A cultura como fator de contestação social – um estudo acerca do movimento beatnik.

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A cultura como fator de contestação social – um estudo acerca do movimento beatnik. Culture as a social contestation factor: a study on the beatnik movement. Kelly Caroline Zimmermann Kirsch 1 FEEVALE Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar as relações entre as influências sociais, o estilo de vida, as preferências artísticas e a estética pessoal de grupos de contracultura com os mesmos fatores vigentes na sociedade em que o grupo se constituiu. Como estudo de caso, trabalharemos com o movimento beatnik, que teve origem no final da década de 40, e era formado por jovens que, através de um movimento literário próprio, um estilo de vida inspirado na filosofia existencialista e uma estética melancólica, expressavam sua contestação ao contexto social, político e cultural de sua época. Para isso, será feita uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo, buscando, primeiramente, compreender os fatores sociológicos e culturais que compunham tal cenário para, posteriormente, compreender os significados dos elementos presentes na cultura do grupo e a relação entre ambos. Com tal análise, é possível perceber que os movimentos de contracultura surgem através de pessoas que, com uma percepção crítica e não-conformista, contestam aspectos da sociedade vigente em que estão inseridos através das artes, das correntes de pensamento e da estética. Palavras-chave: cultura, contracultura, sociologia, literatura, estética. 1 Bacharel em Design de Moda e Tecnologia, pesquisadora de moda e Mestranda em Processos e Manifestações Culturais.

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A cultura como fator de contestação social – um estudo acerca do

movimento beatnik.

Culture as a social contestation factor: a study on the beatnik movement.

Kelly Caroline Zimmermann Kirsch1

FEEVALE

Resumo:

O presente estudo tem como objetivo analisar as relações entre as influências sociais, o estilo de vida, as preferências artísticas e a estética pessoal de grupos de contracultura com os mesmos fatores vigentes na sociedade em que o grupo se constituiu. Como estudo de caso, trabalharemos com o movimento beatnik, que teve origem no final da década de 40, e era formado por jovens que, através de um movimento literário próprio, um estilo de vida inspirado na filosofia existencialista e uma estética melancólica, expressavam sua contestação ao contexto social, político e cultural de sua época. Para isso, será feita uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo, buscando, primeiramente, compreender os fatores sociológicos e culturais que compunham tal cenário para, posteriormente, compreender os significados dos elementos presentes na cultura do grupo e a relação entre ambos. Com tal análise, é possível perceber que os movimentos de contracultura surgem através de pessoas que, com uma percepção crítica e não-conformista, contestam aspectos da sociedade vigente em que estão inseridos através das artes, das correntes de pensamento e da estética.

Palavras-chave: cultura, contracultura, sociologia, literatura, estética.

Resumo:

This study aims to analyze the relationship between social influences, the lifestyle, aesthetic preferences and personal artistic counterculture groups with the same factors prevailing in the society in which the group established. As a case study, work with the beatnik movement, which originated in the late 40s, and was formed by young people who, through himself a literary movement, a lifestyle inspired by the existentialist philosophy and aesthetics of melancholy, expressed their challenge to the social, political and cultural life of his time. This will be done a literature search for qualitative, seeking first to understand the sociological and cultural factors that made for such a scenario, then, to understand the meanings of the elements present in the gang culture and the relationship between them. With such analysis, it is possible to realize that the counterculture movements of people come through that with a critical

1 Bacharel em Design de Moda e Tecnologia, pesquisadora de moda e Mestranda em Processos e Manifestações Culturais.

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perception and non-conformist, challenge aspects of current society in which they live through the arts, the currents of thought and aesthetics.

Key-Words: culture, counterculture, sociology, literary, esthetic.

Introdução

Com o estudo que segue, objetivamos analisar as relações do movimento

estético-literário beat, a estética pessoal dos membros de tal movimento, seu estilo de

vida e o contexto sociológico da sociedade em que estes estavam inseridos. Para isso,

fundamentaremos nosso trabalho em uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo,

dando grande enfoque ao caráter histórico e social do período, a fim de que possamos

dar um forte embasamento às nossas conclusões.

Desde o do século XX, em especial após a Segunda Guerra Mundial2, os

fatores políticos, econômicos e socioculturais têm influenciado os jovens a formarem

grupos com ideologias, perspectivas de vida e críticas sociais próprias. Tais valores e

comportamentos refletem-se na sua estética pessoal e na sua relação com produção e

consumo cultural, fazendo com que estes formem um novo grupo cultural dentro da

sociedade que estão inseridos.

LARAIA (1986) afirma que determinados códigos sociais advém de heranças

culturais:

O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os

diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim

produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma

determinada cultura.

