certeza do cumprimento desse pacto? A prpria ideia de pacto, como foi exposta no incio, j no reivindica uma liberdade para escolher? Se no h a possibilidade de queda, como pode haver pacto? A resposta a essa inda-gao que o Pacto da Redeno no foi feito como um teste ou prova para levar efeito a salvao Jesus. O carter de teste no pacto somente poderia ser aplicado ao homem, o qual precisava de vida eterna e no a Je-sus. A relao pactual entre o Pai e o Filho no a mes-ma entre Deus e Ado. O sentido do Pacto da Reden-o que Deus d ao Filho a incumbncia de cumprir, o que ele faz voluntariamente, (e no de ser testado como fora Ado) as exigncias do pacto que Ado no pde cumprir. Nesse sentido o Pacto da Redeno di-ferente do Pacto Das Obras. O pacto s teria um carter de teste para Jesus se ele precisasse de salvao. Mas no Pacto da Redeno Jesus s estava adquirindo algo que era para o homem, ele apenas estava satisfazendo as exigncias de Deus que eram para o homem, e no para si. Assim, o carter de teste existente no pacto s houve no Pacto das Obras com Ado. Depois da que-da, o pacto para a salvao do homem incondicional. Essa a maior prova de que o carter de teste est ausen-te. Se o pacto incondicional, e se j dado como certo o cumprimento por parte de Cristo no pacto, ento, em

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    O Pacto com Ado

    que Ele estaria sendo testado? Alm do mais, no seria correto dizer que o Pai estava testando a integridade do Filho, pois Cristo no precisava provar nada para o Pai, com Quem ele j se relacionava na eternidade, e com Quem ele mantinha uma relao infinitamente distinta das relaes humanas. E o mais estranho ainda seria dizer que Deus estaria testando a Si mesmo, ou colocando prova a integridade da Trindade, pois O VERBO ERA DEUS (Jo 1:1).

    Poderamos dizer que a partir deste momento se d a concretizao do mistrio do decreto da eleio. Todo pacto de salvao firmado entre Deus e o homem, de-pois da queda, no tem mais aquela natureza de liber-dade existente em Ado, pois agora prevalece o cum-primento do propsito da eleio. Deus resolve eleger dentre a humanidade perdida somente alguns para a salvao, (Jo 6:39,40,44). Jesus conquistou as bnos do pacto somente para os eleitos, (Jo 17:2,6,9,19,20). H pois injustia da parte de Deus? Certamente que no! Ele teria razo suficiente para condenar a todos porque todos caram em Ado e se tornaram merecedores da ira divina, pois foi dado a Ado a liberdade de escolher, liberdade esta que foi perdida por causa de seu pecado, agora quem escolhe Deus. Se Deus no condenou todo o gnero humano foi por Sua livre graa (Rm 9, 10,11). Por isso, creio eu, que a Lei condena o homem culpado na base de uma liberdade que havia em Ado. Na ver-dade no sabemos quais os motivos que levam a Deus escolher somente alguns. O pecado no pode ser, pois todos so pecadores. A permanece o mistrio sobre o qual no podemos sequer emitir qualquer julgamento. Devemos nos lembrar que no podemos fazer confu-so entre a eleio e o Pacto da Redeno. A eleio a escolha que Deus faz das pessoas as quais Ele usou de misericrdia decretando a salvao delas. O Pacto

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    da Redeno a maneira como Deus dispensa a graa e a glria para todos os pecadores eleitos. (Berkhof) O decreto da eleio precede o Pacto da Redeno. no Pacto da Redeno que Deus concretiza a dispensao do meio que Ele decidiu resgatar os eleitos. Isto signifi-ca que muito antes da existncia do mundo que agora contemplamos, Deus havia decretado criar o homem, depois decretou permitir a queda, em seguida decretou eleger alguns e deixar outros em sua condio de con-denados e serem punidos por seus prprios pecados, e finalmente decretou prover o meio da salvao dos eleitos. O Pacto da Redeno consiste exatamente nesse meio de salvao para tais eleitos.

    Voltando ao assunto do nosso pargrafo anterior, deve-mos reconhecer que nossa relao legal com Deus no mais aquela que Ado tinha no den. O pecado nos afe-tou de tal maneira que no podemos satisfazer a vonta-de de Deus para a nossa salvao por meio de uma re-lao legal, cumprindo a Lei para obter a recompensa. Nossa relao com a Lei de Deus uma relao penal, sempre de dvida e culpa. Somente depois de Jesus ter assumido nossa pena que passamos de uma relao penal para uma relao de Graa. Assim, nossa relao com Deus no Pacto da Redeno no mais uma rela-o legal, mas uma relao de graa (Rm 4 e Gl 3), ou seja, uma relao de herdeiros do pacto, pois s Jesus conseguiu ter uma relao legal no pacto. No fomos ns, nem mesmo Ado quem conquistou as bnos do pacto, mas sim Jesus quem satisfez plenamente o cas-tigo e as exigncias do pacto. Sofrendo o castigo, Jesus nos resgatou da maldio e da condenao que sobre ns estavam impostos pela Lei de Deus por causa do nosso pecado em Ado, e cumprindo a Lei, Jesus con-quistou a mais elevada forma de vida para os eleitos de Deus. Esse o verdadeiro significado da justificao.

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    O Pacto com Ado

    Essas bnos no foram conquistadas por ns e sim herdadas, por isso somos herdeiros do pacto. Mas, por que consideramos a morte de Jesus, ou seja, uma sim-ples morte de um homem, algo correspondente ou at mesmo um superior castigo muito maior do que a nos-sa prpria condenao? Evidentemente, isto se d pelo fato de Jesus ser inocente e justo, e, muito mais ainda, por ser ele o prprio Deus, o qual trazido uma con-dio humana e castigado humilhantemente com o salrio do pecado. Como podemos imaginar Deus sen-do castigado com salrio de pecado? Quando reconhe-cemos que foi o prprio Deus que se sujeitou a tal con-dio, entendemos a seriedade com que Deus encara o pecado. Quando entendemos a seriedade do problema do pecado e quo terrvel e odioso aos olhos de Deus, conclumos que somente Deus poderia nos libertar da-quele estado de maldio sob o qual fomos encerrados.

