Transcript of Comentario Biblico Atos Antigo Testamento - John H Walton Victor H Matthews Mark W Chavalas
- 1. ....................
- 2. C O M E N T R I O B B L ANTIGO TESTAMENTO : V i c t o r Hh t
t h e w s Mf l S KC h a v h l b s - .. .. :
- 3. Walton, John H 1952- Comentrio bblico Atos: Antigo
Testamento /John H. Walton, Victor H. Matthews, Mark W. Chavalas;
[tradutorNoemi ValriaAlto]. - Belo Horizonte: EditoraAtos, 2003.
Ttulo original: The IVP Bible background commentary: Old Testament.
Bibliografia. ISBN 85-7607-025-1 1. Bblia. A.T. - Comentrios I.
Matthews, Victor H. n. Chavalas, Mark W. HI. Ttulo. _ ndices para
catlogo sistemtico: 1. AntigoTestamento: Bblia: Comentrios 221.7 2.
Comentrios:AntigoTestamento: Bblia 221.7 Comentrio Bblico Atos
Antigo Testamento Copyright 2003 Editora Atos Traduo de The IVP
Bible Background Commentary:, Copyright 2000 por John H. Walton,
Victor . The IVP Bible Background Commente , Walton e Victor H.
Matthews Noemi Valria Alto da $ij Superviso dt Walkyria Freitar*
Reviso (' { We) Nems Lima ncev 'de Castro Filho 'ayfe Vilas Boas
ent e Mark W Chavalas 1euteronomy 1997 por John H. Projeto grfico
Rodrigo Ortega Julio Carvalho Editora Atos Ltda. (11) 33123330
CaixaPostal402 30161-970 Belo Horizonte MG www. editoraatos. com.
br
- 4. Sumrio Prefcio da edio em ingls
.....................................................................................................................
7 Referncias
bibliogrficas.....................................................................................................................
11 Pentateuco: Introduo
.......................................................................................................................
21 GNESIS
..............................................................................................................................................
27 A mitologia do Antigo Oriente Prximo e o Antigo Testamento
................................................ 30 Relatos
diluvianos do Antigo Oriente Prximo
............................................................................
36 A religio de A
brao.........................................................................................................................
45 Principais rotas de comrcio no Antigo Oriente Prximo
........................................................... 70 XODO
................................................................................................................................................
77 A data do xodo
...............................................................................................................................
86 M
apa..................................................................................................................................................
87 LEVTICO
.............................................................................................................................................
121 NMEROS
...........................................................................................................................................147
DEUTERONMIO..............................................................................................................................175
A aliana e os tratados no Antigo Oriente
Prximo......................................................................
178 Livros Histricos:
Introduo.............................................................................................................215
JOSU
...................................................................................................................................................
219 Informaes egpcias acerca de Cana e Israel
...............................................................................223
M
apa...................................................................................................................................................
231 JUZES
...................................................................................................................................................
249 Contexto poltico na Idade do Ferro Antiga
...................................................................................269
RUTE
.....................................................................................................................................................285
1
SAMUEL.............................................................................................................................................291
2 SAM
UEL.............................................................................................................................................333
IR E IS
.....................................................................................................................................................367
2 R E IS
.....................................................................................................................................................397
As campanhas de Tiglate-Pilese III no Ocidente, 734-732
.........................................................415 1
CRNICAS
......................................................................................................................................425
Significado das genealogias no perodo Ps-Exlio
........................................................................425
2 CRNICAS
......................................................................................................................................433
As inscries de Senaqueribe
........................................................................................................467
L qu
is.................................................................................................................................................468
ESDRAS.................................................................................................................................................473
NEEMLAS
............................................................................................................................................
487 ESTER
...................................................................................................................................................499
Herdoto
............................................................................................................................................
500
- 5. Livros Poticos e de Sabedoria:
Introduo....................................................................................507
J
.............................................................................................................................................................511
O princpio da retribuio
...............................................................................................................
513 Salm
os..................................................................................................................................................529
Conceitos com
uns..............................................................................................................................
529 Metforas comuns de Deus
.............................................................................................................
533 SALMOS
...............................................................................................................................................
539 PROVRBIOS
.......................................................................................................................................579
Repercusso dos provrbios no Antigo Oriente Prximo
............................................................580
Como os provrbios eram usados
....................................................................................................
582 Provrbios como princpios gerais
..................................................................................................
583
ECLESIASTES.......................................................................................................................................591
CNTICO DOS CNTICOS
...........................................................................................................597
Metfora da sexualidade
...................................................................................................................
598 Livros Profticos:
Introduo.............................................................................................................
603 ISAAS
....................................................................................................................................................605
Crenas na vida aps a morte em Israel e no Antigo Oriente Prximo
...................................... 625 JEREMIAS
.............................................................................................................................................
663 Selos e bulas
.......................................................................................................................................668
LAMENTAES DE JEREMIAS
....................................................................................................
707 Lamentos pela queda de cidades no mundo
antigo.........................................................................708
EZEQUIEL.............................................................................................................................................
711
DANIEL..................................................................................................................................................751
O apocalipse acadiano
........................................................................................................................769
OSIAS
..................................................................................................................................................775
JO E L
........................................................................................................................................................785
O dia do Senhor
................................................................................................................................
785 AMS
....................................................................................................................................................789
Mudanas econmicas e classes sociais em Israel no oitavo sculo
.............................................792 OBADIAS
.............................................................................................................................................801
JONAS
....................................................................................................................................................803
MIQUIAS
...........................................................................................................................................807
N A U M
....................................................................................................................................................815
HABACUQUE
....................................................................................................................................
819 SOFONIAS
...........................................................................................................................................823
AGEU......................................................................................................................................................825
ZACARIAS
...........................................................................................................................................827
Literatura apocalptica
.....................................................................................................................
828 Resumo das relaes entre a construo do templo e as vises de
Zacarias................................832 MALAQUIAS
......................................................................................................................................
840 Glossrio
.................................................................................................................................................
841 Quadros e m ap
as....................................................................................................................................
845 ndice tem
tico.........................................................................................................................................859
- 6. Prefcio da edio em ingls Esta obra tem o objetivo de
preencher uma lacuna existente no vasto campo dos comentrios
bblicos. Em vez de abordar os variados aspectos da teologia, da
estrutura literria, do signi ficado das palavras, da histria da
erudio e assim por diante, nosso desafio principal foi oferecer
informaes sobre os contextos histrico, geogrfico e cultural do
Antigo e do Novo Testamento. Alguns talvez questionem at que ponto
as informaes relacionadas a esses contextos so importantes para a
interpretao do texto. O que esperamos proporcionar ao leitor a
partir das informaes contidas nesse comentrio? Tem sido
corretamente demonstrado que o contedo teolgico da Bblia no depende
do conhecimento de localidades geogrficas ou do contexto cultural.
