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I SIMPÓSIO DE PESQUISA EM ENSINO E HISTÓRIA DE CIÊNCIAS DA TERRA III SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ENSINO DE GEOLOGIA NO BRASIL 153 TRABALHANDO LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NAS AULAS DE CIÊNCIAS: UM ESTUDO DE CASO COM UMA TURMA DA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE A TEMÁTICA TERRA READING AND INTERPRETATION OF TEXTS IN THE SCIENCE CLASSES: A CASE STUDY WITH 5TH GRADE STUDENTS OF ELEMENTARY SCHOOL INVOLVING SUBJECT “EARTH” CLÁUDIA DE O. LOZADA Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul Rua Galvão Bueno, 868, 01506-000 – São Paulo, SP E-mails: [email protected] Abstract In this work we center the focus for the question of the reading and interpretation of texts in the Science classes, with the objective to stimulate the interest of the students for the thematic ones that they involve the study of the planet Earth. For in such a way, we present a qualitative research carried through with a group of students of 5th grade of elementary school. The results demonstrate that the students do not possess the habit to read scientific texts, what certainly he can influence in the agreement of some concepts that if he intends to develop in the Science classes. Keywords planet Earth, reading and interpretation of texts, science classes, elementary school, science education Resumo Neste trabalho centramos o foco para a questão da leitura e interpretação de textos nas aulas de Ciências, com o ob- jetivo de estimular o interesse dos alunos pelas temáticas que envolvem o estudo do planeta Terra. Para tanto, apresentamos uma pesquisa qualitativa realizada com uma turma de alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública estadual. Os resultados demonstram que os alunos não possuem o hábito de ler textos científicos, o que certamente pode influen- ciar no entendimento de alguns conceitos que se pretende desenvolver nas aulas de Ciências. Palavras-chave Planeta Terra, leitura e interpretação de textos, aulas de Ciências, Ensino Fundamental, Ensino de Ciências Linha temática Ensino de geociências na educação básica e no ensino superior 1 Introdução O contato mais efetivo que os alunos do Ensino Fun- damental possuem com o estudo do planeta Terra ocorre na 5ª série, momento em que podem estudar de modo mais aprofundado a Ecosfera e seus subsis- temas (Atmosfera, Hidrosfera, Biosfera e Litosfera), bem como temáticas ambientais, importantes para a Educação Ambiental e a formação cidadã. Ao enfocar-se o tópico Litosfera, os alunos estu- dam os diferentes tipos de rochas, os agentes exter- nos que influenciam a transformação da crosta terres- tre, os diferentes tipos de solo, a contaminação sofri- da pelo solo, bem como fenômenos que comumente são divulgados pela mídia tais como vulcões. Também estabelecem um contato maior com a estrutura terrestre estudando suas diferentes camadas e como estas se formaram ao longo de bilhões de anos, percebendo inclusive que a Terra passou por uma série de transformações, portanto nem sempre aparentando o que hoje vêem. Sendo assim, todos estes tópicos que aqui cita- mos sucintamente permitem ao professor estabelecer diversas formas de se trabalhar o conteúdo planeta Terra, desenvolvendo competências e habilidades, as quais preceituam os PCN, um dos principais docu- mentos norteadores da Educação Nacional. Acreditamos contudo que as aulas de Ciências não devem se ater apenas a copias de textos e tipos de exercícios cujas respostas encontram-se imediata- mente no texto. É preciso mobilizar as estruturas cognitivas de nossos alunos, levando-os a compreen- der os fenômenos abordados, bem como discuti-los, visando à formação de um aluno crítico e reflexivo. Sendo assim, as aulas de Ciências devem pressupor atividades de leitura e interpretação de textos, cola- borando inclusive para minimizar as dificuldades que os alunos apresentam em outra disciplina, a Língua Portuguesa, uma vez que diversas pesquisas têm de- monstrado os baixos índices de aproveitamento em leitura e interpretação de textos. Dessa maneira, pautando-se por um ensino base- ado na concepção de aprender a aprender (NOVAK e GOWIN, 1999) e no ensino por pesquisa (CACHAPUZ, PRAIA e JORGE, 2000), que produ- za uma aprendizagem significativa crítica