    Parece que falamos at agora em dois pactos, mas che-gamos concluso de que estamos falando de um mes-mo pacto, ou seja, o Pacto das Obras feito com Ado, que o mesmo que foi transferido para a responsabi-lidade de Jesus e que o chamamos de Pacto da Reden-o. Para ns, aquele antigo pacto admico no mais um pacto de obras, mas agora em Jesus ele tornou-se o Pacto da Graa, (Ef 2:9-10). Mas afinal, o que o Pacto da Graa? Na verdade, no estamos falando de um ou-tro pacto. O Pacto da Graa ainda aquele antigo pacto de vida eterna firmado com Ado, mas com o seguinte aspecto: nesse pacto todas as bnos e recompensas no foram conquistadas pelo homem, tudo nos con-cedido de graa. Deus no exige mais nada de ns por-que Jesus j cumpriu nossa parte no pacto. Ento, s podemos chegar a uma concluso: o Pacto da Graa a dispensao das bnos oferecidas a Ado no pri-meiro pacto, as quais ele no conquistou por causa da

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    queda, sendo essas mesmas bnos conquistadas por Jesus e outorgadas a ns pela f na condio de her-deiros, (Rm 8:17). O Pacto da Graa consiste ento na-quele novo relacionamento que Deus estabeleceu com o homem por meio de Jesus, no qual, o homem sendo pecador, sujeito totalmente passivo em relao sua salvao. Tudo o que diz respeito salvao do homem s possvel pela mediao de Jesus. Eis a razo por-que chamamos de Pacto da Graa, porque nele tudo de graa, somos apenas herdeiros de uma herana que nos concedida gratuitamente em Cristo. No fizemos absolutamente nada para sermos merecedores das bnos. Deus tinha todas as razes para nos condenar, pois ramos merecedores de Sua ira, dignos apenas da condenao eterna, mas o Senhor renovou eficazmen-te Seu pacto de vida eterna que tem como causa o Seu amor e misericrdia, e nos concede, novamente, agora em Cristo, o direito de vida eterna que havamos perdi-do em Ado, (I Co 15:22).

    Essas bnos conquistadas por Jesus so comunica-das a ns por meio da regenerao operada por Deus e segundo a Sua vontade, (Jo 1:13; Jo 6:44), regenerao essa que produz em ns a f, por meio da qual somos justificados, ou seja, Deus cancela nosso dbito contra-do em Ado (nossa condenao) e lana um crdito em nossa conta (a vida eterna). Essas bnos nos so comunicadas de tal maneira que somos convertidos e santificados, e temos paz com Deus, tendo a garantia de perseverarmos em toda nossa caminhada at a glria, (Jo 10:28,29; Rm 8:31:39). O que no devemos confundir a esta altura o papel da f. No somos justificados por causa da nossa f, e sim por meio da f. A f no a base da nossa justificao. Ela apenas o instrumento pelo qual Deus nos considera dignos da vida eterna. Essa f algo que provm de Deus e no est inerentemente

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    O Pacto com Ado

    no homem, (Ef 2:8). Se a f fosse a base da nossa justifi-cao, isto , se fssemos salvos por causa da nossa f, essa f seria uma obra meritria, ento a justificao seria por obras e no por f. Mas a Palavra de Deus nos ensina que s a obra de Cristo a nica obra meritria para nossa salvao, e a f, um dom dado por Deus, o meio pelo qual nos apropriamos dessa obra. Assim, todas as bnos do pacto da graa nos so dadas como ddiva e no como salrio, como se merecssemos.

  • O PACTO COM NO

    Ainda em Gnesis tomamos conhecimento de dois pac-tos: um feito com No e outro com Abrao. Esses dois pactos so em essncia o mesmo Pacto da Graa que es-tamos estudando. Esses dois pactos no so diferentes no que concerne salvao da humanidade, pois todos eles so apenas a renovao do Pacto da Graa de Gn 3:15. O culto e o mtodo de salvao desde os dias de Ado, depois da queda, so essencialmente os mesmos e pertencem ao mesmo pacto que no Novo Testamen-to chama-se Nova Aliana. A esperana era messini-ca e o culto era fundamentado to somente na eficcia do Sangue do Cordeiro que havia sido morto antes da fundao do mundo (I Pe 1:20). O prprio No fora sal-vo pela graa, pois Hb 11:7 nos revela que a maneira como No foi justificado foi simplesmente pela f, e isto como uma herana. Aqui est claro que a justificao era pela f e salvao era dom de Deus. A Igreja dessa poca era uma igreja tipicamente domstica, pois a f, o culto e a doutrina da graa davam-se numa extenso apenas de famlias. O pacto com No chamado de Pac-to da Natureza continha promessas provindas da Gra-

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    O Pacto com No

    a (Gn 9:9). Todas as bnos prometidas a No eram bnos imerecidas ao homem cado, pois s eram pos-sveis mediante a graa de Deus que em Cristo concedia esses dons aos homens. Mas o que devemos lembrar de mais importante era que o pacto com No era a manei-ra de Deus viabilizar a concretizao do Pacto da Gra-a, ou seja, o pacto que Deus fez com No j era em si o Pacto da Graa. Mas como podemos entender melhor que o Pacto da Natureza j era em si mesmo o Pacto da Graa? A verdade que a promessa de Gn 3:15 est contida no Pacto da Natureza. Como? Como j citamos anteriormente, no Pacto da Natureza estavam contidas promessas provindas da graa e que viabilizavam a concretizao do plano de redeno da humanidade. Mas, a bno maior era a promessa do messias feita em Gn 9:27. Neste texto Deus fala atravs de No que Ele habitaria nos tendas de Sem. Isto significa que Deus prometeu a Sem a bno da Sua presena no meio de seus descendentes. Mas, como pode Deus habitar entre pecadores se no for atravs do sangue do Cordeiro? Cristo a nica forma de Deus Se relacionar com peca-dores. Assim, Deus est trazendo memria do homem a Sua proviso em relao ao problema da queda de Ado e ao problema do pecado. Sem, segundo Gn 9:27, aquele atravs de quem O Descendente de Gn 3:15 vir, ou seja, a Sem foi lembrada a soluo para a queda do homem: Jesus. Desta forma conclumos que o Pacto da Natureza nada mais que um tipo de dispensao do Pacto da Graa, pois a prpria essncia da Graa (Je-sus) est presente al. (KAISER)