Tambm correto afirmar que possvel reunir todas as evidncias
histricas e arqueolgicas que, por exemplo, atestam a ocorrncia do
xodo israelita do Egito, sem, contudo, comprovar que Deus foi quem
o orquestrou - e certamente o envolvimento de Deus o aspecto mais
importante para o autor do texto bblico. Por que ento, deveramos
investir tanto tempo e esforo tentando entender o contexto
cultural, histrico, geogrfico e arqueolgico de Israel? O objetivo
desta obra no apologtico, embora algumas das informaes aqui apresen
tadas possam ser usadas em discusses nesse campo. No entanto, no
foi o interesse apologtico que orientou nossa seleo e apresentao
dos dados. Em vez disso, procuramos lanar luz sobre a cultura e a
cosmoviso israelitas. Por qu? Quando lemos a Bblia sob a tica da f,
queremos extrair do texto o mximo de contedo teolgico possvel. Como
resultado, as pessoas tendem a enxergar significados teolgicos at
mesmo nos detalhes. Se no estiver mos atentos s diferenas
existentes entre nossa maneira de pensar e a maneira de pensar do
povo hebreu, estaremos inclinados a fazer uma leitura do texto
bblico com base em nossas prprias perspectivas e viso de mundo, na
tentativa de entender seu significado teolgico. O vasto mundo do
antigo Oriente Prximo torna-se significativo na medida em que,
muitas vezes, serve como janela para a cultura israelita. Ao
oferecer uma compreenso correta do modo de pensar israelita ou do
antigo Oriente Prximo, as informaes contidas neste livro podem
evitar algumas concluses equivocadas por parte do estudioso. Assim,
por exemplo, o significado teolgico da coluna de fogo ou do bode
expiatrio ou o uso do Urim e Tumim pode ser interpretado de uma
nova forma, a partir de sua relao com a cultura geral do antigo
Oriente Prximo. No limitamos a identificao das relaes de
similaridade apenas a perodos precisamen te definidos. Reconhecemos
plenamente que a ocorrncia de alguma caracterstica cultural na
cidade de Ugarit, em meados do segundo milnio pode no ter nenhuma
relao com a maneira de pensar dos israelitas que viveram em meados
do primeiro milnio. No obstante, nosso interesse, muitas vezes, foi
simplesmente mostrar a existncia de certas idias ou con ceitos nas
culturas do antigo Oriente Prximo. H possibilidades de que tais
idias possam representar aspectos da matriz cultural geral do mundo
antigo, por isso procuramos simples mente cit-las como exemplos do
tipo de pensamento existente no mundo antigo. Essas informaes,
porm, devem ser usadas com cautela, porque no podemos asseverar a
exis tncia de uma homogeneidade atravs das eras ou entre as regies
ou grupos tnicos do antigo Oriente Prximo. Seria o mesmo que falar
atualmente de uma "cultura europia", dada nossa conscincia das
diferenas significativas entre italianos e suos, por exemplo.
Procuramos assim demonstrar certa sensibilidade nessas questes, mas
no impusemos limi taes estritas sobre as informaes oferecidas.
- 7. O assunto em questo no se os israelitas adotaram ou no
algumas caractersticas de seus vizinhos. No estamos procurando
descobrir uma linha literria, nem acreditamos que seja necessrio
comprovar que os israelitas estivessem familiarizados com uma
determina da obra a fim de adotar temas similares. Evitamos o uso
de termos como "influncia" ou "impacto" para descrever a maneira
como as informaes eram partilhadas porque tenta mos destacar
aqueles elementos que podem simplesmente ter sido parte da herana
cultu ral do antigo Oriente Prximo. Essa herana pode estar
refletida em diversas obras literri as, mas os israelitas talvez no
tivessem conhecimento delas ou sofrido influncia dessa lite ratura,
que simplesmente uma parte da matriz cultural comum. O processo
pelo qual Deus se revelou a ns exigiu que Ele se irmanasse conosco,
assumisse a nossa humanidade e se expressasse numa linguagem e
atravs de metforas familiares. No devemos nos surpre ender ento,
pelo fato de muitos elementos comuns da cultura da poca terem sido
adotados, algumas vezes adaptados, outras totalmente modificados,
mas de qualquer forma, usados para cumprir os propsitos de Deus. Na
verdade, o contrrio que seria surpreendente. Para haver comunicao,
preciso compartilhar de um crculo de convenes e entendi mentos
comuns. Quando falamos de "horrio de vero", presumimos que quem est
nos ouvindo entenda essa conveno estritamente cultural, sem
necessidade de explicao. Al gum de uma poca ou cultura diferente,
que no tivesse o costume de ajustar o horrio num determinado perodo
do ano, ficaria totalmente perdido quanto ao significado da ex
presso e teria de familiarizar-se com nossa cultura a fim de
entend-la. O mesmo acontece quando tentamos penetrar na literatura
israelita. Portanto, se a circunciso deve ser enten dida no
contexto israelita, til entend-la na forma como era praticada no
antigo Oriente Prximo. Se quisermos aquilatar o valor dos
sacrifcios em Israel, bastante til comparar e contrastar o que
representavam esses sacrifcios no mundo antigo. Embora algumas
vezes essa busca por conhecimento resulte em problemas difceis de
serem resolvidos, permane cer na ignorncia no significa que esses
problemas desapareceriam. Na maioria das vezes, novos conhecimentos
trazem resultados positivos. As vezes, algumas das informaes
apresentadas so meras curiosidades. Como profes sores, no entanto,
temos aprendido que grande parte de nossa tarefa despertar em
nossos alunos uma curiosidade acerca do texto e ento, procurar
satisfaz-la, pelo menos at certo nvel. Nesse processo, quase sempre
possvel dar vida ao mundo bblico, auxiliando-nos a sermos leitores
atentos e informados. Quando alguma informao fornecida em um verbe
te, isso no significa necessariamente que ela ir ajudar a
interpretar a passagem; talvez esteja ali apenas para fornecer
dados que possam ser pertinentes interpretao daquele trecho. Assim,
as informaes encontradas no comentrio sobre J 38 relacionadas s
imagens mito lgicas da criao no antigo Oriente Prximo no esto
sugerindo que o ponto de vista presente no Livro de J deva ser
considerado nos mesmos termos. Os dados esto ali simples mente a
ttulo de comparao. Esta obra dirigida a um pblico leigo, e no tem a
pretenso de atender s comunidades acadmica e erudita. Se fssemos
apresentar notas de rodap para cada uma das informaes aqui
apresentadas, de maneira que nossos colegas pudessem verificar as
fontes e as publica es originais, acabaramos com uma obra em
diversos volumes, detalhada demais para ser usada por leigos, a
quem desejamos oferecer esse trabalho. Embora muitas vezes tenha
sido doloroso omitir referncias bibliogrficas de alguns peridicos e
livros, reconhecemos nossa dvida para com nossos colegas e
esperamos que as poucas referncias bibliogrficas ofereci das possam
conduzir o leitor interessado na consulta s fontes por ns
utilizadas. Alm disso, procuramos agir com cuidado quanto autoria
de idias e informaes, a fim de que fosse mantido um padro de
integridade e tica. Outra conseqncia de adotarmos como pblico-
- 8. 9 PREFCIO DA EDIO EM INGLS alvo o leitor leigo que nossas
referncias s fontes primrias foram, de certa forma, vagas. Em vez
de citar a obra de referncia e a data de publicao, tivemos de nos
contentar em dizer: "As leis da Babilnia contm..." ou "Os
regulamentos hititas incluem..." ou ainda "Os relevos egpcios
mostram...". Conscientes de que o leitor leigo geralmente no tem
oportunidade nem interesse de procurar as fontes, e sabendo que
muitas citaes seriam obscuras e inaces sveis a esse tipo de leitor,
concentramos nossos esforos em fornecer informaes pertinen tes, em
vez de oferecer um roteiro de pesquisa bibliogrfica. Reconhecemos
que isso poder gerar uma certa frustrao naqueles que gostariam de
seguir em busca de mais informaes. S nos resta recomendar a essas
pessoas que retomem a bibliografia indicada e que, a partir da,
iniciem sua pesquisa. Para auxiliar os leitores que no esto
familiarizados com certos termos que aparecem repetidamente,
fornecemos um glossrio no final da obra. Os asteriscos (*) no texto
indicam ao leitor quais os termos que podem ser encontrados nesse
glossrio. E possvel que, ocasionalmente, algumas informaes causem
certa confuso ao leitor leigo. Nosso objetivo foi apenas oferecer
as informaes, sem entrar em detalhes sobre o modo como podem ser
usadas ou o que comprovam ou refutam. Muitas vezes, o leitor talvez
faa a seguinte pergunta: "Para que serve essa informao?". Em muitos
casos, para nada em especial, mas ter acesso quele dado especfico
pode evitar que algum d uma interpretao errada ao texto bblico. Por
exemplo, informaes concernentes "redondeza da Terra" citada em
Isaas 40.22 (edio Revista e Atualizada) podem no resolver os
dilemas dos leito res em relao a como considerar teologicamente o
uso nas Escrituras das idias do mundo antigo quanto ao formato da
Terra, mas daro ao leitor dados suficientes para evitar a concep o
errnea de que o texto bblico contm, em suas entrelinhas, conceitos
cientficos moder nos. De modo geral, mesmo que um dado especfico no
possa ser aplicado a nenhum contex to, permitir ao leitor um melhor
reconhecimento dos vrios modos como Israel e o Antigo Testamento
refletem a herana cultural do antigo Oriente Prximo.