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TRABALHANDO LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NAS AULAS DE

CIÊNCIAS: UM ESTUDO DE CASO COM UMA TURMA DA 5ª SÉRIE DO ENSINO

FUNDAMENTAL SOBRE A TEMÁTICA TERRA

READING AND INTERPRETATION OF TEXTS IN THE SCIENCE CLASSES: A CASE

STUDY WITH 5TH GRADE STUDENTS OF ELEMENTARY SCHOOL INVOLVING

SUBJECT “EARTH”

CLÁUDIA DE O. LOZADA

Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul Rua Galvão Bueno, 868, 01506-000 – São Paulo, SP

E-mails: [email protected]

Abstract In this work we center the focus for the question of the reading and interpretation of texts in the Science classes, with the objective to stimulate the interest of the students for the thematic ones that they involve the study of the planet Earth. For in such a way, we present a qualitative research carried through with a group of students of 5th grade of elementary school. The results demonstrate that the students do not possess the habit to read scientific texts, what certainly he can influence in the agreement of some concepts that if he intends to develop in the Science classes.

Keywords planet Earth, reading and interpretation of texts, science classes, elementary school, science education

Resumo Neste trabalho centramos o foco para a questão da leitura e interpretação de textos nas aulas de Ciências, com o ob-jetivo de estimular o interesse dos alunos pelas temáticas que envolvem o estudo do planeta Terra. Para tanto, apresentamos uma pesquisa qualitativa realizada com uma turma de alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública estadual. Os resultados demonstram que os alunos não possuem o hábito de ler textos científicos, o que certamente pode influen-ciar no entendimento de alguns conceitos que se pretende desenvolver nas aulas de Ciências.

Palavras-chave Planeta Terra, leitura e interpretação de textos, aulas de Ciências, Ensino Fundamental, Ensino de Ciências

Linha temática Ensino de geociências na educação básica e no ensino superior

1 Introdução

O contato mais efetivo que os alunos do Ensino Fun-damental possuem com o estudo do planeta Terra ocorre na 5ª série, momento em que podem estudar de modo mais aprofundado a Ecosfera e seus subsis-temas (Atmosfera, Hidrosfera, Biosfera e Litosfera), bem como temáticas ambientais, importantes para a Educação Ambiental e a formação cidadã.

Ao enfocar-se o tópico Litosfera, os alunos estu-dam os diferentes tipos de rochas, os agentes exter-nos que influenciam a transformação da crosta terres-tre, os diferentes tipos de solo, a contaminação sofri-da pelo solo, bem como fenômenos que comumente são divulgados pela mídia tais como vulcões.

Também estabelecem um contato maior com a estrutura terrestre estudando suas diferentes camadas e como estas se formaram ao longo de bilhões de anos, percebendo inclusive que a Terra passou por uma série de transformações, portanto nem sempre aparentando o que hoje vêem.

Sendo assim, todos estes tópicos que aqui cita-mos sucintamente permitem ao professor estabelecer diversas formas de se trabalhar o conteúdo planeta Terra, desenvolvendo competências e habilidades, as quais preceituam os PCN, um dos principais docu-mentos norteadores da Educação Nacional.

Acreditamos contudo que as aulas de Ciências não devem se ater apenas a copias de textos e tipos de exercícios cujas respostas encontram-se imediata-mente no texto. É preciso mobilizar as estruturas cognitivas de nossos alunos, levando-os a compreen-der os fenômenos abordados, bem como discuti-los, visando à formação de um aluno crítico e reflexivo. Sendo assim, as aulas de Ciências devem pressupor atividades de leitura e interpretação de textos, cola-borando inclusive para minimizar as dificuldades que os alunos apresentam em outra disciplina, a Língua Portuguesa, uma vez que diversas pesquisas têm de-monstrado os baixos índices de aproveitamento em leitura e interpretação de textos.