  • O PACTO COM ABRAO

    O que dizer ento do Pacto Abramico? Era o pacto com Abrao um pacto diferente que Deus estava inau-gurando agora, como uma nova proposta de salvao, ou uma outra maneira de salvar o homem? Absoluta-mente no! As bnos do Pacto Abramico so, sem dvida, mais concretas do que as bnos prometidas anteriormente, mas no se pode inferir que a manei-ra de Deus salvar os crentes anteriores Abrao era diferente, nem tampouco que as promessas do pacto tambm diferiam apesar de serem reveladas mais ple-namente no Pacto Abramico, (Gl 3:17). Devemos sem-pre manter em mente que o Pacto da Graa comea a partir da queda, na promessa de Gn 3:15 e a partir dali toda a histria da salvao baseada na graa de Deus mediante Jesus Cristo. A certeza dessas verdades manifesta na vida e no culto dos crentes anteriores Abrao, (Hb 11:7). Um exemplo disso a vida e o culto da famlia de No, com a qual Deus fez manifesto um pacto de vida que era to somente uma manifestao do Pacto da Graa de Gn 3:15. Por que dizemos que em Abrao as promessas so mais concretas em relao s

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    O Pacto com Abrao

    promessas anteriores da Graa? Com certeza podemos perceber uma certa progresso na revelao da Graa Salvadora sobre o homem. De Gn 3:15 at No as pro-messas de vida eterna so as mesmas e esto firmadas sobre a mesma base que Jesus. Elas apenas no esto escrituristicamente to reveladas no Velho Testamento a ns como j esto no Novo Testamento, mas certa-mente foram reveladas a No e toda a sua famlia pois eles tinham uma Lei de culto e relacionamento com Deus pela graa, o que pode ser claramente visto na histria de No. O autor da epstola ao Hebreus afirma que No foi HERDEIRO DA JUSTIA QUE PROVM DA F, expresso esta usada para os crentes do Novo Tes-tamento em Rm 4:13,14; 8:17; Gl 3:29; 4:7. Estes textos indicam que o culto, a doutrina e a pregao sobre a salvao a mesma: s pela graa e pela f.

    No h evidncia bblica de um outro meio de salvao que no seja a Graa Salvadora em Jesus. Mas, em Abrao que Deus comea a revelar mais claramente a dimenso do Seu plano de salvao ao mundo. No Pac-to Abramico as bnos da justificao pela f, perdo e adoo na famlia de Deus so nitidamente expostas em Rm 3 e 4 e Gl 3. As bnos materiais e temporais como a terra de Cana, uma grande descendncia, a derrota dos inimigos no visavam um fim em si mes-mos, mas simbolizavam e tipificavam as bnos espi-rituais da graa(BERKHOF) que nos seriam reveladas na aliana neotestamentria, a qual a mesma aliana feita com Abrao, (Hb 11:8-10). Um outro aspecto neo-testamentrio no Pacto Abramico o sacramento da circunciso. O ritual em si no apenas uma marca carnal como a ferradura de um animal para marcar--lhe seu proprietrio. A circunciso de uma dimenso espiritual e est profundamente ligada aos elementos espirituais da f e regenerao, elementos esses da re-

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    lao do pecador com Deus. Em Rm 4:11, Paulo afir-ma que os mesmos elementos do batismo cristo so encontrados na circunciso: A JUSTIA QUE PROVM DA F. A circunciso, segundo Paulo, no era o selo de uma justia que provm de obras, mas de uma justia que provm da F. Em Rm 2:25,29, Paulo tambm ensi-na essa mesma verdade dizendo que a circunciso no um mero ritual descomprometido com as exigncias espirituais da vontade de Deus. Como o batismo cris-to, a circunciso s tem significado se estiver amar-rada satisfao da Lei de Deus, ou seja, ela no tem significado se estiver desprovida da justia exigida pela Lei de Deus, a qual s pode ser encontrada em Cristo (vs 26,29). Assim, a circunciso, em seu sentido elemen-tar significa selo de propriedade, mas em seu sentido espiritual significa regenerao e justificao pela f. Paulo confirma a vigncia daquele pacto abramico em Gl 3:15-17, mostrando aos glatas que o mtodo de salvao pela graa mediante a f dos crentes da nova aliana o mesmo mtodo do Pacto Abramico,Gl 3: 7,9,14. com Abrao que a promessa do evangelho ga-nha uma extenso maior. A graa salvadora de Deus, desde o princpio no propriedade exclusiva de Is-rael. Cristo prometido ao mundo. A BNO pro-metida era Jesus, que era a base da salvao no pacto abramico. Assim no h diferena essencial entre o Pacto Abramico e a Nova Aliana, pois os dois ofere-cem as mesmas bnos e esto firmados num nico modelo de salvao: justificao pela f - fruto do Pacto da Graa. O Evangelho, ou seja, a essncia da mensa-gem evangelstica (salvao pela graa) j era conheci-da desde os dias de Ado na forma de f em Deus e nas suas promessas para a salvao, sem a qual ningum poderia ser salvo, mas ainda no havia se tornado p-blico como no caso de Abrao, e muito mais na Nova

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    O Pacto com Abrao

    Aliana. Aprouve portanto a Deus administrar o Evan-gelho da Graa de maneira progressiva.

  • O PACTO DO SINAI

    Uma outra forma de administrao do Pacto da Graa que tem sido alvo de muita confuso o Pacto Sinatico, pacto esse feito com Moiss no Monte Sinai, quando Deus entregou-lhe a Lei em forma de pacto. Devemos ter em mente que a Lei sempre constitui a vontade de Deus para o bem de Seus filhos. Ela sempre necess-ria para o relacionamento entre Deus e suas criaturas. Estava presente no den de forma interiorizada no co-rao de Ado antes da queda, pois, como j dissemos anteriormente ele sabia muito bem como agradar seu Criador. Deus a imprimiu em seu corao. Essa mesma Lei no forava Ado a obedec-la, pois ele era um ser livre para exercer a sua vontade em relao essa Lei. Quando Deus estabeleceu o pacto com Ado, no qual Ado deveria obedecer Lei (na forma de obedincia ordem de Deus), Deus no estava apresentando algo novo, mas apenas externalizando-a como instrumento ou meio pelo qual Ado obteria a vida eterna, Lei esta que sempre esteve presente na relao entre Deus e o homem. Deus apenas quis usar a Lei como meio de tes-te para recompensar o homem. Devemos nos lembrar

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    O Pacto do Sinai

    que este foi o nico momento em que a Lei viabilizou a vida eterna numa relao direta entre o homem e Deus, mas ela no a fonte ou a origem da vida eterna. Deus a fonte da vida eterna e a quis dar por meio de um pacto. Com a queda, essa Lei interiorizada foi ofus-cada de tal maneira que se tornou ainda mais necess-rio que Deus estivesse fazendo lembrar ao homem de Sua Lei, pois somente a Lei interior (ou o senso moral no homem) no comunica mais a vontade de Deus de maneira clara, visto ter sido prejudicada pelo pecado. Desde a queda, Deus tem sempre lembrado ao homem dessa Lei, no mais para a vida eterna, pois agora so-mente Jesus a cumpre para tal objetivo, mas para um relacionamento de comunho com Ele. Podemos perce-ber a Lei de Deus tambm na vida dos descendentes de Ado, da famlia de No e em Abrao atravs de todas as ordens positivas e negativas que Deus deu queles santos do Velho Testamento (Gn 12;1; 13:14; 15:1; 15:9; 17:1; 22:2; 26:2; 26:24; 31:3; 35:11)(KAISER). Com Moi-ss, essa Lei foi tornada formalmente visvel em forma de pacto, quando Deus entregou-lhe em forma de pacto toda a Sua vontade outrora revelada aos pais.