- 9. Referncias bibliogrficas sobre o contexto cultural do Antigo
Testamento A relao a seguir fornece ao leitor algumas fontes
importantes, que consideramos teis para o desenvolvimento das
informaes apresentadas nesta obra. No se trata de uma bibliogra fia
"bsica", visto que algumas das referncias alistadas so de natureza
bastante tcnica e avanada. Tampouco pode ser considerada uma
bibliografia exaustiva - muitas obras impor tantes, at mesmo de
destaque, foram omitidas. No obstante, essas podem ser consideradas
as principais obras de consulta, caso o leitor queira obter mais
informaes sobre os tpicos apresentados. Bibliografia geral Biblical
Archaeologist. Agora intitulado Near Eastern Archaeology. Biblical
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- 19. PENTATEUCO Introduo Existem vrias razes para se considerar
o Pentateuco uma obra literria nica e dotada de unidade, no
entanto, os elementos pertinentes ao contexto de cada Livro diferem
grandemente. Em vista disso, oferecemos separadamente uma introduo
para cada um dos cinco Livros. Gnesis O Livro de Gnesis geralmente
dividido em duas partes principais (captulos 1 -11 e 12 - 50). O
material de contexto de maior utilidade para compreender a primeira
parte a literatura mitolgica do antigo Oriente Prximo. Tanto a
mitologia mesopotmica como a egpcia for necem uma grande quantidade
de material que referendam as perspectivas contemporneas da criao
do mundo e dos seres humanos. Essas obras incluem o Enuma Elish e o
pico Atrahasis, bem como uma srie de mitos sumrios* da regio da
Mesopotmia. No Egito h trs textos principais sobre a criao, um em
Mnfis, outro em Helipolis (nos Textos Pirami dais) e mais um em
Hermpolis (nos Textos dos Esquifes). Alm desses, existem diversas
narrativas sobre o dilvio na regio da Mesopotmia, encontradas no
pico de Gilgams e no pico Atrahasis. O exame dessa literatura nos
ajuda a observar as vrias semelhanas e dife renas entre os
conceitos do antigo Oriente Prximo e de Israel. As semelhanas nos
permiti ro perceber a base comum existente entre Israel e os povos
vizinhos. Por vezes, a semelhan a estar nos detalhes da narrativa
(por exemplo, soltar pssaros da arca) ou em aspectos do texto que
passaram despercebidos (como dar nome s coisas, em combinao sua
criao). Outras semelhanas podem nos levar a questionar se
enfatizamos demais o significado teol gico em certos elementos do
texto (por exemplo, a criao da mulher de uma costela), ou se
deixamos de notar a importncia teolgica de alguns detalhes do texto
(por exemplo, o passeio de Deus no jardim, quando "soprava a brisa
do dia"). Em geral, tais analogias nos ajudam a entender os relatos
bblicos atravs de uma perspectiva mais ampla. As diferenas entre a
literatura do antigo Oriente Prximo e a literatura bblica nos ajuda
ro a avaliar algumas das caractersticas tanto da cultura de Israel
como da f bblica. Tambm aqui estaro includos alguns detalhes
especficos (formato da arca, durao do dilvio), bem como conceitos
fundamentais (o contraste entre a viso bblica da criao atravs da
Palavra de Deus e a viso mesopotmica que associava a criao do mundo
ao nascimento das divin dades csmicas). Em muitos casos, as
diferenas relacionam-se (direta ou indiretamente) f monotesta de
Israel, sem paralelo entre outros povos. possvel encontrar
semelhanas e diferenas num nico elemento. A idia da humanida de
sendo criada: (1) a partir da argila da terra e (2) imagem da
divindade, predominante no antigo Oriente Prximo, mas Israel
concede a esse conceito um carter mpar, colocando-se assim numa
esfera totalmente diferente. Porm, nem sempre possvel identificar
as diferenas e semelhanas de forma to clara ou conclusiva como
gostaramos. Muitos eruditos tero opinies divergentes das implicaes
de alguns conceitos por vezes devido s suas prprias pressuposies.
As questes, muitas vezes, so bastante complexas e as concluses
pessoais de um erudito podem ter um carter altamente
interpretativo. Por essa razo, mais fcil oferecer informaes do que
respostas satisfatrias. Finalmente, a literatura comparativa no
apenas apresenta informaes paralelas a alguns dos relatos
encontrados em Gnesis 1 - 11, mas tambm oferece uma comparao sobre
a
- 20. estrutura total dessa parte. No pico mesopotmico Atrahasis,
assim como em Gnesis 1 -11, encontramos um resumo da criao, trs
ameaas e uma resoluo. Observaes como essas nos ajudam a entender os
aspectos literrios ligados a essa poro da Bblia. Alm disso, se esse
paralelo for legtimo, pode nos ajudar a enxergar as genealogias sob
uma tica diferente. Ao apresentar as genealogias, o texto bblico
est refletindo a bno de frutificar e multipli car-se, presente no
Livro de Gnesis, enquanto que no texto paralelo do Atrahasis, os
deuses se mostram aborrecidos com o aumento da populao humana e
tentam refre-lo. Encontrar paralelos literrios para o trecho de
Gnesis 12 - 50 um desafio maior. Embora os eruditos tenham tentado
atribuir diversos termos descritivos s narrativas patriarcais (tais
como "sagas" ou "lendas"), qualquer terminologia moderna inadequada
para abranger a natureza da literatura antiga e pode tanto servir
de ajuda como prejudic-la. No existe nenhum paralelo na literatura
do antigo Oriente Prximo para as histrias dos patriarcas. O
material mais prximo encontrado no Egito a Saga de *Sinuhe, embora
esse relato seja restrito vida de um homem, sem acompanhar as
geraes seguintes e sem nenhuma relao com a posse da terra ou com o
relacionamento com Deus. At mesmo a histria de Jos, se considerada
parte, difcil de ser classificada e comparada. Novamente, podem ser
feitas comparaes com as histrias de Sinuhe, *Wenamon ou *Ahiqar
(todas relacionadas vida e poca dos cortesos reais), mas as
semelhanas so bastante superficiais. As informaes contextuais que
nos ajudam a entender essas narrativas originam-se de diferentes
tipos de materiais. Esses captulos tratam da vida dos patriarcas e
de suas famli as, medida que se dirigem da Mesopotmia para Cana e
da para o Egito, durante o processo de formao da aliana. Vrios
documentos (*Nuzi, *Mari, *Emar, *Alalakh) des cobertos na Sria e
na Mesopotmia fornecem informaes sobre a histria, a cultura e os
costumes do antigo Oriente Prximo durante o segundo milnio,
permitindo uma melhor compreenso dos eventos polticos e do
povoamento histrico da regio. Tambm nos aju dam a entender como as
famlias viviam e por que faziam certas coisas que hoje nos pare cem
estranhas. Paralelamente, obtemos informaes importantes que nos
ajudam a estabe lecer comparao com o material bblico. Por exemplo,
geralmente procuramos uma orien tao tica no comportamento dos
personagens bblicos (embora esse procedimento nem sempre seja
produtivo). A fim de entender por que as pessoas agem de
determinada maneira e por que tomam certas decises, importante
conhecer os padres da cultura em que esto inseridas. Ao analisarmos
alguns aspectos da cultura israelita, podemos descobrir, ento, que
determinadas atitudes dos patriarcas resultam de alguns costumes
que no entendemos bem e que poderamos facilmente interpretar
erroneamente. Na maioria das vezes, esses documentos fornecem
informaes que permitem corrigir esses equvocos. Uma das concluses
interessantes a que se pode chegar a partir desse tipo de anlise a
compreenso de que a viso de mundo dos patriarcas e de suas famlias
se diferenciava muito pouco da viso comum das culturas do antigo
Oriente Prximo da poca. Novamente, uma compreenso da cultura geral
pode nos ajudar a identificar quais os elementos do texto bblico
que realmente contm significado teolgico. Por exemplo, a compreenso
da prtica da '"cir cunciso dentro do contexto do antigo Oriente
Prximo pode fornecer diretrizes teis para a avaliao que fazemos
dessa prtica na Bblia. Observaes sobre o uso de tochas e incensrios
em *rituais praticados no antigo Oriente Prximo podem ser a chave
para descobrir o sentido de Gnesis 15. At mesmo a compreenso que
Abrao tinha de Deus pode ser melhor esclarecida pelas informaes
contidas em documentos do antigo Oriente Prximo. Ao nos deparamos
com tal quantidade de informao, o que nos chama a ateno a freqncia
com que Deus usa algo familiar para fazer pontes at o seu povo. A
medida que
- 21. nos familiarizamos com os hbitos, costumes e crenas do povo
de Israel, somos capazes de entender melhor o texto bblico. Por
outro lado, importante entender que os propsitos do Livro de Gnesis
ultrapassam em muito o de qualquer literatura disponvel do antigo
Oriente Prximo. O fato de existirem semelhanas no sugere, de
maneira nenhuma, que a Bblia seja simplesmente uma compilao de
segunda mo ou de segunda categoria, de textos do antigo Oriente
Prximo. Ao contrrio, as informaes relacionadas ao contexto bblico
nos ajudam a enxergar o Livro de Gnesis como uma obra teolgica
mpar, ligada a pessoas e eventos inseridos num contexto cultural e
histrico especfico. xodo O Livro de xodo contm uma rica variedade
de gneros literrios, incluindo textos narrati vos, mandamentos e
leis, alm de instrues de arquitetura, todos harmoniosamente combi
nados para narrar a seqncia de eventos que levou um povo, que se
sentia abandonado por Deus, a compreender que era o povo escolhido
de Deus. Como resultado, existem vrias fontes primrias que podem
nos servir de ajuda. Como seria esperado, o Livro de xodo apresenta
mais conexes com as fontes egpcias do que qualquer outro Livro.
