A Democratização Da Informática Na Escola Pública

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO ES TÚLIO CARLOS RODRIGUES TEIXEIRA SUELEN CHRISTINI ALMEIDA BREMENKAMP TORRES A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO ES

TÚLIO CARLOS RODRIGUES TEIXEIRA

SUELEN CHRISTINI ALMEIDA BREMENKAMP TORRES

A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NA ESCOLA

PÚBLICA

CARIACICA2014

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TÚLIO CARLOS RODRIGUES TEIXEIRA

SUELEN CHRISTINI ALMEIDA BREMENKAMP TORRES

A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NA ESCOLA

PÚBLICA

Artigo científico apresentado ao IESES, como

requisito parcial para obtenção do título de

Especialização em Informática na Educação.

CARIACICA2014

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A DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA

TÚLIO CARLOS RODRIGUES TEIXEIRA1

SUELEN CHRISTINI ALMEIDA BREMENKAMP TORRES2

RESUMO

Analisando o desenvolvimento tecnológico na sociedade atual e a importância da

educação escolar neste contexto, o presente artigo procura configurar esta realidade

avaliando a necessidade da real inserção e utilização de recursos tecnológicos na

sala de aula. Para obter uma maior percepção desta realidade, o artigo propõe

aprofundar nossos estudos neste complexo contexto presente nas escolas atuais.

PALAVRAS-CHAVE: Democratização. Ensino. Educação. Tecnologia.

Globalização.

INTRODUÇÃO

Podemos perceber que a evolução do uso das técnicas é uma constante na história

da humanidade. Desde a invenção da roda e a descoberta do fogo, o homem vem

desenvolvendo novas técnicas e artefatos que o auxilie em seu dia-a-dia. Os

avanços são muitos, indústria, comércio, infraestrutura, lazer, enfim, a sociedade

como um todo está em constante evolução tecnológica. Sabe-se que no atual

mundo capitalista e globalizado, um dos principais produtos desta tecnologia é a

informação, tanto, que nossa sociedade é atualmente chamada de a “sociedade da

informação”. No mundo do trabalho, que a cada dia é mais exigente ao cobrar

competências de seus trabalhadores, é necessário que se saiba lidar, pesquisar,

discutir, intercambiar, assimilar, criticar, explorar e desenvolver estas informações.

1 Pós-graduado em Filosofia, pela UFES, aluno do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Educação, no IESES.2 Graduada em Pedagogia, pela Faculdade Novo Milênio, aluna do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Educação, no IESES.

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Se torna urgente, portanto, a necessidade da escola preparar o aluno para saber

lidar com tais informações. Não que a escola tenha que prepará-lo unicamente de

acordo com as necessidades do mercado de trabalho, mas o ambiente escolar, um

dos principais lócus de formação humana e profissional dos sujeitos, precisa dar

condições para que o futuro trabalhador, além de saber viver de forma consciente,

crítica e humana na atual sociedade da informação, adquira condições para também

saber questionar os contrastes e contradições desta sociedade, contribuindo para a

sua melhoria.

Diante disto, nos perguntamos: a nossa escola atual, consegue desenvolver estas

competências em seus alunos? Estando inserida numa sociedade desenvolvida

tecnologicamente, a escola também se desenvolveu sob este mesmo ponto de

vista? Se fora da escola, o aluno lida diariamente com a tecnologia, o mesmo

acontece dentro dela? E a formação de nossos professores neste contexto? Eles

estão aptos a trabalhar com o desenvolvimento tecnológico dentro da sala de aula?

Eles utilizam os recursos tecnológicos disponíveis para ajudá-los no processo

ensino-aprendizagem? Eles realmente preparam seus alunos para viverem na

sociedade da informação?

Os questionamentos são muitos. Não temos a pretensão de respondê-los, nem de

esgotar o assunto. Buscamos, portanto, aprofundar nossos estudos neste complexo

contexto presente nas escolas atuais, a fim de contribuirmos para uma formação

que, fazendo uso da tecnologia, prepare o aluno para saber viver e trabalhar na

atual sociedade da informação.

O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E A SOCIEDADE ATUAL

O desenvolvimento tecnológico, a globalização, era da informação, sociedade de

consumo, são alguns dos termos que cada vez mais fazem parte do nosso dia-a-dia.

