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u
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o REALISMO DE CADA interdependência e relações
políticas entre os Estados no mundo pós- erra fria
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We are presented with a rare historical momem in which (. .. ) the
transfonnations of economies are blurring the lines between natwns1
Robert B. Reich
The boss of an internatwnal cempany who staked everything on a strong
move of the world ecenomy towarda integration in the next five years
would be a foal. 2 The Economist
ivemos numa era de interdependência. Esta frase vaga expressa
um sentimento mal compreendido, embora generalizado, de que a-própria natureza da política mundial está mudando."
Marcos B. A. Ga/vão
Assim começa, não o último livro da moda sobre o chamado pás-guerra fria, mas o já 'clássico' Power and interckpencknce, lançado ainda nos anos 70.3 Os autores partem do pressuposto de que nem os 'tradicionalistas', com sua insistência na atualidade intocada dos postulados do realismo, nem os 'modernistas" convencidos de que as telecomunicações e o avião a jato estariam criando uma 'aldeia global' sem fronteiras, oferecem uma moldura adequada à compreensão da interdependência. Enquanto 05 primeiros insistem na prevalência do fator estratégico-militar e revelam-ee incapazes de atribuir o necessário peso ao aprofundamento da interdependência econômica, social e ecológica, 08 últimos apreBSam-ee em considerar que 08 avanços tecnológicos e o aumento das transações internacio-
Nota:. O presente artigo é escrito 8 Ululo pc soai e não representa o pen60mento do Ministério dQ8 RelAções Exleriore8. Gelson Fonseca Jr., Luís Fernando Panelli César, Evandro OidoneL, Sérgio DanE !e, Alexandre Parola e Gisela PQ8Choal contribufram com críticas e sugestões.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 6, n. 12, 1993, p. 149-161.
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nais levariam a um mundo em que 08
Estados e o controle da força armada perderiam importância.4
Com a vantagem da perspectiva de meados de 1993, sabemos que os modernistas acertaram muito mais do que Keohane e Nye jamais poderiam supor. Tal fàto não retira, porem, a utilidade de muitos aspectos desenvol· vidos em Power anel interdependence, razão pela qual o presente texto começa por um breve apanhado de algumas idéias centrais do livro.
Os autores pa rtem de raciocínio simples: interdependência 'significa dependência mútua e, no caso de política internacional, refere-se a situações de efeito recíproco entre países ou atores em diferentes países. Tais efei· tos decoJ'J'em, com freqüência crescente, de transações internacionais - fluxos de dinheiro, bens, pessoas e mensagens através das fronteiras. Evitando otimism06 infundados, Keohane e Nye advertem que tal definição não se restringe a situações em que DCOne beneficio mútuo (e vão mais além): toda relação de interdependência envolve custos, ao menos na COllUa de limitação da autonomia, e não há como saber a priori se os ganhos serão suficientes para compensá-los. Aliás, tampouco haveria razões para assumir que a possibilidade de ganhos compartidos ajudaria a diminuir a disputa para apropriá-los: em 6uma, não estaria ocorrendo B substituição do velbo mundo mau do conflito internacional pelo novo mundo bom da cooperação.
Em geral, observam, as situações de interdependência não são equilibra· das; encontram-se geralmente entre os extremos da simetria perfeita, de um lado, e da dependência completa, do outro. A posição ocupada nesse espec· tro afeta as condições de barganha entre os atores envolvidos, pois a interdependência assimétrica (em que um de-
pende mais do que o outro) pode, evi· dentemente, transeOJ mAr�e em fonte elou instrumento de poder. Por si SÓ, no entanto, essa Assimetria não explica o desdobramento e o resultado dos processos específicos de negociação,já que há diversas modalidades de interdependência, as quais se tradurem em diferentes relações de poder.
Antes de delinearem seu modelo alternativo, Keohane e Nye invocam o 'papa' do realismo e sua obra.mestra,6
para resumir os fundamentos daquela linha de pensamento:
a) os Estados são 05 atores dominantes Das relações internacionais e comportam-se como unidades coerentes;
b) embora outros,instrumentos também possam ser utilizados, o liSO da força, ou a ameaça de seu emprego, é a COlma mais efetiva de exercício do poder,
c) existe uma hierarquia de temas na política mundial, com predomínio das questões de segurança militar sobre 08 assuntos econômicos e sociais.
Aos parãmetros básicos do realismo, Keohane e Nye opõem as linhas essenciais do modelo que designam 'in_ terdependência complexa':
a) as sociedades são ligadas por 'canais múltiplos' - fOl'lIIais, de governo a governo; infol"mais, entre elites governamentais e não-governamentais, e entre organizações transnacionais;
b) a agenda das relações interestatais não obedece a uma hierarquia clara e consistente - os temas de segurança nem sempre predominam; muitas questões têm origem no cenário nacional e díficultam a distinção entre interno e externo; matérias diferentes levam a coalizões também distintas (dentro, fora e entre 06 governos) e acarretam graus variados de conflito;
c) quando a interdependência complexa prevalece numa dada região ou num determinado tema, os governos
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envolvidos não empregam a força uns contra os outros.