Graças ao que foi dito acima, podemos entender o fato de que indivíduos de

culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de

características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem

mencionar a evidência das diferenças lingüísticas (...). (LARAIA, 1986,

p.69)

2 Embora “algumas práticas de agrupamentos juvenis específicos já tenham sido identificadas no período anterior” à Segunda Guerra Mundial (FEITOSA, 2003, p.1), foi depois da mesma que, em função da prosperidade financeira atingida pelos Estados Unidos e pelo sentimento de oposição aos modelos governamentais, que grupos comportamentais específicos passaram a se formar. Até então, os conceitos de “cultura jovem” e de “juventude” não estavam de fato consolidados. (FEITOSA, 2003)

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A maneira com que as pessoas de determinado período ou grupo social se

vestem, se comunicam, produzem ou consomem bens culturais é um reflexo direto do

que acontece ao seu redor e da maneira com que elas percebem tais acontecimentos.

Assim como a análise desses elementos pode ajudar a compreender um determinado

período histórico, a análise do período histórico pode também fazer com quem

compreendamos tais posicionamentos e comportamentos dentro do grupo social.

A professora Ana Claudia Oliveira, em seu texto de apresentação do livro

Moda e Linguagem, da socióloga Kathia Castilho, confirma essa teoria, dizendo que:

Na construção do corpo, assim como na das roupas de cada época, estão

instalados os valores que ganham forma e voga em configurações estéticas

que se encadeiam ciclicamente. (...) Intimamente imbricada às feições do

sujeito que cada época faz emergir como uma das suas expressões, a moda é,

dentre essas, talvez, a expressão mais significante, que faz circular o sistema

de valores partilhado pela coletividade com as ruas regras de conduta. (...)

Na moda e por ela, os sujeitos mostram-se, mostrando os seus modos de ser

e estar no mundo, o que os posiciona neles. (CASTILHO, 2004, p.9)

Oliveira afirma ainda que a maneira como a pessoa se veste e se mostra

proporciona fatores pelos quais “se posiciona e desempenha seus papéis no contexto

sociocultural. (...) O sujeito adota figurativamente um determinado tipo de parecer, que

é uma declaração de sua identidade, suas crenças, suas convicções e seus valores”

(CASTILHO, 2004, p.12).

Por essas razões supracitadas, acreditamos que ideologias3 e angústias comuns

motivaram os jovens a formarem grupos de contracultura4, nos quais acabariam por

exteriorizar seus pensamentos e ideários através de estéticas e movimentos artísticos e

culturais que trazem em si imbricados uma série de valores imateriais.

Sendo esses grupos uma oposição à cultura dominante na sociedade, cremos

que eles também se tratam de grupos culturais, uma vez que, dentro de si, trazem

códigos e valores específicos, como os citados anteriormente por meio da referência de

Laraia.

3 De acordo com Clifford Geertza, no livro “A Interpretação da Cultura” (1989), ideologias são coleçoes de propostas políticas, “talvez um tanto intelectualizadas e impraticáveis, mas, de qualquer forma, idealistas”, podendo também ser chamadas de “romances sociais”.4 Podemos definir contracultura com um ideário, conjunto de fatores, práticas ou manifestações que contestam os valores vigentes na cultura dominante ou de massa de determinado contexto sócio-histórico.

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A contra cultura e o movimento beatnik – uma história de contestação

social.

A história dos grupos de contracultura se iniciou no século XX. Após a

Segunda Guerra Mundial, o mundo, em especial os países capitalistas desenvolvidos

apresentavam um crescimento econômico excepcional. Nos Estados Unidos, por

exemplo, a economia passava por um grande avanço, marcado por um grande

consumismo alavancado pelo “mito do modelo do ano”, com uma grande necessidade

de consumir uma série de novos utilitários advindos do crescimento tecnológico, que

iam de carros a eletrodomésticos. Surgia, assim, o chamado american way of life, estilo

de vida tipicamente norte-americano, onde o consumo de novos produtos seria a chave

da felicidade (LOPES, 2006).

O país norte-americano assumia de fato o posto de grande potência capitalista,

já que possuíam a vantagem de ter tomado parte de uma guerra internacional sem que se

território estivesse sob conflito (BRANDÃO; DUARTE, 1990).

A maneira com que o mundo se dividiu após o final da guerra, com a vitória

dos Aliados5 foi de suma importância para essa disseminação da cultura norte-

americana. Enquanto a Europa Ocidental, a América Central e a do Sul estavam sob

influência cultural, ideológica e econômica dos Estados Unidos, que defendia a

expansão do sistema capitalista, a maior parte da Ásia e o Leste Europeu ficaram

domínio soviético, que possuía um sistema socialista baseado no partido Comunista.