Infelizmente, a incerteza quanto data dos eventos e a ausncia de
dados sobre alguns perodos relacionados histria egpcia deixam
muitas questes sem resposta. Conseqentemente, dependemos no s dos
textos de literatura histrica do Egito, mas de todas as fontes que
contm informaes geogrficas ou culturais. Conseguir localizar as
cidades e lugares mencionados no texto bblico uma tarefa difcil, de
forma que algumas dvidas permanecem; no entanto, algumas das
lacunas tm sido preenchidas gradualmente, conforme o avano das
investigaes arqueolgicas nos locais importantes. As passagens que
relatam as leis no Livro de xodo podem ser comparadas ampla
variedade de cdigos de leis da Mesopotmia, incluindo os textos das
leis *sumrias, tais como a reforma de Uruinimgina (ou Urucagina),
as leis de *Ur-Namu e as leis de *Lipite-Istar. So textos
fragmentados que datam do final do terceiro milnio e incio do
segundo milnio a.C.. Os textos mais extensos so as leis de *Esnuna
e *Hamurabi (do perodo *babilnico antigo, 18 sculo a.C.), as leis
*hititas do sculo 17 e as leis medo-assrias, do sculo 12. Essas
coletne as legais, conforme indicam os pargrafos que as introduzem,
tinham como objetivo testificar aos deuses o quanto o rei tinha
sido bem-sucedido em estabelecer e manter a justia em seu reino.
Desta forma, as leis eram elaboradas de maneira a refletir as
decises mais sbias e justas que o rei poderia imaginar. Assim como
um candidato em campanha eleitoral, em nossos dias, procura
reivindicar como sendo de sua autoria todo e qualquer projeto de
lei que possa encontrar, tambm o rei queria apresentar-se da melhor
forma possvel. Essas leis nos ajudam a enxergar que a legislao que
determinava o modelo da sociedade israelita no era to diferente, na
superfcie, daquela que teria caracterizado as sociedades assria e
babilnica. A diferena estava no fato de que para Israel, a lei era
vista como parte da revelao de Deus e de seu carter. Os babilnios
tinham proibies to severas em relao ao homicdio quanto os
israelitas, mas a diferena era que enquanto os babilnios refreavam
o impulso para cometer esse crime para no quebrar a ordem social e
os princpios da civiliza o, os israelitas refreavam seus impulsos
assassinos por saberem quem era Deus. As leis podem parecer iguais,
mas a base do sistema legal era notavelmente diferente. Para os
israelitas, *Yahweh, o seu Deus, era a origem de toda a lei e o
fundamento de todas as normas sociais. Na Mesopotmia, o rei era
investido de autoridade tanto para conceber como para estabele cer
a lei. Os deuses no tinham um padro moral, nem exigiam um
comportamento moral, embora esperassem que os humanos preservassem
os valores da civilizao e, portanto, agissem de maneira ordenada e
civilizada.
- 22. Assim, o caso em questo que a lei dada no monte Sinai no
necessariamente representa uma nova lei. Essa legislao, na verdade,
talvez fosse bem parecida com as leis sob as quais o povo de Israel
havia vivido no Egito, e era similar s leis encontradas em outras
sociedades do antigo Oriente Prximo. A novidade est na revelao de
Deus consumada atravs da institucionalizao da lei como parte da
*aliana entre Deus e Israel. A comparao da lei bblica com os cdigos
de leis do antigo Oriente Prximo pode nos ajudar a entender tanto o
conceito de lei e ordem, como seu embasamento teolgico e filosfico.
Quando chegarmos na parte do Livro de xodo relacionada construo do
tabernculo, talvez nos seja proveitoso entender o uso e a forma de
construo dos santurios (mveis ou fixos) no antigo Oriente Prximo. A
descrio detalhada dos materiais usados na construo do tabernculo
pode ser melhor entendida medida que conhecermos o valor que a
cultura atribua a esses materiais. Por exemplo, considere o valor
que nossa sociedade atribui a um casaco de pele de marta, a uma
escrivaninha de madeira de lei, a uma poltrona de couro ou a um
colar de brilhantes. Alm dos materiais, tambm valorizamos o local,
como no caso de um apartamento de cobertura, um escritrio num bom
ponto comercial ou uma casa nas monta nhas. Assim, medida que nos
familiarizarmos com os materiais e lugares valorizados pelos
antigos israelitas, poderemos avaliar o que motivou certos
detalhes. Novamente, constatare mos que em grande parte dos casos,
o motivo mais cultural do que teolgico. Uma vez que entendemos os
elementos culturais, poderemos evitar atribuir um significado
teolgico ina dequado a alguns aspectos do texto. Levtico O Livro de
Levtico contm instrues concernentes manuteno do Lugar Santo, um
local separado para a presena de Deus, incluindo detalhes do
sistema sacrificial, instrues para os sacerdotes e leis
concernentes *purificao. No mundo antigo acreditava-se que a
*impureza criava uma situao propcia possesso demonaca, assim a
*purificao precisava ser mantida, sendo obtida geralmente atravs de
um processo que envolvia certos *rituais e encantamen tos. Para os
israelitas, a *purificao era um valor positivo que inclua tanto
regras para um comportamento tico, como normas de etiqueta. O
material do antigo Oriente Prximo que melhor pode nos servir para a
compreenso do Livro de Levtico aquele que oferece informaes sobre
sacrifcios, rituais e instrues para sacerdotes e sobre o tratamento
dado *impureza. Essas informaes geralmente no esto reunidas em um
nico documento, portanto, foi preciso extrai-las de diferentes
fontes. Exis tem, no entanto, alguns textos rituais importantes que
servem como fontes significativas de informao. Embora a literatura
*hitita esteja repleta de textos relacionados aos rituais, o texto
Instrues para os Oficiais do Templo, de meados do segundo milnio,
um dos mais teis, fornecendo detalhes dos recursos que deveriam ser
usados para proteger o santurio contra invases e impedir que fosse
profanado. As fontes mesopotmicas tambm so numerosas. Os textos
maqlu contm oito tabuletas de encantamentos e uma de rituais
ligados aos encantamentos. Esses encantamentos, na maior parte,
eram uma forma de opor-se aos pode res da feitiaria. Outras
importantes sries incluem os textos shurpu, relacionados purifica
o, os textos bit rimki, relacionados abluo real e os rituais
namburbu, que visavam destruio. A maioria desses textos estava
inserida num contexto de magia e adivinhaes, em que a feitiaria, as
foras demonacas e os encantamentos representavam ameaas poderosas
so ciedade. As crenas israelitas no compartilhavam dessa cosmoviso
e seus conceitos de *pu- rificao e *impureza apresentavam diferenas
marcantes. No obstante, o estudo desse
- 23. material pode trazer tona muitas facetas da cosmoviso do
mundo antigo compartilhadas por Israel. Embora a literatura bblica
tenha eliminado o elemento mgico dos rituais, as prticas
institucionalizadas e a terminologia usada para descrev-los ainda
contm em certos aspectos, alguns resqucios da cultura mais ampla.