Enquanto model06, tal como descritos acima, o realismo e a interdependência complexa não são necessariamente excludentes e podem mesmo complementar-.;e. Em certo sentido, trata-se de duas formas próximas de analisar a realidade,já que ambas procuram revelar o mundo como ele é, não como deveria ser. A diferença fundamental entre elas reside na disp06ição menor ou maior de reconhecer que houve mudanças e6senciaia nas regi 85, ou pelo menoe na prática das relações internacionais ..
Os chamados 'realistas' insistem na atualidade de seus pressupostos, com uma certa dose de fatalismo: o mundo é assim, a natureza humana é assim, 8S relações internacionais são assim. Quando confrontados, por exemplo, com o fato de que há décadas não ocorrem guerras entre 05 atores mais relevantes do sistema internacional, ou entre duas democracias, respondem com o argumento de que, em primeiro lugar, essa paz deveu--se a uma situação clara de equilíbrio de poder entre as superpotências, em consonância, portanto, com as prescrições do realismo. E raramente deixam de assinalar que, em última instância, 06 conflitos tenderão a ser dirimidos entre Estad06, a partir do uso, ou ameaça de emprego da força. Por detrás da visão realista parece haver sempre um tom de sahedoria confol'mista: não se iludam com as aparências, o mundo não mudou (nem vai mudar) tanto assim.
Já os chamad06 'modernistas', na designação de Keohane e Nye, exageram na ênfase que dão 806 sinais de mudança. Se isto já ocorria nos anos 70, com muito mais razão acontece hoje: a guerra fria acabou, a União Soviética dissolveu·se, o comunismo está em
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vias de extinção. E hem mais fácil su-
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por, idealmente, que vivemos num mundo novo do que insistir em que, no essencial, as COi888 continuam iguais.
A ma ior parte da literatura sobre relações internacionais ainda é produzida n06 Estados Unid06 e dirige ... e prioritariamente ao público daquele país. Ora, 06 acontecimentos dos ú1tim06 quatro an06 afetaram fundamentalmente a posição d06 EUA no mundo e alteraram o pepel que lhes cahe no cenário internacional. Essa circui15-tãncia, aliada à percepção de perda de espaço relativo no conjunto da economia mundial, fenômeno que vem sendo apontado há mais de vinte an06, reforçou ainda ma is a vocação do mundo acadêmico para tentar identificar novas tendências globais e indicar caminhos alternativos.
Há mais de quinze anos Keohane e Nye já alertavam que, para os EUA, uma questão central seria como exercer liderança internacional sem capacidade hegemônica: 'Temos de aprender tanto a conviver com a interdependência, como a utilizá-la no exercício de liderança".6 Lester Thurow, em 1992, também anuncia novidades e oferece conselhos:
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"E dificil admitir que o mundo mudou e que as n0S88� antigas virtudes já não são virtudes. E muito difícil reconhecer que novas realidades forçam a criação de novas virtudes - noV06 procedimentoe, novas regras, e novas instituições".7 Laura Tyaon é ainda mais explícita: "O colapso da URSS oferece oportunidade para reconsiderar prioridadee nacionais e para ti"ocar 06 deeafi08 militaiC6 1�t��do pelos desafios econômiC06 do
Aliás, essa é uma diferença entre 08 modernistas (sobretudo 06 economistas) e 06 realistas. Os primeiroe apontam para a interdependência econômica, para o processo da chamada 'globalização', e, a partir daí, faum suas anãlises e recomendações. Os últimos,
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jX)r sua vez, comportam-se como ver· dadeiroe marxistas às aveesB5, ou seja, encaram as conelaçóes de poder e segurança militar como dado estrutural, e 88 mudanÇ8B no plano econômico, como fenômeno8 8upereetruturais. Contrariam, Assim, evidências inefuw táveis de que, nas palaVl'88 de Gelson FoD6eC8. Jr., °8 economia deixa de ser comandada pelas nece68idades de segurança e passa a gerar pautas para a decisão política".9
De qualquer modo, não é propósito do pl'esente trabalho aprofundar a análi.se das divergêllL'ias de ponto de vista entre cOl'l'entes teóricas. O objetivo da descrição simplificada dos dois modelos é I e forçar a idéia, defendida por Keobane e Nye, de que a compreensão das relações internacionais no mundo contemJXlrâneo não invalida as concepções tradicionais, baseadas no primado das relações de poder entre Estados, mAS exige que sejam combinadas com novas fOl"mulações, no centro das quais se encontra, com peso significativo, a noção de interdependência, que não se limita à esfera econômica, e abrange todas as oub as
dimensões da vida coletiva das sociedades.