Dessa maneira, pautando-se por um ensino base-ado na concepção de aprender a aprender (NOVAK e GOWIN, 1999) e no ensino por pesquisa (CACHAPUZ, PRAIA e JORGE, 2000), que produ-za uma aprendizagem significativa crítica

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(MOREIRA, 2005), desenvolvemos uma atividade de leitura e interpretação de texto nas aulas de Ciências da 5ª série do Ensino Fundamental, abordando a te-mática planeta Terra, visando construir conhecimen-tos, bem como desenvolver competências e habilida-des em Ciências.

2. Fundamentação teórica

O conteúdo abordado pela intervenção que realiza-mos junto a uma turma da 5ª série do Ensino Funda-mental está amparado nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências (1998, p. 41), no eixo temático “Terra e Universo” como se vê a seguir:

“A estrutura interna da Terra é também dinâ-mica, originando vulcões, terremotos e distanciamentos entre os continentes, o que altera constantemente o relevo e a composição das rochas e da atmosfera, seja pela deposição de gases das erupções, seja por mudanças climáticas drásticas, como glaciações e degelos. Portanto, as paisagens, tal como são percebidas, representam apenas um momento dentro do longo e contínuo processo pelo qual a Terra, em uma escala de tempo de muitos milhares, milhões e bilhões de anos: é a escala de tempo geológico, como hoje é conhecida.”

E prosseguem destacando a importância dos fós-

seis: “O conhecimento de algumas dessas transfor-mações geológicas que ocorreram em tempos distantes foi sendo constituído conforme foram sendo decifradas a composição e a formação da litosfera. Fósseis de seres vivos extintos suge-rem ambientes terrestres organizados de formas muito diferentes daquelas conhecidas atualmen-te, mas que propiciaram o surgimento da vida, fato exclusivo em todo o Universo conhecido até o momento.”

Assim, os PCN explicitam a relevância da abor-

dagem desta temática no Ensino Fundamental, pois implicam em convergência com outros sub-temas que certamente podem despertar o interesse dos alunos em pesquisá-los.

No que tange à questão da pesquisa nas escolas, é urgente que esta se constitua como um hábito, co-mo um princípio norteador do ensino, como pressu-põe Demo (2003). Assim, o ensino por pesquisa em Ciências preconiza uma formação conceitual, proces-sual, ética, social e cultural, levando o aluno a uma autonomia de pensamento e de ação, inserindo-se criticamente no mundo que o cerca. Esta postura de-sencadeia o que Moreira (2005) denominou de A-prendizagem Significativa Crítica, a qual é norteada por 9 princípios, dentre os quais destacamos os se-guintes: Princípio da interação social e do questio-namento – ensinar/aprender perguntas ao invés de respostas, Princípio da não centralidade do livro tex-

to e Princípio da participação ativa do aluno, nos quais pautamos a intervenção relatada neste trabalho.

3. Metodologia

Este trabalho relata uma pesquisa qualitativa caracte-rizada por uma intervenção. O sujeitos envolvidos na intervenção são 39 alunos regularmente matriculados na 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede estadual paulista.

Antes de procedermos à intervenção detectamos que estes alunos apresentam dificuldades em leitura e interpretação de textos, bem como em escrita, revela-do por respostas sem sentido em outras atividades que haviam sido aplicadas anteriormente, bem como erros de ortografia. Percebemos, que os alunos apre-sentam estes problemas em decorrência de falhas no processo de alfabetização.

Com base no que observamos, procedemos à e-laboração da atividade a ser utilizada na intervenção. Em consonância com o conteúdo programático que estavam estudando na ocasião referente ao planeta Terra, selecionamos um texto denominado de “Terra: um planeta vivo”, retirado de uma caixa – texto1 do livro Ciências – Entendendo a natureza, com o obje-tivo de que os alunos percebessem que o planeta em que vivem têm passado por diversas transformações ao longo dos bilhões de anos. O texto seguiu-se de questões não muito diferentes do tipo daquelas a que estavam acostumados a responder. Posteriormente, aplicamos um questionário para levantar dados acer-ca da leitura e interpretação do texto. Com base nos dados coletados, reorientamos a intervenção, pro-pondo duas novas atividades sobre o mesmo texto, visando identificar outros aspectos da aquisição dos conhecimentos.

3.1. A intervenção e os resultados

Para a aplicação das atividades que compuseram a intervenção foram utilizadas quatro horas -aulas.