    Pergunta-se: Por que a Lei foi dada a Moiss em for-ma de um pacto para Israel? Na verdade, a Lei sem-pre existiu como um pacto visando manter nossa co-munho com Deus. Se a observarmos, temos paz com Ele, do contrrio somos impedidos da Sua presena, at que recorramos graa do Seu perdo. Isso acontece desde os dias da Criao e sempre era bem conheci-da, antigamente, por indivduos que estavam em con-tato com a revelao. Mais tarde, tornou-se um pacto formal com uma nao. No momento do Sinai, quando esta Lei entregue a Moiss, visivelmente, em forma de um pacto, ela ter uma dupla funo: 1) Apresentar todas as exigncias de Deus para a relao entre Ele e

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    Seu povo; 2) Pregar o Evangelho por meio de leis, tipos e smbolos. De que forma pois, essa Lei pregava o Evan-gelho? Lei e Evangelho parecem duas coisas altamente contrrias, mas no so. A Lei sempre esteve a servi-o da graa. Quando Paulo a chama de PEDAGOGO (Gl 3:24) que tem a funo de conduzir os eleitos a Cristo, e que o FIM DA LEI CRISTO, (Rm 10:4), como sendo seu alvo, essa a maneira da Lei pregar o evangelho. Como algum chegaria a Cristo atravs da Lei se essa no lhe comunicasse o evangelho? Mas como isso acon-tece? A Lei pregava o evangelho quando exigia sangue para a expiao. S o Pacto da Graa exige sangue para expiar os pecados dos homens. Se o Pacto do Sinai fosse um pacto de obras, logicamente no se faria necess-rio a presena do sangue, bastavam apenas as obras. A Lei pregava o evangelho quando ela mostrava a ma-lignidade do pecado, a falncia espiritual em qualquer tentativa de justia prpria, e a tamanha condenao na qual o homem estava encerrado, de tal maneira que ele percebia a necessidade de recorrer Graa, do contrrio seria condenado pela Lei. Ela nos mostra o que Deus acha do nosso pecado e da nossa condio de pecadores. Ela decreta sobre ns um terrvel juzo de condenao e anuncia a ira de Deus sobre toda iniqui-dade, deixando-nos totalmente perdidos e sem nenhu-ma forma humana de escape. Mas, como j dissemos, se ela nos fala de DERRAMAMENTO DE SANGUE, isso quer dizer que a salvao no est nas possibilidades humanas, mas em Deus, e que o homem deve recorrer Sua graa salvadora. Se por sangue, ento por f. Se por f, ento pela graa. E se pela graa, ento essa a mesma mensagem do evangelho. Assim sendo, a Lei mostra nossa misria e nossa fraqueza para que recorramos graa salvadora encontrada somente em Cristo Jesus.

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    O Pacto do Sinai

    O Pacto do Sinai no um pacto diferente daquele feito com Abrao. Esse Pacto Sinatico consiste na renova-o da promessa feita a Abrao, contendo as mesmas exigncias e as mesmas bnos com a diferena mar-cante: o Pacto Sinatico tem um carter nacional e tor-nado mais manifesto. Sendo que esse carter nacional no garante a vida eterna a todo o podo de Israel. Como nao o povo de Israel chamado a obedecer e a des-frutar das bnos dessa obedincia, mas em relao salvao prevalece o propsito da eleio (Rm 9), e no qualquer cumprimento das condies estipuladas pela Lei. Nunca devemos pensar nas exigncias da Lei como sendo dadas exclusivamente para a salvao ou para regular somente a vida dos eleitos. No so somente os eleitos que so ordenados a obedecer. A Lei de Deus exige de todos os homens e em todas as pocas a ob-servncia da Sua vontade, mesmo dos que no foram eleitos. Mesmo aos que no foram eleitos a Lei ordena: ARREPENDEI-VOS! Deus chama um povo para cumprir Seus propsitos e faz com ele um pacto (para manter a relao espiritual) de bnos temporais. Devemos en-fatizar que embora o Pacto Sinatico, pela observncia da Lei, garanta apenas bnos temporais, nele tam-bm est contida a pregao do evangelho que garan-tir aos Israelitas a bno da salvao, mas esta salva-o no advinda como recompensa pelo cumprimento da Lei no Pacto, pois ningum pode cumpri-la, mas era exclusividade da f operada por Deus nos Seus eleitos, pois o que prevalecia sempre era o propsito da eleio da graa(Rm 4, 9; Gl 3). Assim, o Pacto sinatico no era condio dada ao homem para que ele pudesse se sal-var, mas condio para que o povo de Israel continuas-se desfrutando das bnos oferecidas no Pacto e para que enquanto observassem as condies do Pacto, pela Lei fossem os eleitos, atravs dos tipos, smbolos e or-

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    denanas, levados ao conhecimento da graa salvadora de Deus, reconhecendo suas fraquezas e recorrendo a Deus para justific-los pela f, (Hebreus 11). E os de-mais, como nao escolhida para os propsitos divinos, estivessem sempre numa boa relao com Ele. Pode-mos dizer ento que o Pacto Sinatico tem carter na-cional em relao ao povo de Israel porque Deus tinha propsitos a cumprir atravs de Israel como nao, e para isso, para que um povo pecador esteja numa re-lao com Deus faz-se sempre necessrio um pacto no qual a vontade de Deus deva ser observada e cumprida, a fim de que o relacionamento seja mantido. Essa Lei (ou os princpios espirituais do Pacto) sempre teve um carter universal, no sendo apenas as exigncias de Deus para um povo em uma poca, mas para todos os homens. Chamou-se Pacto Sinatico porque a um povo foi entregue naquele lugar (Monte Sinai) a santa, justa e perfeita vontade de Deus para ser pregada ao mundo inteiro.