Três temas da transição
Os eventos dos últimos anos f12eram com que mesmo 06 analistas ma is cétiCOS reconheçam algum nível de mudança e que, em sua grande maioria, admitam estanll08 atravessando um período de transição no qual continuidades convivem com descontinuidades, o velho, com o novo: em primeiro lugar, nem tudo mudou; em segundo, nem tudo muda no mesmo ritmo. Nota-ae, por exemplo, uma clara diferen'ça de 'tempos' - enquanto as ltaDsformações no âmbito político estratégico
ocol"leram mais recentemente e foram marcadas por acontecimentos de li' ande impacto efetivo e simbólico (queda do muro de Berlim, extinção da URSS), na área econômica estão em curso pro· ce8808 (transnacionalização e integla· ção econômica, globalização, aumento
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do peso da Europa e Aeia-Pacífico, que paessm a ser vistos como novos 'pólos' das relaÇÔ<ll5 internacionais) que se vêm aprofundando há IDai. de trinta anos e não tiveram marcoe divisores táo I;)Ítidos.
Ainda assim, existe uma razoável coincidência de opiniões quanto às características mais marcantes do perío· do em que vivemos, as quais podem ser mais claramente visualizadas se con· siderarw08, entre outroe, os três aspec· tos mencionados na descrição dos modelos do realismo e da interdependência complexa.
I - Papel do Estado
Falar em 'crise do Estado' tornou-se um verdadeiro clichê na última década. Oe diagnósticos e crítiCAS vieram das fontes mais variadas: dos neoliberais conservadores, que atacaram o welfare state; da eequerda, que continuou a reclamar o cumprimento das obrigações sociais do setor público e a resistir à hegemonia neoliberal; dos 'pós-modernos' (verdes, paCifIStas, hom088exuais, ONGs etc.), que int,oduzÍtam nOVaB reivindicações na agenda política e não se satisfizeram com a resposta por parte do Estado; e da própria burocracia estatal, que sofre com a crescente disparidade entre o volume de encargos e a escassez de meioe e anseia por modernizar-se.
Por outro lado, as sociedades tornaram·se mais complexae e, a cada dia, novos temas demandam a ação do Estado. Nas palaVl'88 de Celso Lafer, "015 governos não estão conseguindo mais
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processar ae demandas que lhes chegam".lO No dizer de Nicoe Poulantzaa, a legitimação do Estado pa ..... a depender de uma 'racionalidade instrumental', ou seja, do julgamento da eficiência de suas incurséiee no domínio da econOlnia (para enfrentar problemaa, como a inflação e o desempre�, que não tem capacidade de resolver).ll Estaríamos, assim, bem próximos de uma situação de pel manente crise de legitimidade.
Além dessas dificuldades na frente interna, é amplamente aceito que a interdependência cada vez mais profunda na economia mundial, com a presença marcante de entidades trsnsnacionais, e a intensificação dos contatos e trsnsaçóeB diretas através daa fronteiras nacionais condicionam, hoje, a posição do Estado como ator primordial daa relaçóes internacionais. Há que reconhecer, portanto, o desconforto dessa posição: havendo perdido progt essivamente o poder de controlar os fluxos de dinheiro, de informação e de mercadorias, O Estado continua a ser considerado lusponsável por mis. sões internat5 e externas que dependem fortemente da situação econômica nacional, a qual, por sua vez, está sujeita a08 efeitos de sua inserção no contexto global.12 Mas essa não é uma tendência unívoca, p:>Í8, de outra parte, cada vez mais o comércio vem sendo 'administrado' pel08 govern06, que também atuam intensamente na negociação de normas e 'regimes' internacionais. Ai está a eleição de BiII Clinton (a perda de impulso da onda neoliberal) a indicar um desejo de volta da 'mão visível' do governo no estabelecimento de políticas industriais e na promoção de programas de competitividade. Essa demanda por um maior intervencionismo resulta, em boa medida, da compreensível vontade - de setoIes, grupoe ou empresas - de conter oe
custos da globalização (conco" ência de produtos estrangeiros, perda de terceiros mercad08, desemprego etc.) e, se poesível, permitir melhores condições de participação no intercâmbio global.
Em resumo, coexistem tendências de reforço e de condicionamento do papeI do Estado nas relaçóeB internacionais. Ao contrário do que muitoe anunciaram n06 anos 70, 88 empresas mui· tinacionais não assumiram o controle do mundo e os vínculos privados e infor'liiais entre movimentos, organiza::, ções e indivíduos não puseram em segundo plano as fOI maa trsdicionais de relacionamento entre países, Embora, como dizem K.eohane e Nye, as socie· dades estejam ligadaa por múltiplos canais, o Estado peJ"loanece como o agente fundamental daa relações internacionais, ainda que opere num universo onde outros tipos de atores têm presença cada vez mais importante e decisiva.
11 - Poder militar e poder econômico
A imensa ma ioria dos analistas do mundo contemporâneo não tem dúvÍ· daa de que a força militar perdeu espaço para a capacidade econômica como fonte e instrumento de poder: o 80ft power tem um peso crescente, em de· trimento, de certa forma, do hard power, Esse é um fenômeno decol"iente do extraordinário crescimento das relações econômicas internacionais, mas também, em parte, do próprio potencial destrutivo dos aiSenais acumula· dos desde a 11 Grande Guell a, o qual, somado ao equilíbrio entre as supelP,Otências, 'imobilizou' esse poderio e le· vou a quase meio século eem confrontações annadaa entre 08 principais atores da cena mundial. A88im - e embora, em última inatância, não 86 JXlMB excluir a poesibilidade de uso, ou
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ameaça de emprego da força, e o significado crucial que o poderio militar ainda tem nas relações internacionais - a deter111inação do status e do poder de cada país passa a fazer"'8e, maia e mais, a partir de critérioe econÔmicoe.