Com isso, duas vertentes ideológicas pairavam sobre o mundo: a capitalista,

representada pelos Estados Unidos, e a comunista, representada pela União Soviética.

As duas superpotências, que até então eram aliadas – Estados Unidos e URSS6,

tiveram seus laços rompidos a partir de 1947, quando o país norte-americano uniu-se e

passou a apoiar financeira e belicamente a Inglaterra, a fim de juntos bloquearem o

avanço comunista.

A tensão entre as duas potências estava instaurada e ambas passaram a

disputar as áreas de influência internacional. A essa espécie de conflito, deu-se o nome

de Guerra Fria e, segundo Lopes (2006), ele serviu de justificativa para que os Estados

Unidos utilizassem toda a sua força política a fim de afastar a “ameaça vermelha” (o

5 Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética.6 A URSS (União das Repúblicas Socialistas) foi uma nação constituída de várias repúblicas soviéticas.

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comunismo) de suas áreas de influência, o que, nas concepções dos próprios norte-

americanos, seria o mundo inteiro. O país se auto-intitulava “guardião da democracia

ocidental”, disposto a fornecer ajuda a qualquer país “ameaçado pelo comunismo”

(BRANDÃO; DUARTE, 1990).

Esse confronto político, militar, econômico e ideológico entre as potências

supracitadas e seus aliados nunca chegou a tornar-se um conflito de fato. Apesar disso,

foi suficiente para “aprofundar o abismo que separava o Ocidente capitalista do mundo

comunista” (BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.15).

Temendo uma nova crise, uma vez que seus principais mercados consumidores

– os europeus – encontravam-se economicamente arrasados após o conflito, o governo

norte-americano instaurou políticas de emprego, induzindo o comunismo à população,

além de desenvolver medidas que auxiliassem seus parceiros capitalistas que haviam

sido fortemente atingidos pela guerra a se reerguerem. Passando a conceder uma série

de investimentos públicos e empréstimos aos países em questão, os Estados Unidos

alegavam que seu principal objetivo era repelir o fim do socialismo que ameaçava uma

expansão.

Porém, o auxílio do governo norte-americano se deve principalmente ao fato

de que o que havia não era uma real preocupação com o comunismo e os países por ele

afetados. Sua intenção era “impor um modelo econômico multinacional, fundamental

para a manutenção da supremacia econômica externa dos Estados Unidos”

(BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.16). D qualquer forma, uma boa parte dos cidadãos

norte-americanos discordava desse posicionamento e temiam que uma nova guerra de

fato se concretizasse.

Porém, da mesma maneira como se diz que esse conflito nunca chegou a se

concretizar, “de fato”, da mesma maneira ele também não teve um fim. O que ocorreu,

depois de a tensão entre as duas potências atingir um nível quase insustentável, quando

bases de mísseis soviéticos foram descobertas em Cuba7, foi uma espécie de

coexistência pacífica.

Com o suposto fim da Guerra Fria, estabeleceu-se uma nova ordem mundial.

Com um mundo em desordem, a única certeza que se tinha é que aquele era um

momento não apenas marcado pelo fim de conflitos internacionais, mas sim o fim de 7 “Em outubro de 1962, os norte-americanos descobriram bases de mísseis soviéticos em Cuba, e Kennedy (então presidente americano) deu um ultimato a Nikita Kruschev (primeiro-ministro soviético) para a retirada dos foguetes. Essa situação colocou o mundo bem perto de uma guerra nuclear, até que Kruschev aceitasse as exigências do presidente norte-americano, em troca de um compromisso formal de absoluto respeito dos EUA pela soberania de Cuba.’ (BRANDÃO; DUARTE, p.43)

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uma era para todo mundo. Um clima de incerteza pairava no ar, e o sentimento de

melancolia e de perda pós-guerra era suprido por bens materiais. A população norte-

americana gozava de um excelente desempenho, o que possibilitou a difusão de uma

cultura de consumo para a classe média.

Os avanços no consumo, somados ao retorno dos maridos ao lar, depois de um

longo período fora de casa em função da guerra, deram origem a um grande crescimento

no índice de natalidade nos Estados Unidos, fenômeno que foi chamado de baby boom.