    Este pacto tem sido interpretado, erroneamente, como um pacto diferente, em essncia, do Pacto da Graa. --lhe dado todo um carter de um pacto de obras devido a um fraco e superficial entendimento da funo da Lei. Entendem alguns que o Pacto Sinatico consiste num pacto inteiramente novo, no qual Deus entrega a Lei a Moiss com a finalidade de garantir a salvao queles que a cumprissem. Na verdade, este foi o entendimen-to errneo dos judeus na poca de Moiss at os dias de Paulo, que pensavam que a salvao obtinha-se pelo cumprimento da Lei, (At l5:1). Por esta razo, Paulo faz tanto contraste entre Lei e F, entre Nova Aliana e An-tiga Aliana,( Rm 4 e Gl 3). Esse contraste no deve ser entendido como se a Lei ou o Pacto Sinatico fosse algo contrrio Graa. Na mentalidade judaica dos dias de Paulo os judeus entendiam que o Pacto Sinatico era

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    O Pacto do Sinai

    um pacto diferente em essncia do Pacto da Graa, pois nem mesmo essa ideia de Graa fazia parte do cotidiano teolgico deturpado dos judeus. O contraste realmente existe na mente dos judeus que viam a Lei como o caminho da salvao em si mesmo sem a Gra-a Salvadora de Jesus. Por esse motivo, Jesus convidava vinde mim todos vs que estais cansados e sobre-carregados de esperar justificao na Lei. Paulo no contrasta a verdadeira essncia e funo da Lei com a Graa, ao contrrio, ensina ele que a Lei est a ser-vio da Graa e que essa Lei antes de tudo confirma-da pela graa e no contrastada com ela, (Rm 3:31 e Gl 3:24). O contraste que podemos perceber entre Lei e Graa no no que diz respeito ao sentido bblico de Graa e Lei, e sim no que diz respeito ao conceito err-neo judaico sobre a Lei. com essa ideia em mente que devemos olhar para o captulo 8 de Hebreus quando parece apresentar ali um contraste muito srio entre duas alianas. Devemos nos lembrar antes de qualquer tipo de abordagem quele captulo que aquela epstola destinada aos hebreus, exatamente a um povo de mentalidade judaica e que tinha em mente um pacto de obras, essencialmente distinto do Pacto da Graa, e bem distinto tambm do pacto sinatico, pois este ha-via perdido completamente o verdadeiro sentido ve-terotestamentrio para os judeus j desde os dias dos profetas, (Jr 31:31-34). H duas possibilidades de se in-terpretar Hebreus 8: uma que o autor aos Hebreus considerava aquela mentalidade rproba, (Hb 5:11-13). Por esse motivo, o autor insiste tanto em mostrar aos hebreus que aquele antigo pacto (da mentalidade judaica) estava caduco; a outra entender a palavra aliana como sinnimo de sacerdcio, o qual sendo um sacerdcio prestes a desaparecer (isto por causa da progressividade da revelao da graa, e no por causa

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    de erro no sacerdcio) tornou-se antiquado. Para esta interpretao basta lermos Hebreus 7-10. Mas o autor no est enfatizando a questo do mtodo da salvao, como se houvesse uma mudana na maneira de Deus salvar o pecador, ocorrido entre os dois pactos, e sim a questo do novo e melhor sacerdcio que cumpre--se em Jesus, bem como a concretizao das promessas, as quais no eram diferentes em substncia no verda-deiro Pacto Sinatico, mas apenas na forma, (Hb 8:2-6), pois antes eram apenas vestgios da luz da Graa, en-quanto que com a chegada do Messias, agora fulgura o Sol da Justia. (CALVINO). O autor cita a profecia de Je-remias 31:31 porque o sacerdcio est dentro do pacto, cumprindo-se a nova dispensao do pacto certamente mudar o sacerdcio, mas no a base da salvao. No nossa inteno fazer aqui um comentrio de Hb 8, o que faremos posteriormente em outro trabalho devido ao espao e natureza do tema que pretendo trabalhar.

    O que podemos ainda falar de Hebreus 8? O mais fun-damental entendimento sobre o captulo 8 de Hebreus est contido no texto de Hebreus 9:15-17. Neste texto podemos perceber claramente que o autor no est fa-lando de duas alianas ou pactos, pois h um s testa-dor e um s testamento. Assim, a nfase que o autor d s duas alianas no significa, de fato, duas alian-as, e sim uma mesma aliana, diferindo apenas as dispensaes da mesma, uma enquanto vive o testador (Velho Testamento) e a outra quando morre o testador (Novo Testamento), quando de fato, para os propsi-tos judiciais de Deus, a Lei decreta total satisfao com a obra expiatria de Cristo, e ento entra em vigor a Nova Aliana. Mas, lembremo-nos que a aliana ou pacto j estava estabelecido, aps a queda, com Cristo, e que mesmo antes da morte do testador, os herdeiros j desfrutavam da herana, pois para Deus a morte do

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    O Pacto do Sinai

    Testador era to certa que a herana j era considera-da dos herdeiros. Cristo foi o Fiador eficaz dos crentes do Velho Testamento, pois Deus no faz vista grossa ao pecado, do contrrio Ele seria contraditrio em Si mes-mo. Os pecados dos crentes no Velho Testamento eram eficazmente perdoados (Sl 32 e 51), e eles, em Cristo, to-maram posse da herana eterna. Eis porque a traduo de aliana para a palavra testamento neste texto: porque com Cristo nossa relao com Deus de her-deiros. No podemos perder de vista que um pacto (ou aliana) realmente firmado entre Deus e o homem. Seja o das Obras, da Redeno, ou da Graa, estes pac-tos sempre tiveram uma natureza de pacto. Mas, em que sentido o Pacto da Graa pode ser considerado um testamento pelo autor de Hebreus? Respondemos que o Pacto da Graa considerado testamento no sentido de ser dado como uma herana incondicional, ou uma ddiva da parte dAquele que quis dar simplesmente porque quis. Pode ser levado em conta tambm que testamento no sentido de que est estabelecido pelo eterno e imutvel decreto de Deus, no podendo ser anulado, sendo assim inviolvel; e por ltimo aspecto, testamento porque necessrio a morte do testador. A herana do Testamento j fora entregue muito antes da morte do testador, mas isso s possvel porque sua morte j contada como certa, e o testador ter que percorrer o amargo caminho da morte. As bnos do pacto, para ns so como uma herana prescrita, es-tabelecida e dada aos filhos como herdeiros. Portanto, nesse sentido, o Pacto da Graa sempre considerado um testamento.