A primeira parte da atividade consistia na leitura e interpretação do texto a seguir:

Parte A -

TEXTO: “TERRA:UM PLANETA VIVO”

Quando observamos extensas formações montanho-sas, grandes vales e imensos oceanos, temos a sen-sação de que todo esse cenário é imutável e de que a Terra está pronta e acabada. Na verdade, o pano-rama de nosso planeta sofre transformações cons-tantes. A Terra está sendo permanentemente reescul-pida, permanentemente alterada, mas numa lentidão tal, que raramente somos capazes de perceber qual-

1 Caixas-textos referem-se aos boxes com textos informativos sobre temáticas de Ciências. Nos livros didáticos, aparecerem como complementares ao texto abordado pelo capítulo ou como textos que não se referem ao tema abordado no capítulo, mas se referem a outras temáticas da área de Ciências.

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quer modificação. Os geólogos descobriram que os continentes estão à deriva, ou seja, deslocam-se len-tamente com o passar do tempo (fique tranqüilo, esse movimento é tão lento que ninguém vai sair prejudi-cado), a uma velocidade de alguns centímetros por século. Os cientistas encontraram semelhanças entre fósseis colhidos no Brasil e na áfrica do Sul, entre rochas encontradas no Brasil e no Congo e entre fósseis encontrados na Austrália e na Índia. Assim, foi pos-sível descobrir que os continentes outrora formavam um único e grande continente, chamado PANGÉIA, o qual provavelmente fragmentou-se há mais ou me-nos 300 milhões de anos. Além dessas grandes trans-formações, outras menores estão acontecendo na superfície da Terra. A ação da água e dos ventos é a principal responsável pelo trabalho superficial da escultura. Ações vulcânicas também modificam nos-sas paisagens, em virtude de grande quantidade de matéria (magma) que é lançada na superfície da Terra vinda do manto. Algumas forças vindas do espaço também provocaram mudanças profundas na Terra. Hoje se acredita, por exemplo, que o desapa-recimento dos dinossauros está ligado à queda de um grande cometa na superfície de nosso planeta. A força do impacto teria lançado uma enorme quanti-dade de poeira na atmosfera, que se espalhou prati-camente por toda a Terra. Dificultando a chegada de luz à superfície, essa poeira teria reduzido enorme-mente a capacidade de fotossíntese nas plantas, fa-zendo decrescer a população de dinossauros. Assim, quebrou-se o celeiro alimentar desses grandes rép-teis, que foram aos poucos desaparecendo. Fenômenos físicos e químicos estão presentes em todas essas transformações que ocorrem na Terra. Quanto melhor entendermos esses processos, mais profundamente estaremos conhecendo o planeta em que nascemos e vivemos e mais poderemos contribu-ir para melhorar as condições de vida de todos nós.

Trabalhando a leitura: 1. Com que rapidez se movimentam os conti-

nentes? 2. Como foi possível descobrir que os conti-

nentes formavam um único continente? 3. Há quanto tempo, aproximadamente, o

grande continente Pangéia fragmentou-se em continentes menores?

4. Qual a causa aceita atualmente para a abrup-ta extinção dos dinossauros?

Em relação às questões propostas, os alunos não encontraram dificuldades de respondê-las como pu-demos constatar, pois estão habituados com este tipo de análise de texto. No entanto, identificamos ao todo 20 palavras escritas incorretamente o que denota que problemas no percurso da alfabetização.

Contudo, acreditamos que este tipo de aborda-gem limita a aprendizagem significativa crítica dos conceitos em Ciências.

O passo seguinte foi solicitar que os alunos res-pondessem ao questionário reproduzido abaixo:

1- Você possui dificuldade em interpretação de textos?