Num período em que não faltavam empregos e oportunidades, um grande aumento

populacional, que para países subdesenvolvidos seria um quadro problemático, para os

norte-americanos era motivo de euforia: um aumento populacional significava também

um impulso na sociedade de consumo. (LOPES, 2006)

Essa sociedade de consumo que se formava, trazia em si não apenas um

interesse por bens materiais e utilitários, mas bens da industrial cultural também, que

apresentava uma explosão em diversos campos:

O incessante desenvolvimento da tecnologia, tornado-a cada vez mais

sofisticada, principalmente nos meios de comunicação (fotografia, disco,

cinema, rádio, televisão, etc), passou a atingir um grande número de

pessoas, dando origem à chamada “cultura de massa”.

Ao contrário das culturas erudita e popular, a cultura de massa não está

ligada a nenhum grupo social específico, pois é transmitida de maneira

industrializada, para um público generalizado, de diferentes camadas sócio-

econômicas. O que temos, então, é a formação de um enorme mercado de

consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos pela indústria

cultural. Esse mercado constitui, na verdade, a chamada sociedade de

consumo. (BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.11)

Além da explosão cultural acontecendo, havia também o fato de que o jovem

estava mais independente financeiramente graças à prosperidade e aos bons rumos que a

economia do país estava tomando. Com a reestruturação dos lares nesse período, mães e

filhos também estavam no mercado de trabalho, o que aumentava o poder de consumo

das famílias, incluindo os mais jovens. Uma vez que estes jovens já não precisavam

mais ajudar nas despesas domésticas, sobrava mais dinheiro para seus consumos

pessoais. O nascimento dessa cultura jovem global despertou interesse de fabricantes de

bens de consumo, que passaram a produzir produtos específicos para esse “novo

consumidor’:

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A população mundial estava mais jovem do que nunca e para atingir seu

“novo alvo” a indústria cultural tratou de buscar novos produtos que iam do

jeans ao fast food, passando pelo cinema, televisão e, é claro, pela música.

(LOPES, 2006)

Para esses jovens, uma boa parte da indústria cultural era destinada e um

mercado especializado se formava. Era uma geração de jovens consumistas, que

aproveitavam o conforto que a modernidade lhes oferecia. Os jovens desse período

passam a ser o tipo de consumidor que, a partir de então, viraria “tudo de cabeça pra

baixo”. É o que a editora de moda Diana Vreeland definiu como Youthquake ou

“Terremoto Jovem” (PALOMINO, 2003, p.58). Através desse processo, a revolução

cultural jovem foi a matriz de uma revolução muito mais ampla, refletindo-se nos

costumes, no gosto cultural e no apreço pelo lazer em toda uma sociedade.

De acordo com KEHL (2007), esses jovens privilegiados circulavam entre

clubes, envolviam-se com atividades esportivas, freqüentavam lanchonetes, passavam a

consumir com maior constância guloseimas, roupas, cosméticos e acessórios para

carros. Essa infinidade de novos bens de consumo surgia impulsionada pela

prosperidade financeira e para impulsionar o consumo. A fim de manter a economia

interna do país estável e em contínuo crescimento, os fabricantes e as agências de

publicidade encarregavam-se de incentivar os cidadãos a consumir cada vez mais.

Amparados por uma economia em crescimento e incentivados por novos

movimentos culturais, os jovens passaram a criar sua própria cultura, que incluía

vestimentas diferenciadas dos mais velhos e preferências musicais diferenciadas.

Os jovens que haviam crescido em meio à insegurança da guerra muitas vezes

encaravam esse “novo mundo”, impulsionado pela indústria cultural e pelas facilidades

de compra “de uma forma confusa e ansiavam por maiores espaços: mesmo fora do

mercado de trabalho, a necessidade de comprar, criada pelo marketing, fazia emergir o

‘desajuste’ desses jovens” (LOPES, 2006).

Era um período de oposições e contrastes: enquanto alguns jovens se

encantavam com a prosperidade até então desconhecida e alimentavam o consumismo

influenciado pelo governo, outros inconformavam-se, questionando seu papel na

sociedade e refletindo sobre a maneira com que as massas estavam submissas e

alienadas:

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Apesar do progresso e da industrialização, a sociedade norte-americana

permaneceu com valores morais arcaicos e preconceituosos, criando um

vazio e uma insatisfação na juventude, principalmente da classe média.

É dentro desse contexto que surge uma cultura própria da juventude, reflexo

de suas tendências comportamentais de revolta, expressa principalmente

pela música, de forma individualizada ou em pequenos grupos.

(BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.12)

Em meio a esse mundo de transformações e de culturas massificadas, surgia

aquilo que daria início ao conceito de contracultura e influenciaria os demais grupos

(tribos urbanas8) que viriam posteriormente: o movimento beat. De acordo com

BRANDÃO e DUARTE (1990), a Guerra Fria e a cultura de consumo excessivo

serviram de influência para a formação de “um pequeno grupo de jovens universitários

que, através de um movimento literário, tentavam oferecer um estilo de vida alternativo

ao mundo materialista da sociedade norte-americana” (p.26). Segundo HOFFMANN

(2008), esse movimento expressava uma clara manifestação de sentimentos que vinham

perturbando a sociedade, em especial os mais jovens. E essa reação contra o

establishment9 teve seu nascimento justamente onde a “a tecnocracia10 atingia o auge de

seu desenvolvimento: os Estados Unidos” (HOFFMANN, 2008, p.43), mais

especificamente na cidade de São Francisco.

Iniciado por Jack Kerouac11 e consolidado por seus seguidores – William

Burroughs, Allen Ginsberg e Cassady –, o movimento beat traduzia-se em “gestos de

desobediência” e tinha como origem “a frustração do meio intelectual que vivia a

Guerra Fria, o temor de uma guerra nuclear12, entre outros conflitos” (TAVARES, 1983

apud HOFFMANN, 2008, p.42). Essa geração “sem futuro” era composta por

estudantes, poetas, artistas e escritores:

8 Embora o termo tenha sido passado a usar apenas na década de 80, ele se aplica a uma série de grupos surgidos algumas décadas antes.9 O sistema, o grupo dominante de uma sociedade. (CARMO, 2000)10 A sociedade onde o aparato industrial atinge o ápice da sua integração organizacional e “na qual seus governantes justificam-se através de especialistas técnicos que, por sua vez, se justificam através de formas cientfícas de conhecimento para além das quais não cabe recurso algum. Tem como característica a capacidade de se fazer ideologicamente invisível, expande seu poder como um imperativo cultural incontestável” (PEÇANHA apud HOFFMANN, 2008).11 Jack Kerouac (1922-1969), escritor norte-americano tido como o maior ícone e um dos precursores do movimento beat.12 Naqueles anos, o mundo descobria um novo medo: a ameaça permanente da guerra nuclear (CARMO, 2000, p.29).

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Inconformados, os escritores da chamada beat generation buscavam refletir

sobre a multidão solitária absorvida pela ânsia de segurança, pela submissão

generalizada, pelo conformismo e pela necessidade de identificação com a

imagem que a sociedade exige de cada um (CARMO, 2000, p.29).

O inconformismo e o espírito de contestação desta geração começam de fato e

ganham amplitude com a publicação de On the Road (Pé na Estrada)13, de Kerouac. O

livro, tido como a “bíblia” dessa geração e o iniciador da contracultura, influenciou toda

uma juventude que se deslumbrava com os relatos de vida nômade: “a estrada simboliza

a viagem sem rumo como os conquistadores errantes do faroeste americano de outrora”

(CARMO, 2000, p.28).

Escrito em 1951 e publicado em 1957, o livro conta:

(...) as experiências e atitudes de um grupo de agitados jovens norte-

americanos, loucos para viver emoções fortes e cujos principais interesses na

vida, além da literatura, giravam em torno de viagens, estradas, agitadas

festas, jazz, sexo, carona, drogas. Andavam mal barbeados, cabelos em

desalinho, irreverentes e rebeldes.

Através da recém inaugurada rodovia Rota 66 e outras estradas, cruzaram os

Estados Unidos em carro próprio ou carona de um lado para outro. Era um

jeito diferente de viver o mito do vagabundo (CARMO, 2000, p.28).

Uma série de artistas, ao longo do tempo, foram influenciados pela obra literária

de Kerouac, em especial “Pé na Estrada”:

A questão é que tal geração se multiplicou em muitas. Bob Dylan fugiu de

casa depois de ler On the Road. Chrissie Hynde, dos Pretenders, e Hector

Babenco, de Pixote, também. Jim Morrisson fundou The Doors. No alvorecer

dos anos 90, o livro levou o jovem Beck a tornar-se cantor, fundindo rap e

13 “On the Road” é o segundo romance de Jack Kerouac, e sua publicação é um evento histórico, na medida em que o surgimento de uma genuína obra de arte concorre para desvendar o espírito de uma época. (...) É a mais belamente executada, a mais límpida, e se constitui na mais importante manifestação feita até agora pela geração que o próprio Kerouac, anos atrás, batizou de beat e da qual o principal avatar é ele mesmo (MILLSTEIN apud BUENO, na introdução de KEROUAC, 2008, p.7).

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poesia beat. Jakob Dylan, filho de Bob, deixou-se fotografar ao lado da

tumba de Jack (...), como o próprio pai fizera, vinte anos antes (BUENO, na

introdução de KEROUAC, 2008, p.12).