Sem querer sugerir determinismos, sabemos da grande influência que o

desenvolvimento da tecnologia tem sobre as atuais mudanças sociais. Percebemos

que atualmente, desenvolvimentos tecnológico e social têm uma grande interação

um com o outro, ficando difícil determinar exatamente onde está a origem de cada

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um deles. Castells, reforçando a ideia de uma constante interação entre sociedade e

tecnologia, observa:

(...) É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a

sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma

vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa

empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica,

inovação ecnológica e aplicações sociais, de forma que o

resultado final depende de um complexo padrão interativo. Na

verdade, o dilema do determinismo tecnológico é,

provavelmente, um problema infundado, dado que a tecnologia é

a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou

representada sem suas ferramentas tecnológicas. (...)

(CASTELLS, 1999, p. 25)

Tal colocação reforça a ideia da constante relação existente entre as questões

estruturais do atual momento histórico. Economia, política, cultura, ciência e

tecnologia estão em constante interação. Descobertas feitas em um setor geram

consequências em outro, refletindo mudanças e desenvolvimento em todo o

contexto social.

Tecnologicamente falando, a sociedade atual desenvolve-se a passos largos.

Desenvolvimento científico e tecnológico estão juntos nesse processo; avanços na

área da genética e da medicina têm sido comemorados. Também temos progressos

nos setores das telecomunicações, da robótica, das redes neurais e da

microinformática entre outros campos de desenvolvimento. No entanto, não

podemos deixar de observar que, apesar de tais avanços terem um grande

significado para o progresso de toda a sociedade, estes mesmos avanços não

chegam “às mãos” de todos.

Consequentemente, sendo a nossa, uma sociedade capitalista, é de se esperar que

haja injustiças e estratificações sociais. Esperar igualdade entre todos dentro desta

sociedade, seria ingenuidade. Beinstein, nos mostra alguns fatos do atual mundo

globalizado, característicos do sistema produtivo em que vivemos, que contribuem

para o agravamento dos contrastes atuais:

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(...) Primeiro, a cisão entre centro e periferia que, em lugar de

diluir-se em uma nova distribuição internacional do potencial de

produção, se aprofundou ainda mais. Segundo, a concentração

empresarial global, reforçando a tendência anterior. Terceiro, o

agravamento dos processos de desigualdade e exclusão social

na periferia, mas também nos países centrais. Quarto, a crise do

Estado moderno em suas diferentes versões centrais e

periféricas. Quinto, a irrupção de fenômenos de entropia:

extensão global das redes mafiosas, catástrofes sanitárias,

exacerbação de conflitos étnicos e outras manifestações de

desestruturação social. (...) (BEINSTEIN, 2001, p. 42)

ASPECTOS DA DEMOCRATIZAÇÃO DAS TEIS

Na Realidade do mundo contemporâneo, que tem se caracterizado por grandes

transformações tecnológicas, com especial ênfase nos sistema de comunicação. A

comunicação deixa a ser de massa e passamos a viver a possibilidade de uma

comunicação mais interativa. Do ponto de vista tecnológico, a cada dia mais

avançamos na direção desta interatividade. Para nós, brasileiros, pelo menos por

enquanto, isso se dá apenas de forma potencial. Temos uma forte concentração na

propriedade dos meios de comunicação e informação. Com a possibilidade de

entrada de capital estrangeiro nas empresas dos sistemas de comunicação e

informação, observamos acontecer no Brasil o mesmo que já vem ocorrendo em

quase todo o mudo: fusões bilionárias, megafusões e sinergias entre empresas que

atuam em diversos ramos do mundo comunicacional, ou seja, editoras, órgãos de

imprensa, emissoras de rádio e televisão - broadcast, assinatura cabo ou satélite -

telefonia e até mesmo provedores de conexão Internet. O movimento é planetário.

No Brasil, as classes A e B já possuem pelo menos a possibilidade de acompanhar

um aumento significativo no número de canais de televisão. Este aumento não

corresponde, no entanto, a um aumento de opções. Primeiro porque as opções são

de fato, muito pequenas. O que vemos na verdade são infindáveis repetições de

programas, de qualidade, no mínimo, questionáveis. Segundo, o que para mim é o

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mais importante, a produção destes produtos ainda continua sendo feito de forma

muito centralizada. São poucas as possibilidades de produção da diversidade de

imagens e sons que conhecemos por este Brasil afora.