Não se trata meramente de substituir uma medida por outra. Em primeiro lugar, porque a capacidade ec0-
nômica não é tão facilmente mensurável quanto o poderio militar. Se este último pode ser expresso em número de homens, navioe, tanques e ogivas nucleares (ainda que tampouco essa transposição fosse automática e linear, como a própria 'imobilização' das armas nucleares confirmou), aquela tem um número muito maior de indicadores, que precisam ser selecionados a partir de critérios, 06 quais, por seu turno, também são variáveis. Que parámetro deve ser escolhido: PIB (por qual processo), comércio exterior, exportações/PIB, endividamento externo, abertu ta do mercado doméstico, taxa anual de crescimento? Em segundo lugar, porque a 'tradução' que se fazia da força militar em poder internacional não serve para aferir como a capacidade econômica se converte em poseibilidade de influência (que influência têm, por exemplo, alguns paí-
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ses mêdios da Asia que se destacam pelo desempenho exportador, pelos gi andes superávits comerciais?), pois esses dados estarão condicionados por outros (dimensão territorial e demográfica, situação geográfica, posição no contexto regional etc.) nessa conversão. Em terceiro, porque a interdependência progressiva na economia mundial limita o controle que os governos nacionais têm condições de exercer sobre as transações internacionais (diariamente, por exemplo, mais de US$ 500 bilhões passam pelos princif:j'is mercados de cámbio do mundo) 3 e condiciona seu espectro de decisão.
Para concluir, poda.se recorrer a um trabalho mais recente de Nye:"As fontes do poder jamais são estáticas e ( ... ) continuam a mudar no mundo de hoje. Numa era de economias baseadru5 na infOl'lllSçãO e de interdependência transnacional, o poder está-se tornando menos fungível, menos tangível, e menos coercitivo. O século XXI dará
. I pod ,,_, . um mAIOr pape ao er UllO]'lHaClO·
na\' e institucional, mas a força militar continuará a ser um fator importante, assim como a escala econômica, tanto em terrnos de mercado como de recursos naturais:,14
111 - Agenda e prioridades
Durante Q'Jase meio século, o conflito Leste-Oeste esteve no topo da agenda internacional, não apeMS porque, em última instãncia, havia a hipótese de uma confrontação nuclear, mas também porque a própria natureza da guerra fria subordinava tudo mais à lógíca da bipolaridade. Eeaa precedência era cobrada pelas superpotências aos seus aliados, sobretudo 806 mais revelevantes estratêgica ou economicamente. Nesse contexto, era natural que os assuntos de segurança tivessem prioridade, muito embora as considerações de ordem econômica já viessem ganhando espaço e, em certas circunstâncias, prevalecendo sobre os primeiros.
Com o fim da guen a fria, coruU'lllase a avaliação de Keohane e Nye (mencionada acima) de que a agenda não obedece a uma hierarquia clara e consistente e de que os temas de segurança nem sempre predominam. Convém, no entanto, evitar a impressão de que estamos diante de uma agenda aberta, livre. Em primeiro luga� a agenda das relações internacionais fi continua a refletir, quase sempre, a agenda internacional dos países mais importantes, a qual, por sua vez, deriva geralmente
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de suas agendas nacionais. Em segundo lugar, consolida ... e a tendência, devida talvez ao afastamento da ameaça nuclear e às dificuldades enfrentadas pelas principais economjas do mundo, de atribuir--se prioridade às matérias q\te afetam direta e imediatamente a qualidade de vida das sociedades roa is desenvolvidas (comércio, imigração, tráfico de drogas, terrorismo, AIDS etc.). Mesmo um problema como o do meio ambiente, que dessfm indiscriminadamente o conjunto do planeta e é um doe grandes símboloe da interdependência, perde peso pelo fato de não haver convicção quanto à urgência de se mobilizarem recUI'5OS para enfrentá-lo. Isto para não mencionar as questões que dependem também da solidariedade, como direitoe humanoe, pobreza e fome; estas só entram na agenda quando 'traduzidas' em ameaça à segurança das áreas prósperas da Terra (migrações, epidemias, guen as etc.), ou quando a força de imagens e dados transmitidos pelos meios de comunicação desencadeia uma motivação ético-humanitária para movimentoe de mobilização e preBBão, e até para ações armadas (como ocorreu na Somália). A propósito, cabe mencionar o debate sobre a tese de que, diante dessas situações, haveria um 'dever de ingerência' por parte da comunidade internacional.