Certamente as crenas e os costumes israelitas estavam mais prximos
dos conceitos de ritual, magia e *purificao do antigo Oriente
Prximo, do que da nossa prpria concepo sobre rituais e magias. Por
termos uma compreenso limitada em relao viso de mundo israelita,
freqentemente somos inclinados a fazer uma leitura bastante
inadequada dos con ceitos teolgicos ou dos simbolismos de algumas
de suas prticas e regras. Essa atitude, muitas vezes, acaba gerando
uma viso equivocada da natureza e dos ensinamentos contidos no
Livro. Ao tomarmos conhecimento da viso de mundo do antigo Oriente
Prximo, pode mos evitar esse tipo de erro e ter uma compreenso do
texto mais prxima da maneira como os israelitas o entendiam. Nmeros
O Livro de Nmeros contm instrues para a jornada do povo pelo
deserto e sobre como erguer um acampamento, bem como registros dos
eventos que aconteceram durante aproxi madamente os quarenta anos
que o povo de Israel passou no deserto, alm de incluir uma srie de
trechos sobre rituais e leis. Vrias fontes que auxiliam o
entendimento dos Livros de xodo e Levtico tambm fornecem informaes
sobre o contexto do Livro de Nmeros. Alm disso, itinerrios
encontrados em documentos egpcios podem ajudar a localizar diver
sos lugares alistados durante a peregrinao de Israel. Esses
itinerrios encontram-se em uma srie de documentos distintos,
incluindo os Textos da *Abominao ou Execrao (onde os nomes de
certas cidades eram escritos em vasos que eram espalhados em
rituais de maldio; 12aDinastia, Idade d&Bronze *Mdia) e as
listas topogrficas esculpidas em relevo nas pare des dos templos,
como em Karnak e Medinet Habu (Idade do Bronze Moderna). Esses
regis tros apresentam mapas em forma de listas, permitindo
encontrar o nome de cada cidade de acordo com o itinerrio da
viagem. interessante que alguns lugares bblicos, cuja existncia
colocada em dvida por alguns arquelogos pela ausncia de vestgios
desse perodo no local, so citados nos itinerrios egpcios dessa
mesma poca. Nmeros, como outros Livros do Pentateuco, contm
informaes sobre o calendrio ritual de Israel. Essas informaes sobre
festas e rituais so abundantes no antigo Oriente Prximo, porque os
calendrios geralmente eram determinados pelos sacerdotes. No entan
to, difcil deslindar alguns detalhes importantes de suas prticas e,
principalmente, descobrir o que est por trs da formao das tradies
institucionalizadas nesses calendrios. Embora haja evidncias da
existncia de trocas culturais ou mesmo dependncia em muitas reas,
arriscado tentar estabelecer alguma relao entre festivais de
diferentes culturas. Deuteronmio O Livro de Deuteronmio acompanha o
formato dos acordos entre as naes, conforme descrito na nota de
rodap intitulada "A Aliana e os Tratados no Antigo Oriente Prximo".
Nesses pactos da Antigidade, o trecho mais longo geralmente tratava
das condies do acordo e detalhava as obrigaes do vassalo, incluindo
o que se esperava dele, de modo geral, - lealdade, por exemplo -,
assim como alguns itens mais especficos, tais como paga mento de
impostos e prover alojamento para as tropas que ocupavam o
territrio. No era permitido ao vassalo dar acolhida a fugitivos nem
fazer alianas com outras naes. Alm
- 24. disso, ele tambm era obrigado a colaborar para a defesa da
nao suserana e honrar seus representantes. Em Deuteronmio, as
clusulas so apresentadas na forma de leis, que detalham tanto as
obrigaes como as proibies. Alguns estudiosos acreditam que as leis
apresentadas nos captulos 6 a 26 (ou 12 a 26) esto organizadas de
acordo com os Dez Mandamentos. Assim como os antigos cdigos de leis
tinham um prlogo e um eplogo, a fim de lhes conferir uma estrutura
literria (ver a introduo a xodo), aqui a aliana que concede lei
mosaica uma estrutura literria. A estrutura literria das leis de
*Hamurabi nos ajuda a entender que esse cdigo de leis no foi
planejado apenas para estabelecer regras, mas para demonstrar o
quanto o reinado de Hamurabi era justo. Do mesmo modo, a estrutura
literria de Deuteronmio nos permite ter uma idia do porqu dessas
leis terem sido compiladas. A lei apresentada no Livro de
Deuteronmio no como um conjunto de regras, mas como uma *aliana.
Quando os povos do antigo Oriente Prximo concordavam com um
tratado, eram obri gados a submeter-se aos termos e condies desse
tratado. Seria o mesmo nvel de obrigao relacionado s leis de uma
nao, mas a diferena est na maneira como fun9 ciona, pois no est
inserida no sistema legal. Por exemplo, no mundo moderno cada pas
tem suas prprias leis, aprovadas pelos rgos legislativos, e que
devem ser obedecidas pelos cidados daquele pas. Mas existem tambm
leis internacionais que, em parte, foram estabelecidas por rgos
mundiais, muitas vezes como resultado de acordos ou tratados. Essas
leis internacionais devem ser obedecidas pelas partes envolvidas no
acordo. O tipo de compromisso exigido em Deuteronmio est mais
ligado ao tratado do que lei (ou seja, mais ligada aliana do que s
leis). Isso significa que as obrigaes do povo de Israel estavam
relacionadas ma nuteno do relacionamento disposto na aliana. Se
eles fossem realmente o povo de Deus (da aliana), deveriam se
conduzir de acordo com as normas apresentadas (clusulas). Assim, no
devemos entender essas leis como sendo apenas um conjunto de regras
para a nao (embora elas tenham sido). Os israelitas no deveriam
cumprir a lei apenas por obedincia lei, mas sim por ela ser um
reflexo da natureza e do carter de Deus. A lei revelava o que Deus
esperava dos israelitas como seu povo e como eles deveriam
obedec-lo para desfrutarem de um relacionamento com Ele. Uma
caracterstica adicional do Livro de Deuteronmio o fato dele se
apresentar na forma de exortaes de Moiss ao povo. Conseqentemente,
Moiss visto como o media dor da aliana, pois como mensageiro ou
representante de Deus, ele quem determina os termos do tratado. Nos
tratados *hititas, consideravam-se apenas as determinaes firmadas
pelo acordo, sem dar importncia pessoa que enunciara os termos do
tratado. Outros textos, porm, nos ajudam a entender melhor o papel
do mediador. De modo geral, o mediador apresentava sua mensagem
verbalmente, mas possua tambm uma cpia escrita para fins de
documentao e registro. As palavras de Moiss advertindo o povo a ser
leal aos termos da aliana seguem a mesma linha daquilo que se
esperava de um representante real. O vassalo deveria considerar um
privilgio poder participar do acordo, portanto, deveria ser
prudente e refrear qualquer ao que pudesse colocar em risco esse
privilgio.