São estes elementos importantes que precisam ser considerados e um passo

significativo na transformação desta realidade é a democratização da informação.

Esta democratização passa, no entanto, por vários caminhos e instâncias. Um deles

é, sem dúvida, a de termos uma legislação forte de tal forma a garantir, nestes

momentos de privatizações, acesso aos meios àqueles que não tem poder aquisitivo

para adquirir o ingresso deste mundo de comunicação generalizada. Em julho do

ano passado foi aprovada a Lei número 9.472 conhecida como Lei Geral de

Telecomunicações (LGT). Nesta lei foi introduzido um dispositivo muito importante

chamado Fundo para Universalização de Serviços. O artigo 81 detalhou que este

fundo deveria ser criado especificamente para essa finalidade, para o qual

contribuiriam prestadoras de serviços de telecomunicações (publicas e privadas).

Em outras palavras, um fundo - que ainda não foi regulamentado! - com o objetivo

de viabilizar o acesso aos meios e serviços. Uma das primeiras ideias presentes

seria o de usar estes recursos para conectar escolas, bibliotecas, hospitais, em todo

o Brasil, de tal forma a viabilizar, sejam através da telefonia como do acesso à rede

mundial Internet, que as famílias que hoje não dispõem destes meios privadamente -

em suas próprias casas - possam dele dispor na escola pública (e gratuita) de seu

próprio bairro.

Mas somente o acesso ao meio não garante nada. Precisamos trabalhar

paralelamente a esta instância mais política, na busca de fortalecermos as culturas

locais para que possamos disponibilizar estas informações em todos os meios

disponíveis. Não resta a menor dúvida que projetos de informatização de escolas

públicas em andamento já podem se constituir passos significativos nesta direção.

Mas isso, se estes objetivos forem prioritários e estiverem presentes. Como digo

sempre, não precisamos de Internet nas escolas, mas sim de escolas na Internet.

Parece uma diferença pequena, mas não é! É uma diferença básica de concepção.

Fortalecer as culturais locais e disponibilizá-las na rede mundial é fortalecer o

cidadão. É permitir que cada cidadão seja sujeito de sua própria história e de uma

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história coletiva que estará sendo construída por todos. Não resta a menor dúvida

que para esta tarefa muitas instâncias precisam estar envolvidas. Os projetos estão

cada dia mais presentes nas universidades, escolas públicas e organizações não

governamentais.

DEMOCRATIZAR A COMUNICAÇÃO: CONCRETIZANDO UMA

PROPOSTA ABSTRATA

O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) foi criado em abril

de 1991, fruto da necessidade de uma nova perspectiva de atuação, motivado por

uma articulação de diversos movimentos sociais e organizações ressentidos de

visibilidade na mídia e cientes das demandas nas suas lutas específicas.

O FNDC se consolidou como movimento social, introduzindo uma nova temática

junto à sociedade civil, embora não tão bem assimilada por seus próprios

integrantes. A democratização da comunicação era entendida como conquista

fundamental para a democratização da sociedade, traduzindo-se na atuação

simultânea em várias frentes de luta: a implantação do Conselho de Comunicação

Social, a disputa da regulamentação da TV a Cabo e da elaboração de uma nova Lei

de Imprensa - que posteriormente, resultou no projeto da Lei da Informação

Democrática - e, também, um pouco mais tarde, a luta pela reestruturação da Rede

Manchete, além da Lei de Radiodifusão Comunitária.

Esta multiplicidade de frentes foi sucessivamente adiando a elaboração de uma

proposta abrangente e sistemática para a área da comunicação. A intensa atividade,

sem dúvida, prejudicou o avanço do debate teórico e político, mas produziu um

importante acúmulo de reflexões (HERZ, 1994). Traduziu-se numa “rede de redes”,

nos dizeres de Ilse Scherer-Warren, conceito aplicado ao movimento de

comunicação para definir o papel do FNDC.