Mas se, por um lado, não estamos diante de uma agenda táo aberta quanto conviria, por exemplo, aos países em desenvolvimento, por outro, não se pode negar que houve algumas mudanças significativas:
- ao contrário do que ocorria oom o marco ideológico da guerra fria, a prevalência do econômico terá um efeito dia . 16 (di 'da� d
. pel'81VO venn .. e e temas e in-
telb8Be6 na-c:;,ee campo gera dispersão entre peíses e dentro doe países, pois, enquanto as questões ideológicas e estra-
tégiCRS uniam e mobilizavam, mantendo alianças dumdouras 'acima' desses
'te . ifi " m resses malS espec lC06, as maténas
econômicas n:asaltam as diferenças e até divergências de perspectiva, tanto no plano internacional, como no nacional - a vantagem comparativa de um pode ser a desvantagem do outro; o ne
gócio de uma empresa pode significar prejuÍzo para a outra; um emprego aqui talvez produ71I um desempregado do outro lado da fronteira etc.);
- a transposição de boa parte das preocupações com segurança militar do plano global para o regional, e a diversidade de interesses no ten eno sóci�conômico dificulta a conciliação das agendas nacionais e regionais num temário global (antes havia uma estrutura mundial de segurança, a ordem da guerra fria, que fornecia a moldura para o 5ogo' internacional; agora, com a tendência para a adoção de esquemas de segurança com ênfase regional - o processo em curso de definição de uma 'arquitetura' européia de segurança, por exemplo -, e a presença de apenas
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uma superpotência com interesses verdadeiramente globais, torna ... e mais dificil fazer com que a romunidade das nações tenha prioridades coincidentes, além do domínio da retórica);
- a determinação da agenda e das prioridades passa a obedecer à influência crescente de agentes não-governamentais (empresas, moviinentos sociais, ONGs, imprensa etc.), entre os quais existem, evidentemente, contrastes e contradições;
- em função do tema, tendem a formar-se coalizões Ide geometria variável', sob lideranças igualmente variáveis, que convivem com outras coalizões, formadas, não a partir de questões específicas, mas de dados como vizinhança geográfica, semelhança de nível de desenvolvimento etc.
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Em síntese, como é típico do período de transição que vivemos hoje, tem· bém no que se refere à agenda e às prioridades internacionais há elementos de continuidade e de mudança. A propósito, valem algumAS observações: primeiro, o avanço da g1obalização econômica e o aprofundamento da interdependência em todoe 08 campos fazem com que a solução d"" problemas nacionais de cada país passe cada vez mais pelo ajuste de seus vínculos internacionais; torna--se, assim, mais importante ter acesso ou participar ativamente das instâncias que defmem a agenda das relações internacionais (tanto para buscar incluir temas e prioridades do próprio interesse como para evitar inclusões e ênfases contrárias a tal interes.se); além disso, embora continuem a prevalecer a vontade dos 'fortes' e suas preocupações (agora preferencialmente com questões passíveis de afetar-lhes a ·segurança sócio--econômica'), novos espaços se abriram a partir da substituição da agenda da guerra fria (na qual as prioridades e lideranças eram flXas, embora muitos considerem, por exemplo, que os temas de interesse dos países em desenvolvimento tinham mais espaço naquela época do que \loje) por outra que se transforma ao longo do tempo, sob lideranças também variáveis.
Cabe uma indagação fina \: se, por um lado, a dispersão cansada pela prevalência da economia sobre a segurança pode aumentar a diversidade e flexibilidade das alinças, da agenda e das prioridades, por outro, talvez se justifique o temor de que ... .sa mesma dispersão de interesses e vontades (e o particulari.smo 'egoísta' dos cálculos fundados em perspectivas exclusivamente individuais e nacionais, que deixam de lado considerações ideológiei,,' e estratégicas), além de dificultar a formação de alianças duradouras, acabe por impedir
a construção de consensos, sobretudo aqueles 'consensos ativ06', que envol· vam mobilização de recursoe hUmSIlO6, materiais e políticos, indispensáveis para que a comunidade internacional consiga lusolver alguns de seus maiores problemas. A frustração das expectativas geradas pela Conferencia do Rio, a paralisia da Rodada Uruguai do GA'IT e o tratamento da crise na ex-Iugoslávia são exemplos distintos'e eloqüentes dessa dificuldade.
Realismo e interdependência
A observação desses três aspectos da realidade contemporânea - os mesmos três empregados por Keohane e Nye para a caracterização do realismo e da interdependência complexa - confrrma que os dois modelos podem ser úteis para a compreensão das relações internacionais nos dias de hoje. Porque nem tudo mudou, nem tudo vai mudar, o reali.smo conserva sua atualidade. Porque muito já mudou, e muito ainda vai mudar, a visão da interdependência, por refletir tendências que continuam a aprofundar--se, torna.-ee cãda vez mais essencial.
Para ilustrar de forma mais clara como o realismo e a interdependência podem combinar-se, estabelecem-se daqui por diante três 'tipos' de a�res: o das superJX>tências, que, estritamen� te, conesponderia agora apenas a08 EUA; o das gl andes poténcias econômicas, como Alemanha, Japão, e a pró· pria Comunidade Européia; o dos países em desenvolvimento de maior peso. Essa tipologia, evidentemente, deixa de fora, não apenas Estados que não podem ser incluídos nessas categorias, como outros tipos de atores (organiaIDOS internacionais, empresas traI18· nacionais, entidades como o G-7 e ()C..
o REAUSMO DE CADA UM 157
DE. grupos regionais. ONGs etc.) que. cada vez mais, interagem entre si e com os Estados:l7 Essa .implificação justifica se apenas por facilitar a exposição do raciocínio que o presente arti· go pretende explicitar.