    O ensino bblico que o Pacto Abramico jamais fora substitudo pelo Pacto Sinatico, mas continuou em vi-gor durante toda a dispensao da Lei, (Dt 1:8; Ex 32:13; Lv 26:42; Dt 4:31; Sl 105:8-10), e ainda continua em vigor

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    em nossos dias, (Gl 3:14). Paulo argumenta em Glatas 3 que Deus no mudaria a natureza essencial de uma aliana UMA VEZ CONFIRMADA.

    Uma outra concepo errnea que a Lei fora dada como um substituto da promessa. Mas essa concepo puramente farisaica. Paulo expe a natureza do Pac-to Abramico como irrevogvel, e a Lei est inserida no pacto para servir a propsitos do referido pacto (Gl 3:15-22). Assim, a Lei instrumento da Graa, e no um novo pacto como achavam os judeus, (Rm 3:31). Paulo refuta essa ideia com certa ironia em Romanos 4:14.

    Com razo diz Berkhof: certo que se o Pacto Sinatico tivesse a natureza de um pacto de obras para a salvao de Israel este pacto seria com certeza um pacto de mal-dio, e a Lei seria para Israel apenas um fator de con-denao na vida daquele povo( BERKHOF). A prpria histria nos mostra que Israel no tinha nenhuma con-dio de cumprir a Lei para obter a salvao, pois cons-tantemente estava caindo em pecado e entristecendo a Deus. (Gl 3:10,11,13; Rm 4:1-16; Rm 3:20,27,28,30). Fa-zemos ento a seguinte pergunta: Se Israel estava num pacto de obras para garantir a salvao por intermdio do cumprimento da Lei, quando ento os israelitas es-tariam salvos de fato? A resposta correta seria: quando cumprissem toda a Lei (Gl 3:10-12). Como poderia en-to o israelita ser salvo quando a Palavra de Deus nos diz que ningum capaz de cumprir toda a Lei? Alm do mais, eles jamais teriam a garantia de vida eterna pelo fato de no terem a garantia de que guardariam toda a Lei. Mas a Palavra de Deus nos ensina que a Lei foi entregue na forma de pacto para que Israel fosse abenoado e no amaldioado, (Dt 4:8)(BERKHOF). A Lei se torna maldio para aqueles que tentam obter a salvao pelas obras da Lei em si mesma, sem a Graa

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    O Pacto do Sinai

    de Cristo. Foi exatamente isso que os judeus incrdulos fizeram o tempo todo. A Lei, depois da queda, no sal-va ningum, (Gl 3:18,21), apenas aponta para as nossas iniquidades e nos declara culpados e condenados e nos avisa do caminho da graa. da graa. A graa nos jus-tifica e nos salva de tal condenao. Em nenhum mo-mento depois da queda, Deus deu ao homem a Lei para a salvao. Pois para obtermos a salvao pelas obras da Lei teramos que cumprir cabalmente todos os itens que ela exige. Ningum consegue isto, pois todos trope-am em alguma coisa e se tornam culpados. Para ser salvo pela Lei o homem precisaria ter o mais alto grau de perfeio, pois essa a condio exigida para a to-tal satisfao da Lei, condio essa possvel somente Deus. Por isso, Jesus cumpriu essa Lei em nosso lugar e assim desfrutamos da promessa (Gl 4:10,12).

    Uma das mais importantes controvrsias sobre o Pacto Sinatico seu aspecto condicional. Mas, esse aspecto condicional nunca diz respeito salvao dos israeli-tas, como se a salvao dependesse da observncia de todo sistema legal. Na verdade, o aspecto condicional no Pacto Sinatico sempre refere-se posse de bnos materiais e temporais (Ex 4:40), bem como relao de povo escolhido para representar a vontade de Deus,(Dt 28:1-14). A funo da Lei, portanto, era de conscientizar cada vez mais o pecado e ser um pedagogo que conduz o homem a Cristo, (Gl 3:24; Rm 3:21,31). Os smbolos e tipos do sacerdcio aarnico consistiam nas exign-cias de Deus em relao comunho do homem com Ele, bem como uma contnua pregao do Evangelho. Os judeus abandonaram o significado de graa em-butido em tais smbolos e tipos e consideraram a Lei em si mesma como provedora de salvao, pecado este combatido em Romanos, Glatas e Hebreus.

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    Que provas neotestamentrias ns temos sobre a sin-gularidade do Pacto? O ensino do apstolo Paulo sobre a salvao dos gentios que Deus no fez um segundo pacto com estes. Os gentios foram enxertados pela gra-a na oliveira judaica. Dois povos foram unidos pela graa num mesmo testamento(Ef 2:13-18; Rm 11:17-25). Esses eleitos gentios foram considerados co-herdeiros, membro de um mesmo corpo e co-participantes da promessa (Ef 3:6). So considerados tambm descen-dentes de Abrao (Gl 3:16-19), e herdeiros da promessa (Gl 3:29),e membros da famlia de Deus (Ef 2:19). Com o pensamento de Paulo em mente, conclumos pois que a evangelizao dos gentios apenas o cumprimento da promessa feita a Abrao(Gn 12:3), pois muito antes de Abrao Deus j havia includo os gentios no pacto. Por este motivo, Jesus afirmava que tinha outras ove-lhas (Jo 10:16) e que a salvao vinha dos judeus (Jo 4:22).(KAISER)

  • A NOVA ALIANA

    Quando Jesus e os apstolos falam de uma Nova Aliana, eles no esto enfatizando algo diferente da promessa feita a Abrao, Rm 4:13,14; Gl 3:18,22. A Nova Aliana o maravilhoso cumprimento da promessa feita pri-meiramente em Gn 3:15 e mais claramente Abrao, ou seja, a plenitude da promessa na qual esperavam verdadeiramente os crentes do Velho Testamento, pois Paulo ensina que aos crentes do Velho Testamento foi anunciado o Evangelho, (Gl 3:8). Isso quer dizer que eles tinham a mesma f e esperana de salvao pela graa e no pelas obras. Os crentes do Velho Testamento no esperavam a plenitude da Nova Aliana na expectati-va de serem salvos, pois os mesmos j desfrutavam da salvao no sentido mais pleno que nos oferecida no Novo Testamento (Rm 4:11; Gl 3:6-9, 14). A Nova Alian-a o prprio corpo representado pelas sombras dos tipos e smbolos que eram figuras da realidade trazida com a Nova Aliana.