Uma década depois de seu surgimento, passada também a crescente adesão, a

euforia, e algumas conquistas (tais como as leis que deram origem aos canais

comunitários e universitários e que, de certa forma, contribuíram para o engajamento

de rádios comunitárias dos mais diversos tipos em todo o país), podemos observar

com mais clareza que a atuação do FNDC entendia a democratização da

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comunicação como o estabelecimento de leis mais democráticas, como se o

estabelecimento de parâmetros legais fosse garantia de uma melhor articulação

entre setores sociais e palco para uma melhor distribuição e alcance das

informações.

Ao sublimar o debate sobre a política pública de caráter mais cotidiano dos

movimentos sociais e o amadurecimento sobre a linguagem e a assimilação do

sistema de comunicação no Brasil por parte desses meios, promoveu-se o crescente

distanciamento das organizações que conferiam ao FNDC um caráter mais amplo.

O Fórum, que como vimos, chegou a contar com a adesão de 44 Comitês Regionais

e Comissões pró-Comitês, além de 32 entidades nacionais. Estes números

expressivos não escondem os diversos problemas orgânicos e políticos que

dificultam suas ações. Principalmente se pensarmos a ideia de democratização da

comunicação em sua dimensão prática e cotidiana: quais integrantes das entidades

participantes do FNDC participavam efetivamente de suas esferas de decisão e

articulação? Quantos participantes dessas entidades associadas envolviam-se direta

ou indiretamente com os debates e ações implementados pelo FNDC?

Em virtude desse vácuo entre reflexões e ações, entre formulação teórica e base de

sustentação para implementação de estratégias, é que o FNDC chegou ao ano de

1994 com um grande acúmulo a respeito das áreas de atuação desse complexo

cenário, proporcionado por uma possível democratização da comunicação, embora

não contasse com uma base de apoio suficientemente engajada para levar à frente

suas formulações.

A ideia de um movimento social formado por entidades representativas, visando lutar

pela democratização da comunicação no Brasil não é só necessária no contexto do

próprio sistema de comunicação e da afirmação do acesso e do controle público,

bem como da produção em larga escala. Também é determinante para cada

entidade participante do FNDC o entendimento do papel da comunicação em suas

próprias lutas específicas.

A contribuição das várias questões oriundas da diversidade apontada como uma das

grandes qualidades do FNDC deve ser a força-motriz de um movimento que se

pretenda promotor, estimulador, incentivador da democratização da comunicação no

país. Assimilar, apreender e buscar perspectivas de superação no âmbito dos mais

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variados impasses impostos aos movimentos sociais, a partir da contribuição da

comunicação como prática e como área do conhecimento, possibilitará a

configuração de uma demanda patente, revertida em projetos e ações visando o

pleno engajamento dos movimentos nesse debate de fundamental importância.

Algumas das várias atuações que orientam a formação e a articulação de

movimentos são as ligadas aos bens de consumo coletivo, a questão da terra, as

condições gerais de vida, as desigualdades culturais, a questão trabalhista, a defesa

dos direitos humanos e de problemas específicos, tais como os menores de rua,

pais e alunos de escolas, etc.. A simples observação do discurso e das questões

apresentadas por representantes de cada um desses movimentos nos elucidaria a

referência constantes à comunicação, seja na produção de mensagens confusas,

equivocadas ou mesmo não pertinentes por parte da mídia, seja pela incapacidade

de se promover meios alternativos ou mesmo de dar visibilidade às suas ideias e

ideais em meios já existentes.

Clarificar a ideia de que a temática da comunicação está articulada intrinsecamente

às várias lutas sociais é um papel prioritário para um Fórum possível que se

proponha à ousadia de pensar uma comunicação mais democrática num país como

o Brasil, entendendo não só a regulação, mas também a inclusão das pessoas,

grupos e organizações nos canais disponíveis.

A DEMOCRACIA É O LIMITE

Apesar de todo esse debate em torno da configuração de um modelo possível de

democracia relacionada a duas áreas cruciais para a participação - a consciência e o

estímulo à cidadania na sociedade - outro debate ainda se faz necessário,

principalmente para que não se percam referências e objetivos: será que a

democracia deve ser entendida como motivação última de um movimento? A quem

ela efetivamente interessa?