Já se di ..... que a literatura tratada no presente artigo versa especialmente sobre a situação dos EUA, ou .eja. de uma superpotência. Neste caso. evidentemente. a proposta do moelelo da interdependência pretende 'temperar' as percepções do realismo. tentando fazer ver à sociedade norte-americana que o mundo mudou e que essa mudança estabelece novos parâmetros e limites para o exercício do poder, além de novos desafios internos e extern06. Sem entrar no debate entre os que percebem o declínio da posição relativa dos EUA e aqueles que apontam seu reforço. trata-se de chegar a uma visáo que sirva a quem ainda tem poder. muito poder (com supremacia absoluta em termos de hard power e liderança no que se refere ao 80ft power como um todo, apesar da concorr ência e até da vantagem do Japão ou Comunidade Européia em certas áreas) numa era em que os parâmetros de poder se transfol"mam. Para o futuro, entre várias soluções, duas seriam mais evidentes para a superpotência: ou atuar para que o hard power 000 se desvalorize tão rapidamente no jogo internacional (tomando. por exemplo. iniciativas uni e multilaterais de emprego da força militar, que assim continuaria presente e 'necessária'no cotidiano das nações), ou concentrar-se no desenvolvimento da capacidade de vencer na competiçâo do 80ft power. .eja pela modernização das estruturas econômicas e sociais, seja pelos caminhos nem sempre 80ft do protecionismo. das retaliações unilaterais e do comércio administrado.l8 Como os fatos vêm indicando, também neste caso a escolha
deverá ser a conciliação das várias pos .
• ibilidad .... inclusive porque. na realidade. 000 existe essa divisâo tão nítida entre hard power e 80ft power: enquanto as nações e os indivlduos usarem a força uns contra oe oUtl'06, a maior capacidade de fazê-Io será .empre lima fonte de poder, assim como, no domínio da e oonomja, 06 diferencia ia de riqueza e dependência também o seráo. Além disso. o poder militar poder servir a objetiv08 de poder econômico, e vice· versa.
No que se refere ás glandes potências econômicas, pode se dizer que a equação anterior se inverte. Para elas, ao contrário do que OCOII e com a superpotência. a interdependência aponta o seu crescente peso relativo, enquanto o realismo serviria para indicar 08 limites de seu poder. De certo moelo. o ceOOrio da interdependência é o habitat ideal desse tipo de ator. Leeter Thurow. por exemplo, chega a exagerar nesse sentido quando diz que. ao negociar as regras para seu mercado comum e decidir como se relacionam com parceU'08 de fora, os europeus estaráo efetivamente escrevendo 85 regI as do comércio comum no próximo século.l9 Isto para 000 citar as previsões de predomínio universal do Japão. Já quando se passa para a 'chave' do realismo. o peso desses ato,es aparece mais qualificado. sobretudo quando se pensa em tel'lI108 de possível liderança de açÕ€6 internacionais (atê este momento. somente os EUAtêm funcionado como articulador e líder de grandes coalizões). Em resumo. a situação seria a de quem tem algum poder (fortemente concentrado no 80ft power). num mundo em que esse poder conta cada vez mais, embora o hard power ainda seja o de última instância. Para o fututo. como no exemplo da superpotência. também se poderiam aventar algumas hipóteses: as glandes p:>tências podem continUAr a investir prioritariamente no 80ft p<;
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wer econômico, centrando suas iniciativas políticas apenae na eefera regional e mantendo lima postura cautel0l'!9 diante da 'cobrança' de um papel global mais ativo, sobretudo em queetões de segurança (esse caminho não exclui risCOS de conflito decommtee da competição econômica, porlicuJa I mente no triângulo EUA-Europa-Japão/pacífico); podem, por outro lado, partir para a conversão de seu soft power em hord power. Essa não é uma escolha inteiramente livre, pois oe países em questão poderiam ver-se obrigadoe, por exemplo, a responder pela força a desofioe de segurança em 81'9S áreas, ou, por outro lado, caso decidiR8CID aumentar seu per derio militar, poderiam ser impedidoe de fazê-Io, além de um certo limite, pela atual superpotência, ou até pela 'ex-5uperpoténcia' (ou pelas duas juntas), ou ainda pela impossibilidade de conciliar maiores despe5A8 militares com equilíbrio sócio econômico interno. A propósito, como afirma J.AGuilbon Albuquerque, oe EUA são hoje "a única poténcia ainda com capacidade de intervenção mundial, sem que iaso implique risco de desordem doméstica".20 Em síntRoo, 06 caminhoe estarão balizados pela configuração mundial do poder. Uma coisa, porém, é certa: o caminho a ser seguido por este conjunto de atores terá impor. tância decisiva para a configuração do cenário internacional no século XXI.