a) às vezes b) freqüentemente c) raramente 2 – Você possui o hábito de leitura? a)sim b) não 3 – Você tem o hábito de ler textos científicos? a)sim b) não 4 – Você achou o texto “Terra: um planeta vivo” difícil de interpretar? a)sim b) não 5 – Você precisa de um dicionário quando reali-za leitura? a)sim b) não 6 – Você apresenta dificuldade em expressar su-as idéias (redigir um texto, por exemplo)? a) às vezes b) freqüentemente c) raramente 7 – Você tem o hábito de emprestar livros da bi-blioteca da escola? a)sim b) não 8 – Quando você lê um texto você costuma ima-ginar o que você está lendo? a) às vezes b) freqüentemente c) raramente Os alunos apresentaram as seguintes respostas ao

questionário: a) Questão 1: 30 alunos responderam que às vezes apresentam dificuldades de interpretação de textos; 1 aluno afirmou que freqüentemente apresenta dificuldades de interpretação de textos e 8 alunos afir-maram que raramente apresentam dificul-dades de interpretação de textos.

b) Questão 2: 28 alunos afirmaram que possuem o hábito de leitura e 11 afir-maram não possuírem o hábito de leitura.

c) Questão 3: 4 alunos afirmaram ter o hábito de ler textos científicos e 35 afir-maram não possuir hábito de ler textos ci-entíficos.

d) Questão 4: 24 afirmaram que en-contraram dificuldades para interpretar o texto dado e 15 afirmaram que não encon-traram dificuldades na interpretação do texto proposto.

e) Questão 5: em relação à utilização de dicionário como auxiliar na leitura, 1 aluno afirmou que utiliza, 10 alunos afir-maram não utilizar e 28 afirmaram que o utilizam às vezes.

f) Questão 6: em relação a expressar as idéias por meio da escrita, 29 alunos a-firmaram que apresentam dificuldades pa-ra expressá-las, 4 alunos afirmaram que não apresentam dificuldades em expressá-las e 6 alunos afirmaram que raramente a-presentam dificuldades em expressá-las.

g) Questão 7: com relação ao emprés-timo de livros da biblioteca, 8 alunos afir-maram que o fazem e 31 afirmaram que não fazem.

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h) Questão 8: em relação a imaginar o que se está lendo, 17 alunos afirmaram que o fazem às vezes, 13 alunos afirmaram que o fazem freqüentemente e 9 alunos rara-mente procedem ao processo de imagina-ção o que se está lendo.

Pela análise do questionário, percebemos que os alunos não possuem o hábito de ler textos científicos, embora realizem outros tipos de leitura, como de-monstrado pelas respostas à pergunta 2. Sugerimos que os professores utilizem com mais freqüência tex-tos que abordem assuntos correlacionados ao conteú-do que está sendo desenvolvido ou até mesmo a ou-tros conteúdos de Ciências, relacionados por exem-plo, ao Meio Ambiente e ao enfoque Ciência, Tecno-logia e Sociedade.

Os alunos também apresentam dificuldades na linguagem escrita como demonstrado pelas respostas à pergunta 6, bem como não costumam utilizar sua imaginação aliada ao processo de leitura. Recomen-damos, então que os professores de Ciências estimu-lem os alunos a produzirem seus próprios textos por meio de atividades como por exemplo, elaborar um relatório sobre um experimento realizado em sala de aula ou após assistir a um filme relacionado aos te-mas de Ciências.

A maioria dos alunos também afirmou ter encon-trado dificuldades na interpretação do texto “Terra: um planeta vivo”. Para este fato, sugerimos que o professor utilize leituras dirigidas em que leia e inter-prete verbalmente os parágrafos, inclusive com o auxílio do dicionário, para que os alunos aprendam também a utilizá-lo quando tiverem dúvidas sobre o significado das palavras.

Após a reflexão sobre os dados levantados pelo questionário, nas duas aulas seguintes apresentamos duas outras atividades sobre o mesmo texto, que re-produzimos a seguir:

Parte B –

1) Re-análise do texto: escreva com suas pró-prias palavras o que você entendeu do 2° pa-rágrafo do texto “Terra: um planeta vivo”.

2) Faça um desenho demonstrando a sua inter-pretação do texto “Terra: um planeta vivo”. Pela análise das respostas dadas à questão

1 da parte B da intervenção, percebemos que poucos alunos escreveram com suas próprias palavras o que entenderam sobre o 2° parágrafo do texto. A maioria copiou no todo ou em parte o 2° parágrafo e o apre-sentou como resposta, o que demonstra a herança de um ensino tecnicista, reprodutor de conhecimentos, no qual o aluno apenas reproduz e não questiona o que está sendo ensinado, não apresenta uma postura crítica e reflexiva sobre o conhecimento.