Palavra comum às duas organizações aqui estudadas, a democracia não é

absolutamente um consenso no campo das ciências políticas e sociais. Não se trata

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aqui de esboçar um tratado sobre o conceito, mas sim evidenciar algumas definições

relevantes no contexto dessa reflexão.

A participação pública nos meios de produção sempre foi uma perspectiva

insistentemente reivindicada por parte dos vários movimentos, nas mais diferentes

instâncias. A associação entre participação e poder sempre foi vista como crucial

para o debate da própria concepção de democracia, em seu sentido mais

classicamente conhecido: um governo do povo, pelo povo e para o povo.

No âmbito da comunicação, as diversas reivindicações giram em torno da amplitude

do acesso, da posse, do controle e da produção por parte da população. Quatro

temáticas com aspectos diferentes, que implicavam em reflexões, propostas e ações

as mais diferenciadas. Relembrando a proposta e o entendimento do CDI,

democratizar a informática implica na ampliação do conhecimento por parte da

população a princípio excluída, a partir do acesso e da produção já facilmente

disponibilizados pelo próprio suporte tecnológico. A dimensão mais crítica do

controle e o acesso a programas e equipamentos são debatidos de forma

embrionária, não determinante no interior dos projetos.

O FNDC esgarçou o debate sobre a reflexão desses conceitos, nos quais o poder-

fazer foi sempre mais contemplado do que o como-fazer. O debate sobre a

linguagem e a comunicabilidade com o público foi restrito às organizações

implementadoras de projetos comunitários: desafio sempre presente e motivação de

algumas iniciativas, em especial nos movimentos de rádios comunitárias e nos

canais comunitários de TV a Cabo, espalhados pelo país.

O paradigma da “comunicação para todos” foi colocado em primeiro plano em

relação ao da elaboração de uma comunicação que contemple e seduza a todos. Tal

concepção se insere no entendimento e na defesa de uma concepção de

democracia que contempla a afirmação da massa a partir de seu caráter

essencialmente coletivo, omitindo suas variadas nuances e aspectos individuais.

Insere-se numa reflexão sobre a percepção do surgimento das massas e seu

impacto sobre a condição democrática desenvolvida por Barbero, para quem “o

princípio moderno do poder legítimo acabará legitimando a maior das tiranias”, onde

a importância é dada unicamente à quantidade de pessoas, mais do que à razão e à

virtude de uma dada questão.

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A representatividade é colocada desta forma como um componente indispensável

para a apresentação e a afirmação de propostas, sendo “um de seus princípios de

legitimidade fundamentais”. A dimensão de um movimento torna-se mais pertinente

diante de sua adesão, mesmo que não consciente, por parte das organizações e

grupos que se inserem num projeto maior. A ideia de um projeto viabilizador da

democracia na comunicação se assume de um consenso que inibe a participação e

a contemplação de minorias e de visões que potencializassem a ideia de um

movimento mais plural.

Um debate como o da comunicação - tanto na organização das forças

reivindicadoras, quanto na visibilidade dos resultados - é fruto do entendimento e do

estímulo à plena participação, à expansão das possibilidades de formação de

consciência crítica, que possibilitem o resgate cultural e a valorização da autoestima,

inibindo a alienação das várias culturas soterradas pela homogeneização da cultura

em âmbito global.

A manifestação das minorias num contexto mais amplo foi contemplada na ótica

anarquista, que via na democracia uma espécie de ditadura das massas, pintando

com cores mais fortes a afirmação de Barbero. Malatesta nega a ideia de governo

do povo, pois “isto suporia o que não acontece jamais, a saber, a unanimidade das

vontades de todos os indivíduos que compõem o povo”.

Urge trazer a dimensão desta incômoda realidade, tal como também buscar formas

de organização e articulação dos mais variados públicos e interesses estimulando e

evidenciando as mais variadas frentes de atuação. Necessário é um movimento que

afirme e contemple tal prática, uma forma de gestão que a assimile (não o Estado) e

uma força impulsionadora de suas práticas (não o Mercado).