    A natureza nova da aliana no diz respeito alguma mudana na sua essncia, mas ao cumprimemto das promessas inseridas na prpria aliana. Poderamos

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    aplicar trs sentidos expresso Nova Aliana.

    Primeiro, que essa aliana pode ser considerada como aquele novo pacto que Deus fez com Jesus para a salvao gratuita. No mais para o homem como pacto de obras, mas como Pacto de Graa.

    Uma segunda possibilidade que poderamos entender essa aliana como nova fazendo dela um contraste com aquela ideia errnea que os judeus tinham da Lei como sendo uma aliana legal para a salvao. Aquela antiga aliana(considerada entre os judeus como alian-a de salvao) caducou, pois ela foi tornada imperfei-ta. Em Jeremias 31:31-34 o profeta parece falar al de uma aliana inteiramente nova. Mas surge a seguinte pergunta: Em que, ento, diferem as duas alianas al apresentadas? Chegaremos a uma concluso se compa-rarmos os elementos que constituem essas duas alian-as. A nova aliana anunciada pelo profeta fala da Lei sendo interiorizada na mente e no corao; Deus se tor-nando o Deus deles e o povo o Seu povo; conhecimento extensivo e pleno perdo dos pecados. Todos esses ele-mentos esto presentes na antiga aliana, na vida dos santos eleitos do Velho Testamento, pois do contrrio chegaramos concluso que Deus tem duas maneiras de salvar o pecador: uma a da Velha Aliana e a outra da Nova Aliana. Essa teologia no bblica. H, na ver-dade, um carter novo na aliana que se inaugurar, e esse carter novo apenas um aspecto salientado no texto: ...porque todos me conhecero. Esse conheci-mento universal de Deus somente possvel median-te a manifestao gloriosa de Jesus. Esse aspecto no encontrado na Velha Aliana pelo fato da pregao do evangelho al ser muito resumida e restrita a um pe-quenino povo. Mas, o que diramos ento dos outros aspectos encontrados nas duas alianas? Por que Deus

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    A Nova Aliana

    renovaria esses aspectos com Seu povo se no algo inteiramente novo? A resposta est no prprio texto: porquanto eles anularam a minha aliana. As expe-rincias como a Lei de Deus no corao e na mente, ser propriedade exclusiva de Deus, conhecer a Deus e obter perdo de pecados so em todas as duas alianas experincias de CONVERSO. O profeta no estava ape-nas anunciando a chegada de uma nova aliana para o mundo inteiro, mas estava anunciando que em vista de Israel ter-se desviado da verdadeira vontade de Deus, mesmo assim, Deus ainda prometia uma outra opor-tunidade para uma nova converso. Nunca podemos olhar para esta aliana como sendo uma nova aliana em funo dos gentios, esquecendo-nos de que aquilo era uma profecia para Israel. Ento, o carter da nova aliana de uma renovao da antiga aliana e no uma aliana inteiramente nova e distinta(CALVINO).

    E, uma terceira possibilidade, seria a compreenso das caractersticas totalmente novas e diferentes da aliana feita com Abrao e Moiss. Na verdade, a dispensao do Novo Testamento traz bnos mais ricas que a do Velho Testamento, pois a revelao da graa chega ao seu clmax por ocasio da revelao de Jesus. certo que a sombra de Cristo era eficaz para a salvao dos crentes do Velho Testamento, e o fato da Nova Alian-a trazer consigo bnos mais ricas no significa uma diminuio da bno operada na velha dispensao, pois Cristo nosso Fiador eficaz ontem, hoje e sempre. As bnos so mais ricas no sentido de que agora a promessa se cumpre em toda sua amplitude e plenitu-de; os tesouros de sabedoria so trazidos com Cristo (Ef 4); a Igreja chegou a sua maturidade sobre o mistrio da reconciliao (I Co 13:8-13); superabundou a graa sobre todos os povos e no somente Israel, (At 2:16-21). Devemos assim, enfatizar os aspectos da universa-

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    lidade da Nova Aliana, quando no Velho Testamento a graa ainda era muito restrita a Israel. O cumprimento da promessa e a inaugurao de um novo sacerdcio do a certeza de que aquela velha aliana da graa tem se renovado cada vez mais majestosa sobre o mundo e sobre todos os pecadores.

    Tudo isto, sendo a manifestao da graa desde o prin-cpio, significa que a histria do Pacto da Graa consis-te numa aproximao cada vez mais clara e ntida do sacrifcio de Jesus e das suas bnos, e que essa apro-ximao, por mais obscura que tenha sido no passado, sempre foi eficaz para conduzir o pecador a Cristo e para assegurar-lhe o direito de ser herdeiro da Promes-sa. Devemos nos lembrar que mesmo sendo sombra no passado, essa revelao hoje concreta e presente, era a sombra do prprio Deus, graciosamente salvando o homem. Em tempo algum Deus mudou a Sua promessa ou revogou a Sua aliana. Depois da queda, o homem sempre foi salvo pela graa. Se olharmos ainda mais adiante veremos que promessas ainda mais ricas des-frutaremos, quando nossos corpos glorificados e livres de toda corrupo faro parte de uma nova realidade, celestial e eterna, contemplando Jesus face a face.

    Conclumos entendendo que Deus s fez um pac-to de vida eterna com o homem, mudando apenas A DISPENSAO DO PACTO sobre o povo de Deus e sobre toda a humanidade.

    Voltando para as perguntas da introduo, a nica que ainda precisamos responder sobre as consequncias de uma viso diferente da qual acabamos de apresen-tar. Em que interfere na minha viso do organismo das Escrituras Sagradas se eu no tiver uma correta com-preenso da Dispensao do Pacto no Velho e Novo Tes-