- 25. G N E S I S v 1 .1- 2.3 Criao 1.1. no princpio. Um texto
egpcio de Tebas, ao refe rir-se criao, fala do deus Amon que, no
princpio, ou "na primeira ocasio", expandiu-se. Os egiptlo- gos
interpretam essa expresso no como uma idia abstrata, mas como uma
referncia a um evento que aconteceu pela primeira vez. Do mesmo
modo, a pa lavra hebraica traduzida como "princpio" geralmen te
refere-se no a um determinado ponto no tempo, mas a um perodo
inicial. Isso sugere que o perodo inicial so os sete dias do
captulo um. 1.2. sem forma e vazia. Na concepo egpcia sobre as
origens, o conceito de "inexistente" pode ser bastante prximo a
essa expresso encontrada em Gnesis. a idia de algo que ainda no foi
diferenciado, ao qual no foi atribuda funo, e cujos limites e
definies ainda no foram estabelecidos. O conceito egpcio, porm, tam
bm traz a idia de potencialidade e a qualidade de um ser absoluto.
1.2. o Esprito de Deus. Alguns hermeneutas traduzi ram essa
expresso como um vento sobrenatural ou impetuoso (a palavra
hebraica traduzida como "Esp rito" s vezes traduzida como "vento"
em outras passagens), que tem um paralelo no Enuma Elish babilnico.
Nesse texto, o deus do cu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as
profundezas e sua deu sa, Tiamat. Nesse caso, um vento rom pante
que provoca agitao. O mesmo fenmeno pode ser visto na viso de
Daniel sobre os quatro animais, em que "os quatro ventos do cu
agitavam o Grande M ar" (7.2), causando perturbao aos animais. Se
esse em prego do termo estiver correto, ento o vento seria parte da
descrio negativa do versculo 2, em parale lo com as trevas. 1.1-5.
a tarde e a manh. O relato da criao no tem a pretenso de apresentar
uma explicao cientfica moderna sobre a origem de todos os fenmenos
natu rais, e sim abordar os aspectos mais prticos da criao que
cercam nossas experincias de vida e sobrevivn cia. Ao longo deste
captulo, o autor narra como Deus instituiu perodos alternados de
luz e trevas - a base do tempo. A narrativa m enciona prim eiram
ente a tarde, porque o primeiro perodo de luz est se fin dando. O
autor no se aventura num a anlise das propriedades fsicas da luz,
nem est preocupado com sua fonte ou energia geradora. A luz o que
regula o tempo. 1.3-5. luz. Os povos do mundo antigo no acredita
vam que a luz se originasse do Sol. Na poca, desco nhecia-se o fato
de que a lua simplesmente reflete a luz do Sol. Alm do mais, no h
nenhum indcio no texto de que a "luz do dia" fosse causada pela luz
do Sol. O Sol, a Lua e as estrelas eram vistos como porta dores de
luz, mas a luz do dia estava presente mesmo quando o sol estava
atrs das nuvens ou num eclipse. Ela chegava antes do nascer do sol
e permanecia aps o pr-do-sol. 1.6-8. firm am ento. De maneira
semelhante, a exten so (s vezes chamada de "firmamento") instituda
no segundo dia o regulador do clima. As culturas do antigo Oriente
Prxim o entendiam o cosmos como uma estrutura composta por trs
camadasios cus, a terra e o m undo inferior. O clima se originou
nos cus, e a extenso era considerada o mecanismo que controlava a
umidade e a luz do sol. Embora no mun do antigo a extenso
geralmente fosse concebida de maneira mais concreta do que a
entendemos hoje, no a sua composio fsica que realmente importa, mas
sim sua funo. No pico babilnico da criao, Enuma Elish, a deusa que
representava esse oceano csmico, Tiamat, dividida em duas por
Marduk para formar as guas acima do firmamento e as guas que
ficavam debaixo. 1.9-19. funo do cosmos. Assim como Deus quem
estabelece o tempo e determina o clima, Ele tambm responsvel por
estabelecer todos os outros aspectos da existncia humana. A
disponibilidade de gua e a capacidade da terra produzir vegetao; as
leis da agricultura e os ciclos das estaes; o desempenho especfico
de cada uma das criaturas de Deus - tudo isso foi ordenado por
Deus. E tudo era bom, no tir nico ou ameaador. Isso reflete o
entendimento antigo de que os deuses eram responsveis por
estabelecer um sistema de operaes. O funcionamento do cos mos era
muito mais importante s pessoas do mundo antigo do que sua forma
fsica ou composio qumi ca. Elas descreviam o que viam, e o mais
importante, aquilo que experim entavam do m undo criado por Deus. O
fato de que tudo foi considerado "bom ", reflete a sabedoria e
justia de Deus. Ao mesmo tem po, o texto mostra algumas sutis
discordncias com a concepo do antigo Oriente Prximo. O mais notvel
o fato da narrativa evitar o uso das palavras sol e lua, que eram
os nomes das divindades correspondentes
- 26. entre os povos vizinhos de Israel; e em vez disso,
refere-se a eles como luminares maior e menor. 1.14. sinais para m
arcar estaes, dias e anos. No prlogo de um tratado astrolgico dos
sumrios, os deuses principais, An, Enlil e Enki, posicionam a lua e
as estrelas a fim de determinar dias, meses e press gios. No famoso
Hino Babilnico a Shamash, o deus sol, tambm se faz meno a seu papel
de controlar as estaes e o calendrio de modo geral. intrigante que
ele seja tam bm o patrono da adivinhao. A palavra hebraica usada
para "sinal" tem um cognato na palavra acadiana usada para
pressgios. A pala vra hebraica, no entanto, tem um sentido mais neu
tro, e novam ente o autor esvazia os elem entos do cosmos de seus
traos mais personificados. 1.20. rpteis de alma vivente (ARC). No
Hino Babil nico a Shamash, o deus sol recebe louvor e honra at
mesmo dos piores grupos. Includos na lista esto os temveis monstros
do mar. Logo, o hino sugere que h uma submisso total de todas as
criaturas para com Sham ash, exatam ente como o relato da criao do
Gnesis mostra que todas as criaturas feitas por Yahweh esto
submissas a Ele. O mito de Labbu registra a criao da serpente do
mar, cujo comprimento era de sessenta lguas. 1.20-25. categorias de
animais. As categorias de ani mais incluem diversas espcies: seres
que vivem nas guas, aves, criaturas que vivem na terra, subdividi
das em animais domsticos e selvagens e ainda "cria turas que se
arrastam no solo" (talvez os rpteis e/ou anfbios) e, por ultimo, os
seres humanos. Os insetos e o mundo das criaturas microscpicas no
so mencio nados, mas as categorias so abrangentes o suficiente para
inclui-los. 1.26-31. fu no das p essoas. Em bora o enfoque
organizacional ou funcional do relato da criao tenha semelhanas com
a perspectiva do antigo Oriente Pr ximo, a razo subjacente bastante
diferente. No an tigo Oriente Prximo, os deuses criaram o mundo
para seu prprio deleite e para nele viverem . As pessoas foram
criadas apenas como uma deciso de ltima hora, quando os deuses
precisaram de traba lho escravo para suprir as comodidades da vida
(por exemplo, abrir sulcos de irrigao). Na Bblia, o cos mos foi
criado e organizado para funcionar a servio das pessoas,
idealizadas por Deus como pea central da sua criao. 1.26-31. criao
da humanidade nos mitos do antigo Oriente Prximo. Nos relatos sobre
a criao da anti ga Mesopotmia, uma populao inteira j civilizada
criada por meio de uma mistura de argila e sangue de um deus
rebelde. Essa criao acontece como resul tado do conflito entre os
deuses, obrigando o deus organizador do cosmos a controlar as foras
do caos, trazendo assim a ordem ao mundo criado. O relato do Gnesis
retrata a criao no como parte de um confli to entre foras
oponentes, mas como um processo de terminado por Deus, controlado e
sereno. 1.26, 27. im agem de Deus. Quando Deus criou o ho mem,
colocou-o como responsvel por toda a criao. Ele foi feito sua
imagem e semelhana. No mundo antigo, acreditava-se que uma im agem
continha a essncia do que representava. A im agem de uma divindade,
mesma terminologia aqui empregada, era usada na adorao porque
continha a essncia daque la divindade. Isso no significava que a
imagem pu desse fazer o mesmo que a divindade, nem que se parecesse
com ela. Ao contrrio, a obra da divindade era desempenhada atravs
do dolo. De modo seme lhante, a obra de governar o mundo deveria
ser de sempenhada pelo homem, criado imagem de Deus. Mas isso no
tudo. Gnesis 5.1-3 compara a imagem de Deus em Ado imagem de Ado em
Sete. Isso ultrapassa a noo de plantas e animais se reprodu zindo
de acordo com sua espcie, embora certamente os filhos compartilhem
das caractersticas fsicas e da natureza bsica (geneticamente) de
seus pais. A rela o entre a imagem dos dolos e a imagem dos filhos
o conceito de que a imagem capacita a criatura no apenas para
servir no lugar de Deus (representando- o com sua essncia), mas
tambm para ser e agir como Ele. As ferramentas que Ele providenciou
para que pudssemos dar conta dessa tarefa incluem a consci ncia ou
razo, a autopercepo e o discernimento espiritual. As tradies
mesopotmicas falam de fi lhos imagem de seus pais (*Enuma Elish),
mas no falam de seres humanos criados imagem de Deus; mas o texto
egpcio, as Instrues de M erikare, identifi ca a humanidade como
formada por imagens de Deus, de cujo corpo se originaram. Na
Mesopotmia, pode- se apreender um significado para imagem no costu
me que os reis tinham de erigir imagens de si mes mos em lugares
onde queriam estabelecer sua autori dade. A parte disso, apenas
outros deuses so feitos imagem dos deuses (ver comentrio em 5.3).