A RELAÇÃO DIALÉTICA ENTRE A ADESÃO E A CRÍTICA ÀS

NOVAS TECNOLOGIAS

A educação desprovida de novas tecnologias resumida ao uso das tecnologias

antigas e no simples discurso do professor admite que o espaço da aula transfigure-

se num ambiente de monotonia sem estímulo algum aos principais elementos de

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mobilidade do processo. Cabe ao professor buscar o conhecimento sobre o uso

adequado das novas tecnologias, uma vez que todo e qualquer instrumento utilizado

para mediar à interação professor/aluno é considerado ferramenta tecnológica.

Os educadores devem ter um papel dentro da sociedade que vai muito além do

fazer de conta. É papel do educador possibilitar a inserção na comunidade estudantil

de serviços que ajudem no seu desenvolvimento, além de, pesquisas a fim de

contribuir, de alguma forma, para o crescimento intelectual dos alunos. É necessário

ainda que haja uma interação entre educador e sociedade para que juntos detectem

os problemas e as deficiências existentes, em especial nas escolas públicas, no que

diz respeito ao alcance das novas tecnologias e busquem soluções eficientes que

levem ao desenvolvimento adequado do processo de ensino/aprendizagem.

Quando pensamos em tecnologia a favor da educação, devemos vê-la como um

conjunto de ferramentas que proporciona ao professor várias vantagens, como a

praticidade para adquirir as informações necessárias à construção do conhecimento

ao longo da sua vida. A soma dos métodos antigos com as novas descobertas

linguísticas e tecnológicas vem dando aos professores, que a aderiu, suporte

necessário no desenvolvimento das suas atividades.

Usar a tecnologia a favor da educação é saber utilizá-la como suporte auxiliar na

busca da qualidade do processo educacional. “Tecnologia é um conjunto de

discursos, práticas, valores e efeitos sociais ligados a uma técnica particular num

campo particular” (BELLONI, 1997. p.53). Os novos recursos tecnológicos são para

ajudar o professor no processo de ensino aprendizagem e cabe ao professor

perceber qual recurso deve, quando e como usar.

A pesquisa científica deve fazer parte da vida do educador. Assim o professor

supera um conhecimento já existente sobre um determinado assunto e abre um

novo mundo de descoberta por meio da curiosidade e do interesse de cada um

sabendo, claro, separar o que é seu, do que é do outro, respeitando as informações

que foram obtidas por meio desta busca.

O educador precisa ser flexível, paciente ou crítico naquilo que se propõe fazer e

ser. Esse mesmo compromisso deve assumir ao orientar seus alunos para a vida.

Mostrar ao jovem aluno que é necessário sempre fazer uma seleção coerente e

planejar tudo que se pretende alcançar. Assim também deve acumular

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conhecimentos de modo que venha atender às exigências que a vida pode estar

propondo futuramente.

De acordo com Zanela, vemos que os instrumentos tecnológicos utilizados na

educação desde o marco da sua História estão, até hoje, em uso nas salas de aula.

A visão inovadora, na comunicação e transmissão de informações, trazida pelas

novas tecnologias são instrumentos importantíssimos de transformação dando-lhe

“[...] um novo sentido no processo de ensinar desde que consideremos todos os

recursos tecnológicos disponíveis, que estejam em interação com o ambiente

escolar no processo de ensino-aprendizagem” (ZANELA, 2007. p.26).

A Educação sempre foi e sempre será um processo composto de detalhes que se

utiliza de algum meio de comunicação como instrumento ou suporte visando

alcançar a qualidade no processo de ensino/aprendizagem e objetivando o melhor

desempenho na ação do professor, na interação pessoal e direta com seu público.

“A educação é e sempre foi um processo complexo que utiliza a medida de algum

tipo de meio de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em

sua interação pessoal e direta com os estudantes”. (BELLONI, 1999. p.54).

As tecnologias na escola elevarão o nível de desenvolvimento dos sentidos, e as

novas tecnologias estimularão a ampliação dos limites dos sentidos e com isso o

potencial cognitivo do ser humano. As ferramentas tecnológicas vêm provocando

visíveis transformações nos métodos de ensinar e na própria forma do discurso

escrito que apresentam considerável adaptação ás novas tecnologias.

A resistência à aquisição de novos conhecimentos é um fator negativo no processo

de formação cultural intelectual do individuo na relação ensino-aprendizagem.

Assim, como enfrentar os novos desafios? Como mostrar para seus alunos os

caminhos da inclusão e participação social?