O termo beat, que contemplava um movimento literário14, poético e

comportamental, podia ser traduzido como beatitude, santificação, mas também como

“batida” (do jazz), embalo, ritmo (“usado também pra expressar cansaço, saturação”). A

expressão remetia às batidas, ao ritmo compassado daquele momento. O nome Beatles,

inclusive, derivou da fusão das palavras beat e beetles15. Se referia, também, a um

“estilo de vida aventureiro pelos que, sem eira nem beira, andavam à deriva pelas

estradas da América, em busca de aventura, aproveitando-se da opulência material do

american way of life” (BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.26, grifo nosso). Assim, ainda

afirma Carmo, o movimento beat não consistia apenas uma libertinagem, uma falta de

normas ou um modo de vida baseado no improviso. Ser beat significava:

(...) a busca de um envolvimento profundo que traz música,

balanço, liberdade, prazer, na procura da realidade marginal das

minorias raciais e culturais no interior da sociedade norte-

americana. (BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.26)

Desta forma, o termo “geração beat”, bem como a cultura produzida por esta,

não consistem em “movimento estético-literário organizado” e com normas

preestabelecidas. Este se referia, na realidade, a poetas e escritores (como, além dos já

citados Kerouac, Burroughs e Gingsberg, também Lawrence Ferlinghetti, Gregory

Corso, Gary Synder, etc.) que viviam de maneira nômade pela América dos anos 50 e

mostraram, no campo das artes, que “poesia e prosa podiam ser criadas como uma

experiência vivida pelo próprio autor, fora de qualquer padrão acadêmico-universitário”

(BRANDÃO; DUARTE, 1990, p.26 e 27).

14 O estilo literário beat pode ser considerado “laudatório, verborrágico, impressionista, vertiginoso, incontido, ‘espontâneo’, repleto de sonoridade, de gíria, de coloquialismo e de aliterações (...)” (BUENO, na introdução de KEROUAC, 2008, p.11). Além de Kerouac, os principais autores do movimento foram movimento William S. Burroughs e Allen Ginsberg.15 Besouros

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Logo a imprensa, contrariando a contestação dos beats criou, com intenção

depreciativa, a expressão beatnik, que consistia da fusão de beat com nik, terminação da

palavra Sputnik, o primeiro satélite soviético lançado no espaço, em 1957. O termo

tinha a intenção de designar “os rebeldes jovens americanos aludindo à suposta simpatia

deles pelas idéias esquerdistas e de revolta contra o conformismo” (CARMO, 2000,

p.29).

O movimento beat pode ser considerado uma das expressões mais significativas

da contracultura. Foi com ele que surgiu “o primeiro movimento literário

verdadeiramente popular que acontecia nos Estados Unidos desde a Geração Perdida da

Década de 2016” (PEÇANHA, 1987 apud HOFFMANN, 2008, p.43). Além disso,

deixou também marcas na história da arte tendo como ícone o artista plástico Jackson

Pollock17 – amigo de Jack Kerouac e conhecido como Jack the Dripper.

Para os críticos, eles eram apenas jovens burgueses revoltados com suas próprias

vidas. Mas, rejeitando os velhos valores burgueses, os beats iniciavam um movimento

de valorização da espontaneidade e da natureza, além da “expansão da percepção”,

oportunizada pelas drogas, pelo jazz e pelas religiões orientais (CARMO, 2000, p.28):

Allen Ginsberg (1926-1997) fazia freqüente uso de alucinógenos a fim de

ampliar a percepção e a sensibilidade poética. E todos eles buscavam uma

outra ordem espiritual: a “viagem” interna.

Outro membro, embora mais independente da geração beat, William

Burroughs (1914-1997), mais velho que os demais, se tornara célebre pela

variedade e quantidade de drogas que já experimentara. Seu primeiro livro,

Junky (em inglês “drogado”), de 1953, retrata como ir a fundo no vício.

Trata-se obviamente das “fissuras” provocadas pelas drogas pesadas:

dependência, delírios, devaneios e visões alteradas (CARMO, 2000, p.28-

29).

16 Grupo de literários norte-americanos que viviam na Europa, especialmente em Paris, na década de 20. Dentre eles, destacavam-se Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Além de escritores, alguns músicos do jazz também fizeram parte do movimento.17 Pintor norte-americano que foi referência no movimento do expressionismo abstrato.