2.1-3. descanso no stimo dia. No relato egpcio da criao, em Mnfis,
o deus criador Ptah descansa, aps terminar sua obra. A criao dos
humanos pelos deu ses da Mesopotmia tambm acompanhada de des canso.
Na Mesopotmia, porm, os deuses descansam porque as pessoas foram
criadas para fazer o trabalho outrora feito por eles. No obstante,
o desejo de des cansar um dos elementos motivadores dessas narra
tivas da criao. A destruio ou o controle de foras csmicas caticas,
que constitui com freqncia a par te central das narrativas da criao
do mundo antigo, culmina no descanso, na paz ou repouso dos deuses.
Do mesmo modo, o Dilvio resultado da impossibi
- 27. lidade de os deuses encontrarem descanso em meio ao barulho
e tumulto causados pela humanidade. Em todos os relatos, fica
evidente que as ideologias anti gas consideravam o descanso como um
dos principais objetivos dos deuses. Na teologia israelita, Deus no
precisa descansar por causa de certos incmodos csmi cos ou
provocados pelo homem, mas Ele busca des canso em um lugar de
repouso (ver especialmente SI 132.7, 8, 13, 14). 2.1. o sbado como
divisor do tempo. O costume de dividir o tempo em perodos de sete
dias ainda no foi comprovado nas demais culturas do antigo Oriente
Prximo, embora na Mesopotmia alguns dias parti culares do ms eram
considerados de mau agouro, e freqentemente ocorriam com um
intervalo de sete dias (ou seja, o stimo, o dcimo quarto dia do ms,
etc.). A celebrao do sbado em Israel no estava determinada a certos
dias do ms, nem estava ligada aos ciclos da lua ou a qualquer outro
ciclo da natureza; simplesmente era celebrado a cada sete dias. 2
.4 -2 5 O homem e a mulher no jardim 2.5. categorias de plantas.
Encontramos apenas des cries gerais de plantas. rvores, arbustos e
plantas so mencionadas, mas nenhum gnero especfico. Sa bemos, porm,
que as principais rvores encontradas no Oriente Prximo eram a
accia, o cedro, o cipreste, a figueira, o carvalho, a oliveira, a
tamareira, a rom- zeira, a tamargueira e o salgueiro. Os arbustos
inclu am o oleandro e o junpero. Os principais gros culti vados
eram o trigo, a cevada e a lentilha. A descrio das plantas nesse
versculo difere daquela do terceiro dia em que so mencionadas
plantas cultivadas e r vores frutferas. No se trata, porm, de um
perodo anterior ao terceiro dia, mas sim ao fato de que ainda no
havia a prtica da agricultura. 2.5. descrio das condies. Um texto
de Nippur apre senta o cenrio da criao dizendo que as guas no ti
nham ainda jorrado pela abertura da terra e que nada crescera e
nenhuma poro de terra fora lavrada. 2.6. sistem a de irrigao. A
expresso usada para descrever o sistema de irrigao no versculo 6
("bro tava gua da terra") de difcil traduo, aparecendo apenas em J
36.27. Uma palavra semelhante aparece no vocabulrio *babilnico
originado do *sumrio, numa meno ao sistema subterrneo de guas, os
lenis de gua que deram origem aos rios. O mito sumrio de *Enki e
Ninhursag tambm menciona um sistema de irrigao semelhante. 2.7. o
homem do p da terra. A criao do primeiro homem do p da terra
semelhante ao que encontra mos na mitologia do antigo Oriente
Prximo. O pico Atrahasis retrata a criao da humanidade feita de
argila misturada ao sangue de uma divindade. As sim como o p na
Bblia representa o que o corpo se torna na morte (Gn 3.19), a
argila, no pensamento *babilnico, era o que o corpo voltava a ser.
O sangue da divindade representava a essncia divina na hu manidade,
um conceito semelhante ao sopro de vida que Deus colocou em Ado. No
pensamento egpcio, as lgrimas dos deuses so misturadas argila para
formar o homem, embora as Instrues de M erikare tambm mencionem
deus soprando a vida no nariz do homem. 2.8-14. localizao do den.
Com base na proximida de dos rios Tigre e Eufrates, e na lenda
*sumria da terra mstica e utpica de *Dilmun, muitos eruditos
identificam o den como um lugar situado na extre m idade norte do
golfo Prsico, ou prxim o dali. *Dilm un foi identificado com a ilha
de Bahrain. A posio "no lado oriental", simplesmente indica a rea
geral da M esopotmia e uma referncia bastante tpica das narrativas
primitivas. Essa indicao soma da direo do curso dos rios (a
localizao dos rios Pisom e Giom incerta), levou alguns estudiosos a
considerar a regio da Armnia, perto da nascente dos rios Tigre e
Eufrates, como o den. No entanto, as caractersticas de um jardim
bem irrigado, onde as pessoas no executam nenhum trabalho, ou muito
pouco, e onde a vida brota sem necessidade de cultivo se encaixam s
reas pantanosas na base do golfo, e podem at mesmo ser uma rea hoje
coberta pelas guas. 2.8. um "jardim no den". A palavra den
refere-se a um lugar bem irrigado, sugerindo um bosque exube rante.
A palavra traduzida como "jardim " no se refe re necessariamente a
canteiros de plantas, mas a po mares ou bosques arborizados. 2.9.
rvore da vida. A rvore da vida retratada em outras partes da Bblia
como provedora da continuida de da vida (Pv 3.16-18), sendo que s
vezes ela vista como possuidora de qualidades rejuvenescedoras. Di
versas plantas com tais qualidades so conhecidas no antigo Oriente
Prximo. No pico de Gilgams cita da uma planta chamada "o homem
velho torna-se jo vem ", que cresce no fundo do rio csmico. As
rvores geralmente ocupam um espao proeminente na arte do antigo
Oriente Prximo e em selos cilndricos. Elas tm sido interpretadas
freqentemente como representando a rvore da vida, mas tal
interpretao necessita de mais apoio na literatura para ser
confirmada. 2.11.Pisom. Anlises de amostras do solo da Arbia
Saudita e fotos de satlite ajudaram a identificar o antigo leito de
um rio que corria em direo ao nor deste pela Arbia Saudita, desde
as montanhas Hijaz, perto de Medina, at o golfo Prsico, no Kuait,
prxi
- 28. mo da foz dos rios Tigre e Eufrates, que poderia muito bem
ser o rio Pisom. 2.11. Havil. Talvez pelo fato de se mencionar a
pre sena de ouro em Havil, essa localidade seja men cionada em
diversas outras passagens (Gn 10.7; 25.18; 1 Sm 15.7; IC r 1.9).