Com relação aos desenhos, 20 alunos apresenta-ram desenhos de um cometa se aproximando da Ter-ra, sendo que esta aparece habitada por dinossauros; 7 alunos apresentaram desenhos de um cometa se aproximando do planeta Terra; 5 alunos desenharam

o planeta Terra; 2 alunos desenharam fósseis; 2 alu-nos desenharam apenas dinossauros; 2 alunos dese-nharam prédios e apenas 1 aluno ilustrou a Pangéia ao lado de um desenho sobre fósseis.

Alguns desenhos nos chamaram atenção pelo fa-to de que os alunos o fizeram fazendo uma alusão ao título do texto e não à interpretação do texto. Um dos alunos desenhou prédios. Pedimos ao autor deste desenho que nos explicasse o que o seu desenho re-presentava. Ele assim nos respondeu: “ O texto não é TERRA:UM PLANETA VIVO?Então, a Terra é um planeta vivo, tem poste para acender a luz, tem pré-dio para os seres vivos morarem!”

Outro aluno relacionou a palavra “vivo” com se-res vivos e desenhou o planeta Terra de modo personificado, com braços, olhos e boca.

Deste modo, inferimos que a representação pic-tórica dos alunos demonstrou que eles não compre-enderam o conceito de Pangéia exposto no texto e que o trecho do texto que conseguiram assimilar de modo mais fácil foi aquele relacionado ao desapare-cimento dos dinossauros. No entanto, inferimos que eles, embora representassem devidamente por meio do desenho o desaparecimento dos dinossauros, cer-tamente não conseguiram compreender que este fato provocou também mudanças no planeta Terra. Os que desenharam prédios fizeram uma interpretação literal do título do texto, não o relacionando às trans-formações ocorridas pela deriva dos continentes.

Após a finalização dos desenhos, procedemos à discussão do texto, indagando verbalmente os alunos o que haviam entendido da leitura que efetuaram. Novamente, a maior parte das falas concentrou-se no cometa e nos dinossauros e apenas 3 alunos aborda-ram a questão da Pangéia. Então, procuramos focali-zar as discussões em torno da Pangéia de modo que compreendessem a importância deste fenômeno e as transformações que dele decorreram.

4. Conclusão

A intervenção relatada neste trabalho aponta que os alunos possuem dificuldades na interpretação de tex-tos científicos o que pode influenciar certamente na assimilação dos conceitos científicos presentes no texto. É necessário, entretanto que os professores trabalhem com freqüência textos científicos, inclusive textos de divulgação científica e textos de livros pa-radidáticos, procurando sempre promover o debate sobre o texto, o que desenvolverá a criticidade e a reflexão.

Representar por meio de desenhos os conceitos físicos é uma estratégia potencializadora no ensino de Ciências.

Esta forma de descrever conceitos científicos por meio de desenho nas séries iniciais é defendida por Carvalho et al (1998,p. 24), que afirmam ser necessá-rio:

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“(...) nos primeiros anos da escola fundamental (...) dar aos alunos condições de desenvolver, de forma integrada, sua capacidade de expres-são.” Pela análise dos desenhos, como se referem Car-

valho et al (op.cit), é possível identificar os conceitos científicos apreendidos e, sobretudo as concepções espontâneas e se as mesmas modificam-se ou convi-vem com novos conceitos, como sugere Mortimer (1994) em sua teoria de mudança de perfis conceitu-ais.

Giordan e De Vecchi (1996, p. 120) sustentam que a análise dos desenhos, permite estabelecer uma tipologia de concepções dos alunos em relação ao assunto abordado, fornecendo elementos para que os professores optem por determinadas “decisões didáti-cas indispensáveis à transformação das concepções”.

Ademais, nesta fase de desenvolvimento, as cri-anças desenvolvem a linguagem causal, um momento oportuno para se trabalhar interdisciplinarmente com a Língua Portuguesa, como sugerem Carvalho et al (op. cit) por meio de relatos verbais e escritos, cola-borando com o processo de alfabetização.

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