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Os beats estavam relacionados com os existencialistas franceses surgidos no

pós-guerra. Tendo como “papa” (CARMO, 2000) o filósofo Jean-Paul Sarte18 (1905-

1980), o existencialismo era uma corrente de pensamento surgida na França, no período

que sucedeu à Segunda Guerra Mundial:

Após a Segunda Guerra Mundial, um grupo de filósofos franceses refletia

sobre a angústia da existência humana. O impacto da experiência traumática

das guerras mundiais havia gerado ampla discussão entre alguns intelectuais,

e se tornara moda particularmente entre os jovens. Tratava-se do

existencialismo (CARMO, 2000, p.25).

O existencialismo era um fenômeno e se espalhava com facilidade pelo mundo.

Com a juventude politizada que se formava no Brasil, não foi diferente. Até as

festividades carnavalescas foram influenciadas por esse movimento, com a criação da

marchinha “Chiquita Bacana”, que tratava, de acordo com Carmo, de uma mulher

existencialista “que só se cobria com uma casca de banana” (CARMO, 2000, p.25). A

repercussão foi tamanha que a música chegou a ganhar uma versão francesa – e,

posteriormente, foi gravada também na Argentina, Itália, Holanda, Inglaterra e nos

Estados Unidos. Toda essa repercussão espelhava o fato de que o existencialismo era o

reflexo de um clima espiritual que atingia o mundo inteiro:

Descrente da capacidade de a humanidade solucionar racionalmente seus

problemas, a juventude do pós-guerra se via tomada por uma sensação de

desânimo e desespero. Isso, porém, não resultava em inatividade absoluta. Os

existencialistas, ateus, deram a essa juventude novas formas de pensar o

mundo, a partir do pressuposto de que existir já é um enorme absurdo.

O primeiro objeto de reflexão filosófica dessa doutrina é o homem, não na

sua essência ou no mundo das idéias, mas na sua existência concreta. Os

filósofos afirmam que somos os arquitetos de nossas vidas, os construtores de

nosso próprio destino, embora submetidos a limitações reais do dia-a-dia.

Numa espécie de inversão da proposição de Descartes (Penso, logo existo), o

núcleo seria “existo, logo penso”. Paralelamente procuram desvendar o

mundo interior do ser humano, a solidão, o sentimento de revolta (CARMO,

2000, p.25-26, grifo nosso).

18 Filósofo francês, influenciado por Kant, Hegel e Heidegger. Em seu relacionamento amoroso com Simone de Beauvoir, difundiu idéias modernas de não-monogamia e casamento liberal. Oriundo de uma família pequeno-burguesa, era contra esse modelo de vida. (SARTRE, 2006, p.5-6 – biografia do autor)

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O existencialismo influenciava toda uma geração que se encontrava desolada e

buscava algum sentido na vida. Mas não era apenas sobre os nichos intelectuais que

movimento se refletia. CARMO (2000), afirma que muitos jovens de fato inseriam-se

com rigor acadêmico na compreensão da filosofia existencialista, porém uma boa

parcela deles, “mais superficiais”, absorviam do movimento apenas os valores de

estética pessoal (a moda).

Como vemos, embora o existencialismo tivesse seu ponto inicial na filosofia,

onde os pensadores buscavam sentido na vida e debatiam sobre o livre arbítrio do ser

humano, o movimento acabou por determinar o comportamento e o estilo de vida de

toda uma geração de jovens que procuravam “encontrar o seu eu”. Com um estilo de

vestir que beirava a melancolia – bem como suas idéias –, esses jovens reuniam-se em

cafés, especialmente em Paris, para beber, ouvir jazz, recitar poemas pacifistas e discutir

suas idéias. A melancolia e a permissividade desses jovens eram apenas um reflexo do

mundo em que viviam e do seu descontentamento com os rumos da sociedade, mas

eram vistos de maneira negativa pelas gerações mais velhas:

A imaginação popular distorcia a figura do existencialista: recusa às normas

estabelecidas, aparência descuidada, cabelos abundantes, amargura e

desrespeito à moral tradicional, entrega aos prazeres da vida. Considerava-se

que se preocupavam apenas em explorar o lado melancólico da existência

humana, o desespero, e se compraziam no tédio. “Existencialista” passou a

designar as pessoas que se desviavam do procedimento usual ou que

infringiam as regras estabelecidas.

Jovens com trajes em desalinho, displicentes, com barbas, com casacos de

couro preto, (...) bebiam e dançavam, ouvindo jazz.

Sartre passou a ser o responsável pelo suposto caráter permissivo, em

particular dos adolescentes atormentados da época. “A vida não tem sentido,

Deus está morto, não existe lei moral, o homem é uma paixão inútil”. Ao

falar dessa maneira, o filósofo insuflava os jovens, os rebeldes e os

descontentes. Na verdade, porém, Sartre não traz solução para os

adolescentes sem rumo. Mas em todo o mundo, e em particular no continente

americano, foi entendido como a voz da rebelião e da liberdade (CARMO,

2000, p.27).