Sua localizao tem sido freqen temente apontada como na parte
ocidental da Arbia Saudita, perto de Medina, ao longo do mar
Vermelho, uma regio que produz ouro, bdlio e nix. Gnesis 10.7
descreve Havil como "irm o" de Ofir, uma re gio tambm conhecida por
suas ricas jazidas de ouro. 2.21,22. costela. O fato de Eva ter
sido criada de uma costela de Ado pode ser melhor esclarecido pelo
co nhecimento da lngua *sumria. A palavra sumria para costela ti. E
interessante saber que ti significa "vida", exatamente o mesmo
significado de Eva (3.20). Outros sugeriram que pode haver uma
relao com a palavra egpcia imw, que significa argila (de onde o
homem foi criado) ou costela. 2.24. o homem deixar pai e me. Essa
afirmao constitui uma narrativa parte, acrescentando um comentrio
sobre o aspecto social da vida das pessoas nas pocas posteriores. A
histria da criao de Eva usada como base para o princpio legal da
separao das famlias. Quando se efetivava um casamento, a esposa
deixava seus pais e juntava-se famlia de seu marido. Dessa maneira,
novos compromissos de leal dade eram estabelecidos. Alm do mais, a
consuma o do casamento est associada aqui idia do casal tomando-se
uma s carne, assim como Ado e Eva originaram-se de um mesmo corpo.
A afirmao de que o homem deixar sua famlia no se refere neces
sariamente a um costume social especfico, mas ao fato de que, nesse
captulo, o homem que busca uma companheira. Tambm pode ser
referncia ao fato de que as cerimnias de casamento, incluindo a
noite de npcias, em geral aconteciam na casa dos pais da noiva.
3.1-24 A queda e suas conseqncias 3.1. o significado das serpentes
no mundo antigo. Desde h muito foi comprovado que a serpente uma
personagem significativa na arte e na literatura do antigo Oriente
Prximo. Talvez por seu veneno ser uma ameaa vida e seus olhos
desprovidos de pl pebra oferecerem uma imagem enigmtica, a serpen
te tem sido associada tanto morte quanto astcia. O relato do Gnesis
evoca esses dois aspectos no astuto dilogo entre Eva e a serpente e
na introduo da morte, aps a expulso do den. Semelhantemente,
*Gilgams perde a chance de ser jovem para sempre quando uma
serpente o engana e come uma planta mgica que ele retirara do fundo
do mar. A imagem sinistra da serpente est graficamente representada
nas curvas entrelaadas de uma cobra cingindo a tri buna de uma
seita em Bete-Shean. Seja como repre sentante do caos primitivo
(*Tiamat ou *Leviat), seja como um smbolo da sexualidade, a
serpente abriga mistrios para os seres humanos. Um personagem
particularmente interessante o deus *sumrio Nin- gishzida,
retratado na forma de serpente e cujo nome significa "Senhor da
Arvore Produtiva/Imutvel". Ele era considerado um governante do
mundo dos mor tos e "o possuidor do trono da terra", sendo uma das
deidades que ofereceram o po da vida a *Adapa (ver prximo
comentrio). Mesmo quando no estava rela cionada a nenhum deus, a
serpente representava as tcia (saber oculto), *fertilidade, sade,
caos e imorta lidade, e era, com freqncia, adorada. 3.2-5. a tentao
de ser como Deus. A aspirao posio de divindade assim como o relato
de oportu nidades perdidas de se igualar aos deuses aparece de
forma proeminente em alguns mitos antigos. Na len da de *Adapa, uma
oferta do "alimento da vida" foi inadvertidamente recusada. Adapa,
o primeiro dos sete sbios antediluvianos, estava envolvido em le
var as artes da civilizao primeira cidade, Eridu. A MITOLOGIA DO
ANTIGO ORIENTE PRXIMO E O ANTIGO TESTAMENTO No mundo antigo, a
mitologia ocupava o lugar hoje ocupado pela cincia no mundo moderno
- ou seja, fornecia a explicao sobre a criao e o funcionamento do
mundo. A abordagem mitolgica procura identificar a funo como
conseqncia de um propsito. Os deuses tinham propsitos e suas
atividades eram a causa daquilo que os humanos consideravam como
efeitos. Em contraste, a abordagem cientfica moderna identifica as
funes como conseqncia das estruturas e busca entender as relaes de
causa e efeito, baseando-se em leis naturais que esto ligadas
estrutura, ou s partes que compem um fenmeno. Visto que nossa
cosmoviso cientfica tem um grande interesse pelas estruturas,
geralmente nos dirigimos ao relato bblico procurando encontrar
informaes sobre as estruturas. Nessa rea, porm, a cosmoviso bblica
mais pare cida com a de seus contemporneos do antigo Oriente
Prximo, isto , nela a funo concebida como uma conseqncia do
propsito. E disso que trata o primeiro captulo do Livro de Gnesis -
e por isso h pouco interesse nas estruturas. Essa apenas uma das
muitas reas em que a compreenso da cultura, da literatura e da
cosmoviso do antigo Oriente Prximo pode nos ajudar a entender a
Bblia, j que apontam para a verdade nela contida. Muitos paralelos
podem ser identificados entre a mitologia do antigo Oriente Prximo
e passagens e conceitos do Antigo Testamento. Isso no quer dizer
que o Antigo Testamento deva ser considerado simplesmente como mais
um exemplo de mitologia antiga ou derivado daquela literatura. A
mitologia serve como uma janela para a cultura, refletindo a
cosmoviso
- 29. Como pescador, foi carregado certo dia, pelo vento sul,
numa infeliz aventura que ocasionou seu encon tro com o deus
superior, Anu. Dando ouvidos aos conselhos do deus *Ea, Adapa
recusou a comida ofere cida pelo deus Anu, descobrindo depois que
aquele alimento lhe daria imortalidade. A vida eterna tam bm escapa
a *Gilgams. No famoso pico que conta sua histria, a morte de seu
amigo Enkidu o faz sair em busca da imortalidade, que ele descobre
ser ina tingvel. Nesses dois relatos, ser como os deuses signi fica
atingir a imortalidade, enquanto que, no relato bblico, ser como
Deus entendido como obter a mes ma sabedoria de Deus. 3.7.
significado das folhas de figueira. As folhas de figueira so as
maiores encontradas em Cana e pode riam fornecer uma cobertura
limitada ao envergo nhado casal. O significado do uso da folha de
figueira pode residir em sua sim bologia de fertilidade. Ao comer
do fruto proibido, o casal deu inicio a seu papel como pais e como
cultivadores de rvores frutferas e gros. 3.8. soprava a brisa do
dia. A terminologia *acadiana demonstrou que a palavra traduzida
como "d ia" tam bm tem o significado de "tempestade". Esse signifi
cado tambm pode ser encontrado na palavra hebraica citada em
Sofonias 2.2. uma expresso freqente mente relacionada a uma
tempestade trazida como castigo por alguma divindade. Se essa a
traduo correta da palavra nesta passagem, eles ouviram o trovo (a
palavra traduzida para "voz" muitas ve zes relacionada a trovo) do
Senhor que se movia no jardim com o vento da tempestade. Nesse caso
bas tante compreensvel o fato de terem se escondido. 3.14.comer p.
A descrio de p ou poeira como alimento tpica das descries do mundo
dos mortos na literatura antiga. No pico de Gilgams, em seu leito
de morte, Enkidu sonha com o mundo inferior e o descreve como um
lugar de trevas, onde o "p seu alimento, a argila, o seu po", uma
descrio tambm conhecida no Descendentes de Istar. So
caracterst