Ensinar com a Internet será uma revolução, se mudarmos

simultaneamente os paradigmas do ensino. Caso contrário

servirá somente como um verniz, um paliativo ou uma jogada de

marketing para dizer que o nosso ensino é moderno e cobrar

preços mais caros nas já salgadas mensalidade. (MORAN,

2008. p.8).

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Como ferramenta pedagógica, a Internet deve ser utilizada com cautela para que

não prejudique o desenvolvimento de suas principais habilidades como o saber-

fazer, dando-lhe informações prontas que podem ser “copiadas e coladas” sem

sequer ter sido feita uma leitura prévia. Essa prática tem sido comum e vem

despertando a aplicação, por parte de alguns administradores, da censura

restringindo o uso da internet e impedindo o acesso, principalmente, de páginas

sociais como Orkut, MSN e mesmo a vídeos do You Tube. Os problemas, no

entanto, não param por aí. As novas tecnologias usadas na educação requerem

professores capacitados que saibam como utilizá-las em benefícios do aprendizado

do aluno, mas o que se percebe é uma reação negativa de muitos educadores a

essas inovações. Muitos insistem em utilizar métodos tradicionais de ensino por não

saberem lidar com novos instrumentos tecnológicos. “[...] o homem está

irremediavelmente preso ás ferramentas tecnológicas em uma relação dialética entre

a adesão e a critica ao novo”. (PAIVA, 2008. p.1).

A adesão das novas tecnologias na educação é extremamente importante, uma vez

que facilita o acesso ao conhecimento e permite que o aprendiz tenha autonomia

para escolher entre as diversas fontes de pesquisas. “Os recursos da web oferecem

ao aprendiz tecnologia que lhe permite, efetivamente, usar a língua em experiência

diversificadas de comunicação”. (PAIVA, 2008. p.10). As novas tecnologias levarão

o homem a uma evolução mais rápida e ao conhecimento mais preciso. É

necessário, apenas, dominá-las.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na sociedade moderna, o conhecimento estático não tem mais lugar, e a busca da

informação para a construção dinâmica do conhecimento é uma realidade. Todos

que se encontram no processo de aprendizado, em qualquer área, depara-se com

uma torrente de informações acima da capacidade humana de absorção. É nesse

contexto que o computador pode ser inserido na educação, uma ferramenta

tecnológica que pode ser usada para auxiliar a condução do aluno na busca

prazerosa da descoberta, em administrar as informações, de forma a estar sempre

atualizado e bem informado. O novo papel que se espera do professor é mostrar ao

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aluno o que ele pode descobrir pesquisando e utilizando das diversas ferramentas

dessa tecnologia. Entretanto, todas as vantagens mencionadas dependem do uso

adequado dos instrumentos e de uma efetiva democratização da tecnologia nas

práticas de ensino atual. Para se trabalhar adequadamente com objetos de

aprendizagem, precisamos compreender melhor como se dá esse processo. O

processo de construção do conhecimento pode ser extremamente facilitado por

estas metodologias, gerando uma gama de conhecimento acima do que podemos

adquirir com os métodos convencionais, resultando em pessoas e profissionais

melhores e mais informadas. Isso é particularmente relevante nos dias atuais, em

que o gerenciamento das informações praticamente define o sucesso profissional.

REFERÊNCIAS

BARBERO, Jesus Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, 1997.

CABRAL, Adilson. Rompendo fronteiras: a comunicação das ONGs no Brasil. Rio de

Janeiro, Achiamé, 1996.

Democratizar a comunicação para democratizar a sociedade: um desafio, um mito,

texto apresentado no Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos

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Um mito de concreto, 1998 (mimeo).

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FESTA, Regina. Por um outro fórum. In. Caros Amigos, n.º 8, março 2001.

HERZ, Daniel. Bases de um programa para a democratização da comunicação no

Brasil. 1994 (mimeo.).

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PERUZZO, Cicília. Comunicação nos movimentos populares. Petrópolis, Vozes,

1999.

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PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira. O Uso da Tecnologia no Ensino de Línguas

Estrangeira: breve retrospectiva histórica. Disponível em:

www.veramenezes.com/techist.pdf Acesso em: 2 ago. 2014.