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Sobre o estilo melancólico dos beats e existencialistas, vemos a análise de

Wilson (1985), citado por Hoffmann (2008):

À medida que os beatniks exageravam os lábios pálidos, os cabelos lisos e as

roupas pretas e o tornavam uma espécie de uniforme de revolta, e que Mary

Quant19 transformava na última moda. A utilização do preto pelos beatniks

vinha das modas existencialistas do pós-guerra, da margem esquerda de

Paris, apesar de o preto ser a muito tempo o sinal da revolta anti-burguesa.

(...) A combinação das influências dos dandies e dos românticos que

transformava o preto numa afirmação estrondosa de revolta (WILSON, 1985

apud HOFFMANN, 2008, p.49-50).

Como se pode perceber, o estilo pessoal dos jovens do movimento beat, embora

tenha vindo a tornar-se moda para mesmo aqueles que não pertenciam ao movimento,

traduzia os anseios e sentimentos dessa geração. As roupas pretas e a certa rigidez do

estilo dândi, os cabelos lisos, a palidez dos rostos eram claramente um retrato da

melancolia de uma juventude que não via seu papel na sociedade e não sabia que futuro

lhe aguardava.

Os beats podem ser considerados influenciadores dos movimentos que viriam

em seguida. Os posteriores mods e hippies podem ser considerados “continuadores de

um estilo de vida, princípios e objetivos delineados por aquela geração”. (PEÇANHA,

1987 apud HOFFMANN, 2008, p.47).

Considerações finais

Com o presente estudo, verificamos que os grupos de contracultura, aqui

exemplificados pelo movimento beatnik, surgem a partir de fatores sociais, políticos e

econômicos das sociedades em que os membros de tais grupos estão inseridos e

traduzem-se em elementos culturais e estéticos.

Compreendemos, assim, que, através da moda, em sua amplitude geral – não

apenas, mas também através da indumentária – se caracteriza todo um período histórico.

As pessoas que lançam modismos ou criam movimentos culturais, em geral, são aquelas

19 Uma das mais reconhecidas estilistas das décadas de 50 e 60, foi a responsável pela criação da minissaia e envolvia-se com o movimento beat.

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que estão profundamente inseridas no contexto sociológico de seu tempo, podendo

assim identificar os novos comportamentos que, futuramente, substituirão os então

vigentes. Assim, podemos dizer que entre moda e história se estabelece uma relação

mutuamente constitutiva.

Para realizar tal estudo e compreensão, existe certa dificuldade em estabelecer

conceitos definitivos sobre o fenômeno moda, relacionado com fatores sociológicos. Da

mesma forma, há uma complexidade em definir e limitar os grupos sociais e seus

períodos, considerando que as transformações mundiais ocorrem de maneira sutil e

progressiva, fazendo com que, durante alguns períodos de transição, a sociedade mescle

características dos movimentos que está prestes a deixar para trás com outras dos que

estão sendo inseridos em sua realidade.

Precursores das idéias de contracultura, indo contra os padrões de consumo e

ideológicos da sociedade vigente, os beats deixaram um legado cultural e ideológico

que possibilitaram o surgimento de posteriores grupos contraculturais.

Percebemos, nesse estudo, a conexão entre os fatores sociológicos vigentes e a

moda utilizada pelas massas no período. Esse entendimento se fez necessário para que,

na análise isolada da contracultura, compreendêssemos o porquê de determinada

indumentária tribal. Compreendendo a história, se compreende o porquê da contestação;

compreendendo a estética vigente (moda), se compreende o porquê da estética do grupo

contestatório. Além da moda, vemos as artes – plásticas e literatura, por exemplo –

como características do grupo. Cremos que humanidade sempre utilizou as artes para

expressar sua revolta e contestação.

Com essa análise, acreditamos que as tribos também são fatores sociológicos,

sendo influenciadas por e influenciadoras de sua sociedade. Com isso, compreendemos

não apenas a história do grupo da contracultura estudado, mas também adquirimos uma

maior capacidade de compreensão dos grupos que surgiram posteriormente e continuam

surgindo, bem como compreender de onde surgem muitas dos modismos que

visualizamos nas passarelas e revistas de moda.

Todos esses fatores nos levam a confirmar que a moda não se limita, e mais, não

se foca apenas ao vestuário. Nela estão imbricados também fenômenos artísticos –

música, literatura, cinema, artes visuais –, de comunicação – televisão, rádio, mídia

impressa –, além de fatores comportamentais.

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