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    A Nova Aliana

    tamento? Essa compreenso do pacto conserva o Velho Testamento como sendo a Palavra de Deus para o ho-mem de todas as pocas porque podemos perceber for-temente a dispensao da graa de Deus na vida do povo de Israel e estendendo-se at ns. A partir do momento em que eu separo e contrasto duas ou mais alianas, julgando-as diferentes em essncia, consequentemente o organismo da Bblia ser desmembrado. Se eu no encontrar a graa em toda a antiga dispensao, logo rejeitarei o Velho Testamento, porque se a salvao to somente pela graa, logo o que no estiver voltado para a graa no diz respeito a mim. Essa a conclu-so mais prtica qual qualquer crente chegaria. Mui-tos j nem se interessam mais pelo Velho Testamento, achando que graa e salvao ao estilo neotestamen-trio no so temas do Velho Testamento, e que a ma-neira de Deus salvar o pecador do Velho Testamento diferente do Novo Testamento. Outros tm uma noo to fraca e s vezes to deturpada da Lei de Deus que recusam-se a pregar, estudar ou at mesmo considerar Palavra de Deus o Velho Testamento. Outras mentalida-des mais simples se utilizam do chavo coisa da Lei, como se a Lei no fosse a vontade de Deus para o ho-mem durante todas as pocas da histria da salvao. O Dispensacionalismo, pensamento que afirma que a Bblia contm partes para cada perodo da histria da salvao, e que em cada perodo Deus mudou Sua jus-tia e Sua Lei e tratou de maneira diferente o pecador, o pecado e a natureza humana em relao a salvao, propondo-lhe at mesmo um caminho de obras para conquist-la, o pensamento campeo em diminuir a autoridade da Palavra de Deus, por considerar a Bblia contendo partes para cada poca da histria da huma-nidade. Passando-se as pocas, esses livros do Velho Testamento j no servem mais para a Igreja, porque

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    dizem respeito apenas uma poca, e especficamente Israel. Assim, o Velho Testamento torna-se apenas um livro de contos da histria de Israel, apenas para ser lembrado e utilizado em sermes puramente alegri-cos. Essa concepo errnea do organismo das Escri-turas deve-se tambm fraca interpretao de Jo 1:17, como se a graa no fosse tema do Velho Testamento, mas apenas do Novo Testamento, a partir de Cristo ou Pentecostes, o que torna irrelevante o Velho Testamen-to para os nossos dias.

    O conceito reformado do pacto estabelece uma unida-de to forte entre os livros do Velho e Novo Testamen-tos que podemos perceber claramente em ambos: o mesmo Deus, as mesmas promessas, a mesma graa, o mesmo Salvador, a mesma regenerao, converso e justificao pela f, a mesma Lei de Deus dirigindo o comportamento e fortalecendo a santificao para uma mais ntima comunho com Deus, a mesma prega-o contra o pecado e contra a incredulidade do povo, o mesmo Esprito operando na vida dos regenerados. Doutra forma, se comearmos a olhar para o Velho Tes-tamento de maneira to distinta do Novo Testamento, inevitavelmente chegaremos a desprez-lo, e isso afe-tar consequentemente a autoridade das Escrituras e sua suficincia. Em geral, os dispensacionalistas, como so amantes de Israel, em relao ao Velho Testamento se interessam apenas pelas profecias que julgam perti-nentes ao futuro de Israel e aos textos que supostamen-te lhes servem para formar a perniciosa doutrina das sete dispensaes. Graas a eles, a viso que o mundo tem hoje do Velho Testamento a de um punhado de promessas e testes fracassados que nada mais tem a ver com a Igreja do Novo Testamento. Assim, o Velho Testamento depreciado por ser considerado coisa do passado, no sendo mais suficiente e nem autoritativo

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    A Nova Aliana

    para a Igreja neotestamentria. Qualquer sistema teo-lgico que nos leva depreciao da Palavra de Deus no seu todo ou em partes no deve ser encarado como um sistema srio, nem digno de crdito algum, pois a Palavra de Deus permanece para sempre. A viso da Teologia do Pacto uma viso que nos faz olhar para a Bblia em seu organismo como um todo sempre como a Palavra de Deus para o homem de todas as pocas e totalmente soberana nas questes da vida da Igreja. Eis o que diz a Confisso de F de Westminster: O Velho Testamento em Hebraico (lngua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a lngua mais conhecida entre as naes no tempo em que ele foi es-crito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providncia conservados puros em todos os sculos, so por isso autnticos e assim em todas as controvrsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal;... (cap. 1, se VIII). com essa viso que devemos olhar para toda a Palavra de Deus, buscando sempre encontrar o amor e a misericrdia de Deus revelados na DISPENSAO DO PACTO.

  • BIBLIOGRAFIA

    BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SISTEMTICA, Campinas, Ed. Luz Para o Caminho, l990.

    KAISER, Jr. Walter, TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMEN-TO, So Paulo, Edies

    Vida Nova, 1988.

    MODERN REFORMATION MAGAZINE, march/april 1996, Lee Irons RAISED FOR OUR JUSTIFICATION

    KEVAN, Ernest, THE MORAL LAW, P & R Publishing, New Jersey, 1991

    JOHN CALVIN COLLECTION, Ages Digital, version 1.0

    BRAKEL, Wilhelmus , THE CHRISTIANS REASONA-BLE SERVICE, Soli Deo Gloria, Pittsburgh, 1994, vol.

  • PACTOA Dispensao do

    Edio Digital ospuritanos.org

    Facebook/ospuritanos.org

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    As igrejas reformadas so caracteristicamente conhecidas pela sua

    Teologia dos Pactos. Mas, que pactos so esses? Quantos pactos fez

    Deus para a vida eterna do homem? Qual a diferena essencial

    entre tais pactos? Quais as consequncias sobre a viso do

    organismo das Escrituras Sagradas se eu no tiver um correto

    conhecimento de tais pactos? So essas perguntas que nos

    dispomos a responder nesse pequeno tratado de teologia, tendo

    em vista que em sua maioria os crentes esto confusos quanto a

    este tema.

    Antes de iniciarmos nossa reflexo sobre os pactos precisamos

    entender o que pretendo dizer com as palavras DISPENSAO e

    PACTO.

    A palavra "dispensao" neste trabalho tem um significado

    puramente bblico, o qual podemos encontrar nos textos de Ef 1:10;

    I Tm 1:4; Lc 16:2-4. A ideia principal desta palavra de uma

    administrao. Este termo tambm muito usado para descrever

    uma ideia de mordomia, e este o sentido que empregaremos

    durante toda a exposio do nosso tema. Portanto, quando falamos

    em "Dispensao do Pacto", estamos falando sobre a maneira como

    Deus distribuiu os seus dons e suas bnos de salvao durante

    toda a histria da humanidade, desde os dias de Ado at os

    nossos dias. O desenvolvimento do nosso tema parte de uma ideia

    bblica de que toda a histria da salvao do homem nasce a partir

    de um pacto que Deus fez com Ado, e a partir da essa histria

    contada como uma administrao das bnos deste pacto durante

    todas as pocas de existncia do homem sobre a terra.

    A Dispensao do PactoO PACTO COM ADO O PACTO COM NO O PACTO COM ABRAO O PACTO DO SINAI A NOVA ALIANA BIBLIOGRAFIA