Para os países em desenvolvimento (PEDs) de maior relevo, finalmente, o exercício especulativo aqui esboçado é bem mais complexo. Neste caso, ambos os modelos sempre apontaram muito mais para 08 limites do que para as possibilidades: de um prisma realista, ressalta-se a escassez relativa de poder, ao menos em termos de projeção mundial; da perspectiva da interdependência, sobressai a assimetria dos vínculos com os principais atores do cenário internacional. Mas também há
possibilidades, a partir de ambos 08 pontoe de vista: na guetIa fria, alguns paísee em desenvolvimento, eobretudo aquelee localízadoe em área8 de mA ior significado estratégico, obtiveram ganhoe pelo desempenho de papéis coadjuvantes em esquemas de segurança (hoje em dia, oe exemploe são raroe); mais recentemente, outroe (ou os mee· moe, em certos ca806) tém conseguido benefícios no processo de globalização econômica, ou seja, no aprofundamen. to da interdependência, fato que vem acentuando a diferenciação entre os
PEDs (diferenciação que sempre houve, é claro, mas que, no passado, não dificultava tanto quanto hoje a convergência de posições entre eles). E com isso se inverteria a ótica da 'dependência' (que aconselhava a busca de modelos mais autônomos de desenvolvimento, e, portanto, menos inteSl ados à economia internacional), jã que atualmente "o reforço da condição periférica parece ocorrer pelo afastamento, pelo enfraquecimento das articulações centro-periferia".21 De qualquer forma, a situação é a de quem tem pouco poder (quer hard power, quer 80ft power), num mundo que ainda é de poder, mas em que a força militar vai perdendo espaço para a capacidade econômica. Em relação ao futuro, para concluir, fazem-se, a seguir, algumas considerações. Se os atores incluídos nesta categoria não quiseram, ou não puderam, afirmar-se pela via do hard power no passado, menos razões teriam para tentar fazê-lo agora que esse tipo de poder serve cada vez menos para resolver os seus verdadeiros problemas.
Haveria, pois, que explorar os espaços abertos pelas transfoIluaçóes políticas no cenário internacional e pelo avanço do proce88o de globalização, e trabalhar no sentido de que as oportunidades se multipliquem. Neste campo, enquanto a perspectiva da interde-
o REALISMO DE CADA UM 159
pendência indicaria o acin amento da disputa por investimentos e mercados, e ainda o fechamento da maioria das 'portas conceSBionais' a08 países em desenvolvimento, dando ênfBBe à melho- . ra das condições de participação mais intensa e proveitosa na economia mundial (capacitação econômica e tecnológica, competitividade, atração de investimentos etc.), o realismo ensinaria algumas coisas: primeiro, que os paí· Se8 em desenvolvimento, mesmo 06 maÍB importante., têm poder limitado para influir na definição e alteração da. reglBB do jogo; segundo, que, justamente por isso, é seu interesse prioritário que a globalização tenha regl'BB clarBB e UJÚversaÍB, multilateralmente acordadas, para que não esteja sujeita às vontades circunstanciais daqueles que, sim, já (ou ainda) têm poder; terceiro, que, tal como a globalização, o regionalismo veio para ficar e, especialmente para os países em desenvolvimento, é uma fOl'll18 de aumentar sua capacidade de articulação, projeção e influência no meio internacional; quarto, que alguns desses países em desenvolvimento de maior relevo terão de vincular-se preferencialmente a um dos 'pólos' da economia global (EUA, Comunidade Européia e Japão/Pacífico), enquanto outros, por SUBB dimensões, peso político e/ou tradição de intercámbio distribuído de modo equilibrado (sem parceiros com predomínio absoluto em SUBB relações econômicBB externas) não poderão, ou não terão interesse em fazê-lo.
Como se vê, também no caso d06 PEDe não existe 11m modelo único a seguir, nem opções fechadas por esta ou aquela fânnula. O natural é que cada país busque realizar os seus objetivos, os quais, sobretudo no C.SO de sociedades em desenvolvimento, deveriam dar prioridade à superação da pobreza e das deficiências estruturais que BB impe-
dem de fruir plenamente 06 beneficios do progl es.;o da humanidade.
Conclusão
A interdependência não elirninou o dado do poder nas relações internacionais, mas vai alterando proglessivamente essa realidade. O s/ai"" das nações na comunidade mundi.l resulta cada vez mais da posição que ocupam na VBBta e intricada malha dos intercâmbios econômiC:06, embora a capacidade militar e a situação estratêgica continuem a ser um fator importante. O poder é hoje 1Ima combinação de hard power e 80ft power, e não há qualquer receita fiXB para a mescla desses ingredientes. Haverá variações de acordo com o tema, com o momento, com os interesses específicos dos atoles. Dentro das pc>56ibilidades de cada 11m, principalmente d06 que procuram influir nas decisões internacionais, existirá alguma margem de flexibilidade (talvez decrescente) na escolha de caminh06 .
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E neceSBário considerar, além disso, que a chamada interdependência não se limita hoje à atividade econômica, e atinge praticamente todos os aspectos do cotidiano das sociedades: o político, no qual a fronteira entre o externo e o interno se torna menos nítida; o social, no '1ual o tratamento de questões como direitos humanos e meio ambiente tem uma dimensão internacional que se acentua; o cultural, no qual os padrões 'globalizad05' de comportamento e de consumo de bens ma teriais e culturais se 5uperpãem às diferenças históricas. Como aftrma Ignacio Ramonet: ''Na história da humanidade, jamais BB práticas próprias a uma cultura se im· puseram como modelos universais 'tão rapidamente. Modelos ( ... ) admitidos em todos 06 lug&ree como cracionais' e
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'naturais' e que participem, de fato, da ocidentalização do mundo".22
Daí resulta, entre muitas oubas, uma conseqüência essencial: num mundo em que as distâncias geográficas contam cada vez menos, em que a democracia prevalece, em que as economias nacionais se complementam e, ao mesmo tempo, competem entre si, em que se torna mais transparente a ligação entre fatos externos e efeitos internos, em que os meios de comunicação pel'mitem a divulgação imediata e ampla do dia-adia nacional e internacional, terá que haver um vínculo, cada vez mais claro para o público em geral, entre política extenaa e concretos para as populações. Na medida .em que os paí
tenham seus destinos unidos por laços cada vez ma is estreitos, seja de cooperação, seja de concorrência, as I'elações internacionais tornam-se mais complexas e, sobretudo, mais delicadas, pois sua condução dependerá crescentemente da difícil harmonização (ou simplesmente da frustração) de interesses
distintos, e muitas vezes opostos, articulados em escala local, nacional e transnacional.
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Não existem mapas para essa via-,
gemo E preciso avançar ora com pru-dência, ora com ousadia, sempre com equilíbrio e criatividade.
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Notas
1. Robert B.Reich, The work of nations: preparing ourselves for 21St century capitalism (Nova York: Vintage Books, 1992), p.315.
2. "A survey of multinationals", The Economist, 27 de março de 1993.
3. Robert O. Keohane e Joseph S. Nye, Power and interdependence: world politica in transition (Boston: Little, BrowIl and Company Inc., 1977).
4. Como exemplo do realismo dos tradicionalistas, os autores citam, entre outroo textos , Hans J . Morgenthau, Politica among nations: the st/Uggle of power and peace (Nova York: Knopf, 1948); entre os modernistas , mencionam Lester R. Brown, World without borders: the interdependence of nations (Nova York: Foreign Policy Association, Headline Series, 1972).
5. Morgenthau, op.cit. •
6. Keohane e Nye, op.cit., p.242.
7. Lester Thurow, Head to head: the coming economic battle wnong Japan, Europe and America (Nova York: Wllliam Mol"l'oW and Co., Inc., 1992), p.16.
8. Laura D'Andrea 'l)rson, Whos bashing whom? 'Irade oonflict in high-technology industries (Washington, D.C.: Institute for International Economics, 1992), p.296.
9. Extraído de texto não destinado a publicação.
10. Citado na Folha de S. Paulo, 11/07/93, p.6-4.
,
11. Nicos Poulantzas, L'Etat, le pouvoir, le socialisme, 2f!ed. (Paris: Presses Universitaires de France, 1981), p.238 e 243.
12. O argumento consta do artigo de Ignacio Ramonet, ''Mondialisa tion et ségrégations", em Maniere de voir 18 - Le Monde diplomatique, maio 1993.
13. Richard J. Barnet e John Cavanagh, "National interests and global realities", em Institute for Policy Studies-Briefing Paper, Security Series, n2 2, janeiro 1992 .
14. Joseph S. Nye, Bound to lead: the changing nature of American power (Nova York: Basic Books, Inc., 1990), p.33-34.
15. Entende-se por 'agenda das relações internacionais' não a lista ampla das questões arl'oladas f0l11lalmente para discussão nos organismos multilaterais, mas o conjunto dos assuntos que efetivamente mobilizam a atenção e os esforços da comunidade das nações.
16. Gelson Fonseca Jr., "Aspectos da multipolaridade contemporânea (notas preliminares)", em Contexto Internacional, ano 6/ n2 11,janeiro-junho 1990, p.21.
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o REAJJSMO DE CADA UM 161 •
17. Nessa divisão, deixou-se também de incluir uma categoria que abarL"'8SSe atores fundamentais, sobretudo a Rússia e a Chi-na, que continuam a ter, por razões cada vez mais distintas, importância crucial na definição do futuro da ordem internacional.
,
18. E o que defendem Lester Thurow, Robert Reich e Laura 1Yson (os dois últimos ocupam funções de primeira linha no goveI'IlO do presidente Bill Clinton, o primeil'O como secretário do 'frabalho e a segunda como chefe do Council of Economic Advisers) nos recentes livllJS acima citados.
19. Lester Thurow, op.cit., p.65-66.
20. José Augusto Guilhon Albuquerque, "O fim da guerra fria e os novos conflitos internacionais", em O futuro do Brasil,
,
organizado por José Alvaro Moisés (São Paulo, EDUSP, 1992).
21. Fonseca, op.cit., p.8
22. Ramonet, op.cit.
(Reoebido para publicação em jullw de 1993)
Mal\:us B. A Galváo é diplomata, mestre em relações internacionais pela American University (Washington, D.C.) e professor do Instituto Rio Branco.